Thursday, October 30, 2008

Eric Hobsbawn em entrevista à BBC sobre a crise financeira

Mensagem enviada pelo Professor Valverde - sobre a crise financeira.

"Caros Alunos,
Se puderem, leiam Eric Hobsbawn em entrevista à BBC sobre a crise financeira, em anexo.
Abraços,
Valverde"

BBC Brasil21 de outubro, 2008 - 13h50 GMT (11h50 Brasília)
Crise expõe perigo de fortalecimento da direita, diz Hobsbawm
O britânico Eric Hobsbawm, considerado um dos historiadores mais influentes do século 20, disse à BBC nesta terça-feira que o maior perigo da atual crise financeira mundial é o fortalecimento da direita.
“A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita”, disse Hobsbawn, em entrevista à Rádio 4.
O historiador marxista comparou o atual momento “ao dramático colapso da União Soviética” e ao fim de “uma era específica”.
“Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.”
Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”.
Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?
Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: O capitalismo em convulsão. Há muito tempo não lia um título como esse no FT.
Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram.
Porque como Marx, Engels e Schumpter previram, a globalização - que está implícita no capitalismo -, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises.
E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de (John Maynard) Keynes e menos de (Milton) Friedman e (Friedrich) Hayek.
Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante.
Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora.
E em relação ao Estado como redistribuidor? O que tem sido feito até agora parece mais pragmático do que ideológico...
Acho que continuará sendo pragmático. O que tem acontecido nos últimos 30 anos é que o capitalismo global vem operando de uma forma incrivelmente instável, exceto, por várias razões, nos países ocidentais desenvolvidos.
No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderia levar a catástrofes a curto prazo. E para nós isto implicava quedas tremendas do FTSE (índice da bolsa de Londres), mas seis meses depois, recomeçávamos de novo.
Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo e ainda mais depois de tudo, da forma com a qual o capitalismo se reformou durante e depois da guerra sob o princípio de “nunca mais” aos riscos dos anos 30.
O senhor viu esses riscos se tornarem realidade: estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?
Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo.
Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece.
A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.
O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989?
Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente.
Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias.
Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.
O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?
Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises”.
Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante.
O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?
Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia).
Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado.
O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados.
Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos.
Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média.
Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelmente superior a qualquer outro lugar do mundo.
E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.

Caro leitor boa reflexão!

Wednesday, October 15, 2008

PUC-SP: convergir para mudar

CARTA DO PROFESSOR VALVERDE DE APOIO AO PROFESSOR FÁBIO GALLO – NA DEMOCRACIA VIGORA A LIBERDADE, O ESPÍRITO PÚBLICO, A ESCOLHA E A OPÇÃO COM RESPEITO PELO SEU CANDIDATO SEM BAIXARIA – TRISTE FOI OBSERVAR NA PUC-SP CARTAZES PICHADOS ... IMATURIDADE POLÍTICA E MÁ FÉ NO EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO E REPUBLICANO. PARABÉNS PROFESSOR VALVERDE – PELA POSIÇÃO E APOIO AO PROFESSOR FÁBIO GALLO.

PUC-SP: convergir para mudar

Antonio José Romera Valverde [1]

Há exatos 28 anos a PUC de São Paulo, com liberdade rara no ambiente acadêmico brasileiro, realiza eleições diretas para escolha de Reitor, com participação de alunos, professores e funcionários. Entre os dias 21 e 24 deste mês, o rito democrático se repetirá, com uma novidade: mais do que a escolha do Reitor e, também do Vice-Reitor, estarão em jogo o futuro daquela que é uma das mais conceituadas universidades brasileiras, seja pelo papel que sempre desempenhou na vida do país, com intransigente defesa da democracia, seja pelo seu nível acadêmico, reconhecido internacionalmente.

O que está acontecendo? A PUC-SP encontra-se sitiada por dívidas. São, praticamente, R$ 103 milhões, se o cálculo restringir-se ao passivo bancário. Se somados os impostos e o passivo trabalhista, o valor ultrapassa o patamar dos R$ 300 milhões. Na realidade, é uma dívida móvel que não se tem ainda um cálculo exato, mas a verdade é que a cifra em foco pode ser considerada conservadora. Há pouco menos de uma década, o endividamento bancário somava mais ou menos R$ 24 milhões e as dívidas relativas a impostos e responsabilidades trabalhistas eram muito menores.

