Tuesday, August 11, 2009

As mazelas das nossas contradições e o coronel

As mazelas das nossas contradições e o coronel

Na política brasileira visualizamos as contradições das nossas mazelas, por meio do pragmatismo dos partidos e dos coronéis mandatários da “República Velha” (o retorno, como recordou o cientista político Francisco Fonseca, professor da Fundação Getúlio Vargas no programa da rádio CBN Noite Total de Segunda-feira, 03/08/2009) que para se manterem no poder produz a degradação da vida pública em nome do aparelhamento do Estado pelo partido e pela política trágica do patrimonialismo em nome do Estado – “Eu sou o Estado” pode ser o legado de alguns políticos mandatários destas terras de Pindorama.
A forma pragmática se manifesta nos espaços teatrais das nossas ações políticas com José Dirceu na cooptação dos camaradas para a manutenção da política presidência do primeiro mandato e toda aquela velha história dos “mensaleiros quadrilheiros” que não foram punidos pelos pares.
Recentemente temos o Presidente Lula defendendo José Sarney como cidadão nada comum na vida pública brasileira e ao mesmo tempo dizendo que não votou no Senador e que não é responsável pelos crimes de corrupção e patrimonialismo contra a república brasileira, lavando as mãos, como bom sobrevivente no cenário político brasileiro.
O holofote aumenta quando ampliamos a defesa do “neo-convertido”, bom moço do Alagoas – Senador Fernando Collor de Mello na defesa do Senador José Sarney; podemos lembrar que Collor se elegeu presidente da República do Brasil criticando o Sarney presidente da República na época.
Exemplos de contradições e de ausência de coerência pessoal e partidária dos “nossos políticos” que não dão o mínimo de atenção ao que está acontecendo no cenário político-econômico no Brasil e no mundo são muitos e revelam o quanto o bem público e a população são maltratados pelos políticos que corrompem os juízes e proclamam a volta da República Velha.
Na República Velha os dizeres dos coronéis ditam o poder quando proclamam em voz alta “o juiz é nosso” ou “o delegado é nosso” (Cf. Francisco Fonseca, CBN Noite Total de Segunda-feira, 03/08/2009) – esse era o ditado usado pelos coronéis ao indicar que os juízes e os delegados eram cooptados pelos poderosos – será que isso aconteceu com o juiz – amigo íntimo de Sarney no caso do “cala boca” do Jornal “Estadão”?
Isso precisa ser investigado e o juiz deve ser punido, caso tenha responsabilidade no ato deliberado a favor do amigo. A conversa da família Sarney diz respeito ao espaço público e não era conversa íntima e familiar, mas favorecimento patrimonialista do namorado da neta na atividade de um cargo público.
Para usar uma linguagem apropriada, podemos recordar a análise de Raymundo Faoro em “Os Donos do Poder” na explicação sobre a regra do compadrio, isto é “em regra o compadrio une os aderentes ao chefe, chefe enquanto goza da confiança do grupo dirigente estadual e enquanto presta favores, com o domínio do mecanismo policial, muitas vezes do promotor público, não raro expresso na boa vontade do juiz de direito. As autoridades estaduais – inclusive o promotor público e o juiz de direito – são removidas, se em conflito com o coronel. Até a supressão da comarca, seu desmembramento, elevação de entrância são expedientes hábeis para arredar a autoridade incômoda” (FAORA, 2001, 712).
Na democracia precisamos realizar nossas atividades com transparência, fiscalização e controle das Instituições públicas e privadas no exercício do poder público prestando contas das nossas ações e palavras para o bom funcionamento da República contra os coronéis, os subcoronéis, os seus capangas, amigos e compadres que geram as mazelas das nossas contradições em nosso país.

Daner Hornich é Doutorando em Filosofia pela PUC-SP. Mestre em Filosofia pela PUC-SP.

Friday, August 07, 2009

Pega na mentira - é o novo enredo da escola de samba do Sarney

Saiu no blog do ucho – para conferir: http://ucho.info/minuciosamente-arquitetada-defesa-de-jose-sarney-desemboca-em-irreversivel-mentira
Pega na mentira -
Presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP) tentou convencer seus pares de que é inocente e, ao mesmo tempo, vítima de uma armação da imprensa brasileira, mas acabou quebrando o decoro parlamentar. Em seu didático (sic), porém não convincente discurso, no plenário do Senado, Sarney, ao justificar a nomeação por ato secreto de Rodrigo Cruz, disse não conhecer o apaniguado. Foi nesse exato momento que o presidente da Casa faltou com a verdade.

