Tuesday, January 13, 2009

Em alguns momentos precisamos suspender o juízo para não dizer tagarelice

Precisamos ter cautela, prudência e um pouco de ceticismo em relação às informações sobre o conflito no Oriente Médio – pois existe um jogo de informações manipuladas por visões e interpretações equivocadas por historiadores – “especialistas no assunto” carregadas pelas lentes ideológicas – temos até profissionais da USP participando desse caldeirão de inverdades cozinhando as mentes e os corações das pessoas. Em alguns momentos precisamos suspender o juízo para não dizer tagarelice.

Daner Hornich

Extremismo é o pior inimigo palestino

Um interessante artigo para refletir do Bernard-Henry Lévy:

São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

ARTIGO

Extremismo é o pior inimigo palestino
BERNARD-HENRI LÉVY
Por não ser especialista em assuntos militares, me absterei de julgar se o bombardeio israelense a Gaza poderia ter sido mais direcionado, menos intenso. E depois de décadas em que não me vi capaz de distinguir entre os bons mortos e os maus mortos ou, como Camus costumava dizer, entre as "vítimas suspeitas" e os "executores privilegiados", sinto-me também profundamente perturbado pelas imagens de crianças palestinas que foram mortas. Isso posto, e levando em conta que certos veículos de mídia se deixaram outra vez carregar pelos ventos da sandice -como costuma ser o caso sempre que Israel está envolvido-, gostaria de lembrar a todos alguns fatos:
1. Nenhum outro governo, nenhum país -a não ser o vilipendiado Israel, sempre demonizado- toleraria ter suas cidades como alvo de milhares de obuses a cada ano. A coisa mais notável nisso tudo, a verdadeira surpresa, não é a "brutalidade" de Israel, mas sim, literalmente, sua paciência.
2. O fato de que os mísseis Qassam e agora Grad do Hamas tenham causado tão poucas mortes não prova que são artesanais, inofensivos nem nada assim, mas sim que os israelenses se protegem, que vivem emparedados nas cavernas de seus edifícios, em abrigos: uma experiência fantasmagórica, suspensa, em meio ao som das sirenes e explosões. Já estive em Sderot; sei do que falo.
3. O fato de que, inversamente, o bombardeio israelense tenha causado tantas vítimas não significa, como proclamam zangadamente os oponentes, que Israel esteja envolvido em um "massacre" deliberado, mas que os líderes de Gaza optaram pela atitude oposta e estão expondo sua população, confiando na velha tática do "escudo humano". O que significa que o Hamas, como o Hizbollah dois anos atrás, está instalando seus postos de comando, suas casamatas, seus arsenais, nos porões de edifícios residenciais, hospitais, escolas, mesquitas. Eficiente, mas repugnante.
4. Há uma diferença crucial entre os combatentes que aqueles que desejam ter uma ideia "correta" sobre a tragédia e sobre as maneiras de pôr fim a ela precisam admitir. Os palestinos abrem fogo contra cidades, ou, em outras palavras contra civis (o que a lei internacional define como "crime de guerra"); os israelenses tomam por alvo objetivos militares e causam, sem que o desejem, baixas civis horríveis (o que a linguagem da guerra define como "dano colateral" e, embora terrível, indica uma verdadeira assimetria estratégica e moral).
5. Porque precisamos colocar os pingos nos is, recordemos uma vez mais um fato que a imprensa pouco citou e do qual não conheço precedente em qualquer outra guerra ou da parte de qualquer outro exército. Durante a ofensiva aérea, o Exército israelense apelou constantemente a moradores de Gaza que vivem perto de alvos militares para que deixassem essas áreas. Um ministro israelense disse que 100 mil pessoas foram contatadas. Isso não altera o desespero de famílias cujas vidas foram dilaceradas pela carnificina, mas não se trata de um detalhe totalmente desprovido de sentido.
6. Por fim, quanto ao famoso bloqueio total imposto a um povo faminto ao qual falta tudo nesta crise humanitária "sem precedentes": uma vez mais, a definição não é factualmente correta. Desde o começo da ofensiva terrestre, os comboios de assistência humanitária vêm cruzando incessantemente a passagem de Kerem Shalom. Segundo o "New York Times", em 31 de dezembro cerca de cem caminhões transportando suprimentos de comida e remédios entraram no território. E aproveito para invocar, nem que seja apenas para preservar a lembrança dessa verdade (pois creio que seria desnecessário dizê-lo, ou talvez seja melhor dizê-lo de vez), o fato de que os hospitais israelenses continuam a receber e tratar palestinos feridos, a cada dia. Nossa esperança deve ser a de que os combates se encerrem rapidamente. E que, ainda mais rápido, esperemos igualmente, os comentaristas recuperem o bom senso.
Eles descobrirão, quando isso acontecer, que Israel cometeu muitos erros ao longo de muitos anos (oportunidades perdidas, a longa negação quanto às aspirações nacionais palestinas, unilateralismo), mas que os piores inimigos dos palestinos são os líderes extremistas que jamais quiseram a paz, jamais quiseram um Estado e jamais pensaram em criar um país para o seu povo, ao qual preferem ver como instrumento e como refém. (Considerem a sinistra imagem do líder supremo do Hamas, Khaled Meshaal, que, quando a escala da resposta israelense tão ardentemente desejada ficava clara, limitou-se a declarar uma retomada das missões suicidas -e isso de seu confortável exílio e sua sinecura generosa em Damasco.) Restará uma de duas opções. Ou os líderes do Hamas restabelecem a trégua que violaram, e aproveitam para declarar nula uma agenda que se baseia na pura rejeição à "entidade sionista" -e ao fazê-lo se reintegrem ao vasto partido que favorece um compromisso e que (Deus seja louvado) jamais deixou de avançar na região-, permitindo que a paz seja estabelecida; ou eles continuarão a encarar o sofrimento dos civis palestinos apenas em termos das paixões que isso acalenta, de seu ódio insano, niilista, além das palavras. Se for este o caso, serão não apenas os israelenses, mas os palestinos, que precisarão ser liberados da escura sombra do Hamas.