Pois bem, entre março de 1999 e abril de 2000 um especialista em gestão, engenheiro com doutorado em finanças, ocupou o cargo de Vice-Reitor e reduziu o endividamento bancário para R$ 14 milhões, restituindo as linhas de crédito junto aos bancos. Estranhamente, foi afastado e, desde então, as dívidas vêm se multiplicando. O nome deste gestor é Fábio Gallo que agora disputa a Reitoria com outros três candidatos. A diferença é que ele tem uma plataforma que une a refundação do modelo de gestão da PUC-SP com um impulso renovador no campo acadêmico.

Além disso, Gallo transita com desenvoltura nas diferentes áreas da Universidade, inclusive junto à Igreja que, não se pode negar, é quem detém o controle da PUC-SP. Esse aspecto é relevante sob qualquer ângulo que se avalie. Significa, em parte, que haverá sintonia quanto a qualidade de gestão e da escolha dos caminhos certos para superação da crise financeira. Em parte, significa também, a preservação de um bem maior da PUC-SP: a liberdade acadêmica. Aliás, vale registrar, a Igreja de São Paulo sempre incentivou e alinhou-se a esse princípio fundamental para o ensino e a pesquisa na Universidade. Nela, todas as correntes políticas, mesmo nos anos de chumbo do regime militar, sempre tiveram voz e representatividade. A liberdade acadêmica tornou-se assim um valor soberano.

Não é, fora de dúvida, o que está em questão. O ponto central, na atualidade, é a capacidade de unir esses valores – liberdade e excelência acadêmicas – ao projeto de gestão. Essa convergência é vital e torna-se incontornável. Se olharmos o ambiente do ensino universitário, é fácil constatar que a PUC-SP, em termos de qualidade, disputa lado a lado a liderança com as melhores universidades do Brasil. Mas, se o tema for a infra-estrutura, as contas a pagar e os horizontes de investimento, a posição no ranking está muito distante do mínimo razoável. Perdemos posições nesse terreno estratégico. O que isto significa? Que a qualidade do ensino encontra-se seriamente ameaçada. Porém, para extrema felicidade, a Professora Maria Margarida Cavalcanti Limena, socióloga por formação, estudiosa da teoria da complexidade, é candidata a Vice-Reitora, e tem conciliado uma carreira acadêmica notável com a Direção da Centro de Ciências Humanas (2005-2008) e a Direção da Faculdade de Ciências Sociais (2001-2005).

É, portanto, o momento de construir a convergência. De explicitar os conflitos latentes, mantendo a fidelidade ao que existe de melhor nos valores republicanos, e, ao mesmo tempo, pensar grande, mas com coerência, competência e visão de futuro. Não se trata apenas de uma disputa entre plataformas concorrentes, mas entre os que sabem e podem fazer melhor e aqueles que apenas vestem os trajes cintilantes de uma concepção idealista – meritória, sem dúvida -, mas sem a vivência prática do que é gerir uma organização em crise. Crise, vale assinalar, são para especialistas, não para aprendizes.

Essa peculiaridade é que será o motor da mudança. Não se pode esquecer, nesse contexto, que a PUC paulistana possui um ativo de inestimável valor: sua marca. Se revitalizada, se alicerçada na convergência entre a gestão e seu patrimônio acadêmico, se soerguerá ainda mais vigorosa do que foi no passado. Será uma questão de tempo, mas o momento inicial, o verdadeiro ponto de partida, encontra-se nas eleições que se aproximam. A sociedade precisa acompanhá-la com interesse porque, afinal, a PUC de São Paulo, mais do que uma organização de ensino, pesquisa e prestação de serviços, pertencente à Igreja, aos estudantes, aos professores e aos funcionários, é um ícone, um patrimônio essencial do país. E essa nuança que faz, neste ano, as eleições para Reitor um fato relevante, um tema que transcende os campi e o universo acadêmico.



________________________________________1] Professor do Departamento de Filosofia da PUC-SP e Coordenador da campanha eleitoral “Fábio Gallo – Margarida Limena”, gestão 2008-2010. www.puchoje.com.br

Militares, ciências, Educação Popular.

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