Dizem os especialistas que a memória fraqueja com o avanço da idade – Sarney já passou dos 80 anos –, mas mentir continuadamente é caso de tratamento. Para que o senador amapaense não reforce o seu estoque de dúvidas e inverdades, Rodrigo Cruz casou-se recentemente com a filha de Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado. E Sarney foi padrinho de casamento do agora ilustre desconhecido.

Partindo do pressuposto que o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), tinha razões de sobra para rejeitar as representações contra Sarney, fica extremamente difícil fechar os olhos e os ouvidos para a mais nova mentira contada pelo comandante do Senado. Se a moda pega oficialmente…

Comentário: Até quando vamos ficar assistindo essas mentiras em estado de paralisia?


Daner Hornich

Thursday, August 06, 2009

Vamos Brasil!

Precisamos nos movimentar contra os palhaços que conduzem o espaço público brasileiro para o fundo do poço. Vamos Brasil! Vamos nos movimentar para criar um novo espaço político para a nossa convivência digna.

Daner Hornich

Fora Sarney e os corruptos ...

“Aos gritos, Renan Calheiros e Tasso Jereissati trocam acusações no Senado” – é uma vergonha os homens que compõem o Senado brasileiro, de modo especial o truculento Renan Calheiros que é mais sujo que pau de galinheiro – tentando intimidar a favor do criminoso José Sarney – Fora Sarney e os corruptos do PMDB, do PT, DEMO E PSDB e outros partidos.

Daner Hornich

Monday, August 03, 2009

"Intenção americana de expandir sua presença militar na Colômbia"

Eles estão chegando – os alienígenas “Americanos do Norte” com suas bases – isso já era esperado.

São Paulo, sexta-feira, 31 de julho de 2009


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Brasília se alia a Madri contra bases dos EUA
Governos articulam ação conjunta para lidar com intenção americana de expandir sua presença militar na Colômbia

Negociações entre Bogotá e Washington foram estopim inicial para acirramento das tensões que fez Venezuela congelar relação com vizinho


Fernando Vergara/Associated Press


Caminhões fazem fila em Cúcuta (Colômbia) para passar ao outro lado da fronteira com a Venezuela, que prometeu substituir importações vindas do país vizinho

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os governos da Espanha e do Brasil articulam reações conjuntas da União Europeia e da América Latina contra a intenção dos EUA de ampliarem sua presença militar na Colômbia, com distribuição de soldados e civis americanos em três bases no país.
Para Espanha e Brasil, isso significa trazer para a região a lógica da militarização e uma corrida armamentista, com a Colômbia servindo de plataforma para os EUA e a Venezuela, para a Rússia.
"É preciso cuidado para evitar tensão e militarismo na América Latina. Essa não é a melhor resposta aos problemas na região", disse o chanceler da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, depois de encontros com o presidente Hugo Chávez (Venezuela), anteontem, em Caracas, e com o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), ontem, em Brasília.
O Itamaraty orientou o embaixador em Washington, Antonio Patriota, a questionar detalhes sobre a ampliação da presença nas três bases, em Malambo, Palanquero e Apiay.
Amorim cobra "transparência" e diz que o Brasil quer saber se o comando das operações ficará com os EUA ou com a Colômbia e se haverá ampliação no limite de até 800 militares e de até 600 civis norte-americanos acertado no chamado Plano Colômbia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em São Paulo, ao lado da colega chilena, Michelle Bachelet, que não lhe "agrada" a ideia de que os EUA ampliem a presença militar na Colômbia e defendeu que o acordo entre Washington e Bogotá, ainda em negociação, seja tratado na reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) no Equador, no próximo dia 10.
Lula pediu que seja convocado o Conselho de Defesa da Unasul, criado no ano passado, para discutir o espinhoso tema de segurança nas fronteiras e o futuro acerto militar. Presidente pro-tempore do órgão multilateral, Bachelet, corroborou o chamado.
"Posso dizer que a mim não me agrada mais uma base na Colômbia. Mas como eu não gostaria que o [presidente da Colômbia, Álvaro] Uribe desse palpite nas coisas que eu faço no Brasil, eu prefiro não dar palpite nas coisas do Uribe", continuou o brasileiro. Ele disse preferir "conversar pessoalmente" com Uribe em Quito.
A presidente do Chile defendeu que é preciso chegar a um acordo "porque por certo há países que não estão tranquilos" com a negociação Washington-Bogotá.
Lula traçou paralelo entre o possível acordo dos EUA e a Colômbia e a Quarta Frota Naval americana, reativada no ano passado. O presidente lembrou que o Brasil havia dito a Washington, por carta, que "não via com bons olhos" a reativação da esquadra, comando naval responsável por todas as embarcações militares americanas nas águas da América Latina e do Caribe. O motivo, repetiu Lula, é que "a linha territorial dela [da esquadra] é quase em cima do nosso pré-sal".