O francês BERNARD HENRI-LÉVY é filósofo. Este artigo foi distribuído pelo New York Times Syndicate
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1201200909.htm

Dez teses sobre o ódio

Interessante texto do Pondé:

São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

LUIZ FELIPE PONDÉ

Dez teses sobre o ódio


LAMENTO , mas não vou ter com você, leitor sensível, uma conversa de salão sobre o ódio em Gaza. Conversas de salão são aquelas onde políticos, éticos de plantão e amantes da humanidade desfilam sua indignação chique com o descaso das guerras com a dignidade humana -é fácil discutir o quintal alheio. Como sou um simples colunista, devo levar você, caro leitor sensível, para fora do salão e ter consigo aquele tipo de conversa que foge aos salamaleques das festas. Veja em mim alguém que simplesmente não gosta de festas.
O ódio no Oriente Médio tem milhares de anos. O nome dele hoje é Gaza, Hamas, Israel. Todo mundo acha que sabe como solucioná-lo. Os últimos que tiveram algum sucesso foram os romanos.
Em meio a este ódio milenar, a verdade é, como diria o historiador francês Renan, "uma nuance entre mil erros". Diante da delicadeza dessa verdade, esboçarei dez pequenas teses sobre este ódio.
Não sofro da mania científica, graças ao ceticismo, que em mim não é uma crença no erro inevitável de tudo que pensamos, mas sim uma vigília sobre nossa miséria moral e intelectual. Essas teses são fruto da experiência de quem viveu em Israel duas vezes (uma num kibutz ao lado de Gaza, a outra pesquisando na Universidade de Tel Aviv) e que para lá já foi inúmeras vezes.
1. Crianças morrem em guerras. Guerras são assim: matam todo tipo de gente. É quase uma falsa virtude falar das crianças mortas em Gaza. Todo mundo sabe que guerra é uma forma da política. Ninguém gosta desse rosto humano, mas ele é humano, demasiado humano.
2. O Hamas usa crianças e escolas como escudo. Esta máfia não se preocupa com a população: crianças palestinas mortas nada mais são do que heróis martirizados. Isso é tão óbvio que não sei como nossos frequentadores de salão não percebem. O Hamas não quer paz, quer a destruição de Israel, e os civis mortos são seu trunfo.
3. Os árabes nunca se interessaram pela questão palestina. Sua retórica é pura conversa de salão. Os árabes usaram os palestinos para "jogar os judeus ao mar". Após a derrota árabe de 1948, a Jordânia ocupou a Cisjordânia e o Egito, Gaza. Em 1967, Israel tomou esses territórios deles e não dos "palestinos". A ditadura egípcia detesta o Hamas e seu fanatismo religioso tanto ou mais do que detesta Israel. Crer na unidade árabe é tão idiota quanto crer que americanos e europeus nos acham iguais a eles.
4. Grande parte da população israelense é paranoica, não confia em ninguém. "Onde estava o mundo quando estávamos em Auschwitz?". Não creem em sutilezas históricas e acham que só são respeitados quando fortes. O antissionismo seria uma face do antissemitismo.
5. Não há solução militar definitiva, onde se mata um terrorista hoje, nascem dois amanhã. Mas os árabes só engoliram Israel por conta do poder militar deste e isso reforça a retórica dos falcões.
6. Muito do que Israel faz é ganhar tempo e tentar garantir que crianças não morram quando vão a escola. Muito do que o Hamas faz é minar esse cotidiano na esperança de que ao longo do tempo o terror dissolva a sociedade israelense e que o ódio religioso una os árabes.
7. A repressão diária da população palestina mina a consciência moral do soldado israelense e isso causa danos ao Estado judeu. Esses danos estão no coração do cálculo terrorista. Reagir a esse cálculo com violência é o modo imediato de enfrentar o medo do terror cotidiano.
8. É ridículo ver ocidentais simpatizarem com os grupos fundamentalistas porque nós não suportaríamos viver com eles. Essa atitude se alimenta da relação infantil que identifica Israel e os EUA aos malvados enquanto o Hamas significaria a luta pela liberdade. É tão ridículo quanto o culto a Cuba.
9. Israel vive um impasse: como sustentar a identidade judaica de Israel sem submissão às leis religiosas? O sionismo não tem futuro: ou é religioso e fanático, e fere a democracia moderna, ou é apenas político e cultural, e portanto racista. Ou Israel rompe com o sionismo e dissolve a identidade judaica do Estado. Rompe-se aqui a falácia judaica moderna por excelência porque não há judaísmo "cultural", só religioso.
10. Judeus e árabes são primos. Primos sempre se matam quando algum patrimônio está em disputa. Este ódio milenar só diminui sob forte pressão militar, ordenamento político e ganho econômico. Só há paz se armada. Não haverá paz no Oriente Médio neste século.

luiz.ponde@grupofolha.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1201200921.htm

Militares, ciências, Educação Popular.

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