Crise bilateral
No discurso do governo Álvaro Uribe, a Colômbia manterá o controle das três bases, que seguirão sendo de combate ao narcotráfico e com o efetivo estrangeiro dentro do limite já anteriormente estabelecido dentro do Plano Colômbia.
No entanto, alastra-se na América Latina e estende-se agora para a Europa, via Espanha, o temor de que o novo governo dos Estados Unidos esteja recuando no discurso antibelicista e anti-invasivo do presidente Barack Obama.
A percepção nos países sul-americanos, levada à Europa, é a de que o governo Obama está usando as bases na Colômbia para neutralizar a crescente aproximação da Venezuela de Chávez tanto com os russos, dos quais adquiriu equipamentos bélicos, quanto com o Irã -adversário de Washington.
Moratinos voou de Caracas para Brasília anteontem à noite para jantar com autoridades brasileiras, inclusive com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Um dos temas foi a tensão Colômbia-Venezuela.
Garcia está indo para Caracas e para Bogotá como enviado de Lula para obter informações e tentar mediar o diálogo entre Chávez e Uribe. Ele vai tentar articular a ida de Chávez à Colômbia na semana que vem.
A Venezuela retirou na terça seu embaixador do país vizinho, depois de cobranças públicas para que explicasse o achado de armas do Exército venezuelano com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O governo Chávez diz que a acusação é uma "cortina de fumaça" para desviar a atenção da discussão sobre as bases militares.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft3107200901.htm acesso em 03/08/2009

Daner Hornich

A era das pandemias e a desigualdade

Os nossos governantes são uns calhordas – a gripe suína (A (H1N1) é anunciada desde a gripe viária (H5N1) e o tratamento dado ao assunto foi esquecido por questões mercadológicas e ausência de investimento em pesquisa cientifica - sobre esse assunto conferir o texto “O monstro à porta” in. DAVIS, Mike. Apologia dos Bárbaros. São Paulo: Bitempo, 2008, 203 – 205. Ou o texto abaixo:

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A era das pandemias e a desigualdade
SUELI DALLARI e DEISY VENTURA
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Tratar essa pandemia gripal como espetáculo pontual é um equívoco. As pandemias vieram para ficar e suscitam dois debates estruturais
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O MUNDO está diante das primeiras "pestes globalizadas", cuja velocidade de contágio, sem precedentes, é inversamente proporcional à lentidão da política e do direito.
A aceleração do trânsito de pessoas e de mercadorias reduz os intervalos entre os fenômenos patológicos de grande extensão em número de casos graves e de países atingidos, ditos pandemias. Assim, tratar a pandemia gripal em curso como um espetáculo pontual é um grande equívoco.
As pandemias vieram para ficar e suscitam ao menos dois debates estruturais: as disfunções dos sistemas de saúde pública dos países em desenvolvimento e a inoperância da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na ausência de quebra de patentes de medicamentos e de vacinas, perecerá um grande número de doentes que, se tratados, poderiam ser salvos. O mundo desenvolvido terá então, deliberadamente, deixado morrer milhões de pobres.
Sob fortes pressões políticas, a OMS tem divulgado com entusiasmo doações de tratamentos e descontos aos países menos avançados na compra do oseltamivir, o famoso Tamiflu, fabricado pela Roche, até então o único tratamento eficaz contra o vírus A (H1N1). Mas essa pretensa generosidade é absolutamente insignificante diante da possível contaminação de um terço da humanidade.
A apologia do Tamiflu tem levado milhares de pessoas à compra do medicamento pela internet ou a cruzar fronteiras para obtê-lo em países vizinhos. O uso indiscriminado do medicamento deve ser combatido com vigor, tanto pela probabilidade de consumo de produto falso quanto por fazer com que rapidamente o vírus se torne resistente também ao oseltamivir, o que ocorreu em casos recentes. Ainda mais grave: as constantes mutações do vírus tornam o mundo refém da indústria de medicamentos.
A OMS deve operar para que paulatinamente os Estados assumam o leme, com todos os custos que isso implica, do investimento em pesquisa ao serviço de saúde pública.
O direito não pode ser desperdiçado: o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, negociado no âmbito da Organização Mundial do Comércio, criou a licença compulsória, dita quebra de patente, para, entre outros casos, os de urgência.
Ora, pode ocorrer algo mais urgente do que uma pandemia?
No entanto, quebrar a patente do Tamiflu, embora imprescindível, é apenas uma ponta do iceberg. É preciso que os Estados desenvolvam as condições para produzi-lo.
O mesmo ocorre em relação à insuficiência de kits para diagnóstico: com a progressão da pandemia, é provável que não sejamos capazes sequer de contar os mortos, ou seja, aqueles que comprovadamente foram vítimas desse vírus.
A prevenção da doença traz um problema adicional, que é a pressa: os mais nefastos efeitos da vacina contra o A (H1N1) ocorrerão nos primeiros países a generalizá-la, que serão, infelizmente, os latino-americanos, até agora os mais atingidos pela doença.
Assim, a deplorável desigualdade econômica mundial distribui também desigualmente o peso das urgências sanitárias. Os pobres portam o fardo mais pesado, eis que a pandemia gripal vem juntar-se a outras doenças endêmicas, como paludismo, tuberculose e dengue, cuja subsistência deve-se às adversas condições de trabalho e de vida, sobretudo em grandes aglomerações urbanas, não raro em condições de habitação promíscuas, numa rotina que favorece largamente a contaminação.
Caso o fenômeno se agrave, novas restrições, além do controle do Tamiflu, podem ser necessárias, a exemplo da limitação de reuniões públicas e aglomerações, que já foi adotada em países próximos, como a Argentina.
A pandemia pode trazer, ainda, a estigmatização de grupos de risco ou de estrangeiros, favorecendo a cultura da insegurança, pois o medo é tão contagioso quanto a doença.
Por tudo isso, urge revisar o papel da OMS no sistema internacional e retomar o debate sobre a criação de um verdadeiro sistema de vigilância epidemiológica no Brasil, apto a regular a eventual necessidade de restrições a direitos humanos e a organizar a gestão das pandemias com a maior transparência possível.
Caso contrário, seguirá atual o que escreveu Albert Camus, em 1947, no grande romance "A Peste": "Houve no mundo tantas pestes quanto guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas".
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SUELI DALLARI , 58, é professora titular da Faculdade de Saúde Pública da USP.

DEISY VENTURA , 41, é professora do Instituto de Relações Internacionais da USP.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz3107200908.htm acesso em 03/08/2009.

Daner Hornich

"Não votei no Sarney nem para senador" - afirma Lula.

"Não votei no Sarney nem para senador", afirma Lula. Revela que o presidente não vive o Espírito Público, isto é, Republicano, mas o espírito coorporativo (do patrimonialismo) e privado dos camaradas que retalham o Brasil em pedaços para ser devorados.

Daner Hornich

A sutileza e o embuste dos golpistas

Analise perspicaz sobre o Golpe Militar de 64 no Brasil do Ferreira Gullar na Folha de São Paulo revela a sutileza e o embuste dos golpistas.

São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009



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FERREIRA GULLAR

E por falar em golpe militar...
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A radicalização de setores que se diziam "revolucionários" abriu caminho para o golpe
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EM DEBATE RECENTE , na televisão, ouvi de historiadores e estudiosos de nossa vida política afirmações acerca do golpe de 1964 que me deixaram surpreso. Embora não tenha a autoridade daqueles debatedores, eu, por ter vivido e acompanhado de perto aqueles acontecimentos, tenho visão diferente da deles em alguns pontos da interpretação que preponderou durante aquela discussão. Um dos debatedores afirmou que o presidente João Goulart, antes de ser deposto, estava de fato preparando um golpe nas instituições democráticas para manter-se no poder. Tal afirmação, em última instância, justificaria o golpe militar, pois seria na verdade um contragolpe. O autor dessa tese deve ter se baseado em algum documento ou informação que desconheço.
De qualquer modo, incorre num grave equívoco, desconsiderando, assim, fatos notórios que determinaram a derrubada do presidente da República pelos militares. O testemunho do general Jarbas Passarinho, que integrou o ministério da ditadura, não deixa dúvida quanto à motivação do golpe, que teria sido dado para impedir a instauração, no Brasil, de um regime comunista, coisa que Jango nunca foi.
Como os supostos indícios dessa nova "intentona" não tinham apoio na realidade, fica evidente que, da parte dos militares, o propósito de depor João Goulart foi decisão tomada desde que ele assumiu o governo. Aliás, aqueles mesmos generais tudo fizeram para impedir que ele o assumisse, após a renúncia de Jânio Quadros.
Se o conseguiu, foi graças à reação de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, que conquistou o apoio do comandante do Terceiro Exército, ali sediado. A solução conciliatória foi a adoção de um parlamentarismo fajuto, mais tarde revogado pela vontade popular, num plebiscito. Com isso, Jango retomou os plenos poderes de presidente da República, o que os generais engoliram com dificuldade e se prepararam para derrubá-lo.
Foi o que aconteceu de fato, como é verdade também que o fortalecimento de Jango estimulou as forças de esquerda a intensificarem suas ações em favor das chamadas "reformas de base", como a reforma agrária e teses anti-imperialistas, que assustavam setores conservadores.
Em função disso, Jango se tornou uma espécie de refém das forças que o apoiavam, particularmente o sindicalismo reformista, que promovia greves sucessivas em todo o país. O centro do Rio de Janeiro se tornou uma praça de guerra, impedindo o funcionamento do comércio e das repartições públicas. Naturalmente, esses fatos contribuíram para o fortalecimento das forças anti-Jango e a ampliação da conspiração que veio a derrubá-lo.
Considerando as necessárias diferenças e proporções, a situação de Goulart antecipou o que ocorreria, mais tarde, com Salvador Allende, no Chile, também vítima da ação impensada daqueles que deveriam apoiá-lo. Se é verdade que a situação brasileira, em 1964, não era idêntica à do Chile em 1973, é certo também que, aqui como lá, a radicalização insensata de setores que se diziam "revolucionários" minou a autoridade do governo constitucional e abriu caminho para o golpe militar.
No caso brasileiro, um desses involuntários aliados dos golpistas foi aquele mesmo Leonel Brizola, que o salvara em 1962. A pretensão de se tornar o sucessor do seu cunhado ("Cunhado não é parente, Brizola para presidente") levou-o a uma insensata campanha para retirar do Ministério da Fazenda o paulista Carvalho Pinto, que funcionava como uma espécie de avalista do governo junto à classe empresarial.
A sua demissão abriu caminho para a derrubada de João Goulart, desgastado pelas greves e por um início de rebelião dos Fuzileiros Navais, comandados pela almirante Aragão, que manifestava claramente apoio às reformas exigidas pelas forças de esquerda. A um de seus ministros, Jango confidenciou: "Esses Fuzileiros Navais vão terminar me tirando do governo".
Desse modo, Jango terminou numa situação crítica: vendo avançar a conspiração que visava derrubá-lo, teria que reprimir as greves e as manifestações de setores militares que o apoiavam, mas sabia que, se o fizesse, não evitaria o golpe já em curso. Daí o comício na Central do Brasil e o encontro com os sargentos no Automóvel Clube, que só serviram para precipitar sua queda.
Dizer que o presidente João Goulart é que pretendia golpear as instituições é não entender o que de fato ocorreu e dar crédito à versão dos golpistas.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0208200919.htm acesso em 03/08/2009.

Daner Hornich

Neopaganismo evangélico - religião como comercialização – mercadológica das práticas de fé religiosa)

Uma analise interessante do Professor José Arthur Giannotti na Folha de São Paulo sobre as práticas religiosas pentecostais (religião como comercialização – mercadológica das práticas de fé religiosa) e suas raízes inseridas no Neopaganismo – maniqueísta “abrasileirado”. Indicando a ausência de conhecimento e esclarecimento bíblico sobre os temas pertinentes as questões religiosas que se fundamenta no pensamento e no ensinamento judaico-cristão.

Neopaganismo evangélico
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Teologia pentecostal se afasta da tradição judaico-cristã ao atribuir ao mal uma potência independente de Deus e dos homens
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JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA
Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do Poder de Deus. Teria rapidamente mudado de canal se não tivesse acabado de ler o interessante livro de Ronaldo de Almeida, "A Igreja Universal e seus Demônios - Um Estudo Etnográfico" [ed. Terceiro Nome, 152 págs., R$ 28], que me abriu os olhos para o lado especificamente religioso dos movimentos pentecostais. Até então, via neles sobretudo superstição, ignorando o sentido transcendente dessas práticas religiosas.
No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das despesas da igreja, no próximo mês, o dízimo subia de 10% para 20%. Em seguida, começou a interpelar os crentes para ver quem iria doar R$ 1.000, R$ 500 e assim foi descendo até chegar a R$ 1.
Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel devolver uma parte para que a igreja continuasse no seu trabalho mediador. Em suma, doar era uma questão de justiça entre o fiel e Deus.
Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é tão só como dádiva divina, troca fora do mercado, como se operasse numa sociedade sem classes. Isso marca uma diferença com os antigos movimentos protestantes, em particular o calvinismo, para os quais o trabalho é dever e a riqueza, manifestação benfazeja do bom cumprimento da norma moral.
Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima franciscana "é dando que se recebe", pois não se processa como ato de amor pelo outro. No fundo vale o princípio: "Recebes porque doastes". E como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais rentável para nossos investimentos.
O crente doa apostando na fidelidade de Deus. Os dísticos gravados nos carros, "Deus é fiel", não o confirmam? Mas Dele espera-se reciprocidade, graças à mediação da igreja, cada vez mais eficaz conforme se torna mais rica. Deus é pensado à imagem e semelhança da igreja, cujo capital lança uma ponte entre Ele e o fiador.

Anticalvinismo
Além de negar a tradicional concepção calvinista e protestante do trabalho, esse novo crente não mantém com a igreja e seus pares uma relação amorosa, não faz do amor o peso de sua existência.
Sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de seu ser; apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de espírito e confiança no futuro. Em vez da conversão, mera negociação. Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?
Outro momento importante do livro é a crítica da Igreja Universal ao candomblé, tomado como fonte do mal. Essa crítica não possui apenas dimensões política e econômica, assume função religiosa, pois dá sentido ao pecado praticado pelo crente. O pecado nasce porque o fiel se afasta de Deus e, aproximando-se de uma divindade afro-brasileira, foge do circuito da dádiva. Configura fraqueza pessoal, infidelidade a Deus e à igreja.
Nada mais tem a ver com a ideia judaico-cristã do pecado original. Não se resolve naquela mácula, naquela ofensa, que somente poderia ser lavada pela graça de Deus e pela morte de Jesus, mas sempre requerendo a anuência do pecador.
Se resulta de uma fraqueza, desaparece quando o crente se fortalece, graças ao trabalho de purificação exercido pelo sacerdote. O fiel fraquejou na sua fidelidade, cedeu ao Diabo cheio de artimanhas e precisa de um mediador que, em nome de Deus, combata o Demônio. O exorcismo é descarrego, batalha entre duas potências que termina com a vitória do bem e a purificação do fiel.

Paganismo
Compreende-se, então, a função social do combate ao candomblé: traduz um antigo ritual cristão numa linguagem pagã. Os pastores dão pouca importância ao conhecimento das Escrituras, servem-se delas como relicário de exemplos. Importa-lhes mostrar que o Diabo, embora tenha sido criado por Deus, depois de sua queda se levanta como potência contra Deus e, para cumprir essa missão, trata de fazer o mal aos seres humanos.
O mal nasce do mal, ao contrário do ensinamento judeu-cristão que o localiza nas fissuras do livre-arbítrio. Adão e Eva são expulsos do Paraíso porque comeram o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e assim se tornam pecadores, porque agora são capazes de discriminar os termos dessa bipolaridade moral.
Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como sabemos, o sacerdote persa Mani (também conhecido por Maniqueu), ativo no século 3º, pregava a existência de duas divindades igualmente poderosas, a benigna e a maligna. Isso porque o mal somente poderia ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta, misturando o cristianismo com a teologia pagã.

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JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0208200904.htm acesso em 03/08/2009.

Daner Hornich

Militares, ciências, Educação Popular.

A pandemia atual expõe a falácia de alguns dogmas sobre a pós modernidade, ela mesma integra a lista dos enunciados falsos de evidências lóg...