Friday, October 21, 2011

Diálogo entre literatura, teologia e a filosofia

Interdisciplinaridade e interpretação: Paul Ricoeur em diálogo com Hans Urs von Balthasar
Mediados pela filosofia, por caminhos distintos, Balthasar e Ricoeur apontam para o “papel decisivo da ação”, observa Cecília Avenatti de Palumbo. Exigência da “saída de si” dá ao ser humano uma dimensão ética para a ação e a história

Por: Márcia Junges| Tradução Benno Dischinger

“No diálogo entre literatura e teologia, a filosofia se apresenta como ponto de encontro. Por caminhos diferentes, Balthasar e Ricoeur propõem a mediação da filosofia, sublinhando o papel decisivo da ação, o qual tem sua origem na opção pelo paradigma teatral”. A constatação é de Cecília Avenatti de Palumbo, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. De acordo com a pesquisadora argentina, Balthasar conhece e cita Ricoeur, do qual foi contemporâneo, mas “não podemos comprovar se Ricoeur conheceu a obra magna do teólogo suíço”. E completa: “na medida em que representam uma exigência de êxtase ou saída de si de dentro para fora, ambos significam a possibilidade de sair do fechamento individualista pós-moderno descobrindo ao homem a dimensão ética através da projeção do olhar e do ler para o agir e para a história”. Cecília esteve recentemente no Brasil, onde apresentou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio a conferência Interdisciplinaridade e interpretação: Contribuições do pensamento de Paul Ricoeur em diálogo com Hans Urs von Balthasar.

Cecília é licenciada e doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica Argentina com a tese La literatura como figura, drama y verdad en la estética de Hans Urs von Balthasar”. Leciona nessa instituição e é autora de Imagen y palabra. Fenomenología de la expresividad en Hans Urs von Balthasar (Buenos Aires: Ediciones del Viejo Aljibe, 1998); La literatura en la estética de Hans Urs von Balthasar. Figura, drama y verdad (Salamanca: Ediciones Secretariado Trinitario, 2002); Lenguajes de Dios para el siglo XXI. Estética, teatro y literatura como imaginarios teológicos (Juiz de Fora-Buenos Aires: Edições Subiaco – Ediciones de la Facultad de Teología de la Universidad Católica Argentina, 2007).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A senhora foi convidada pela Cátedra de leitura da Unesco, com sede na PUC–Rio, para ditar uma conferência de pós-graduação sobre “Interdisciplinaridade e interpretação: Contribuições do pensamento de Paul Ricoeur em diálogo com Hans Urs von Balthasar”. Poderia referir-se ao enquadramento epistemológico? Por que a relação entre interdisciplinaridade e interpretação?

Cecília Avenatti de Palumbo – À colocação da interdisciplinaridade como caminho de superação da fragmentação dos saberes e de um modo unidimensional e redutivo de explicar o mundo e o homem, segue-se imediatamente a questão da mediação, entendida como o “entre” vinculante, a linguagem que comunica às disciplinas entre si e em relação ao objeto comum, a ponte que une suas margens atomizadas. A interdisciplinaridade suscita, pois, a necessidade de se pensar uma linguagem mediadora a partir da qual as disciplinas podem dialogar. A linguagem é a via de compreensão entre umas e outras, a via de recíproca interpretação das linguagens, a via hermenêutica. Interdisciplinaridade e hermenêutica reconhecem, assim, sua necessidade de pensar a partir de outro e com outros.
No Seminário de diálogo interdisciplinar permanente – literatura, estética e teologia, estamos trabalhando desde 1998 nesta direção. Nos “Prolegômenos” a uma obra coletiva de recente aparição, Beleza que fere , recolhemos o itinerário percorrido de 2007 a 2010, no decurso do qual a linguagem mediadora escolhida foi a da figura estético-dramática, devedora do pensamento teológico de Hans Urs von Balthasar . Durante o último ano, junto com colegas da PUC-Rio e da PUC-Chile – todos membros de Alalite – decidimos investigar conjuntamente a contribuição efetivada pelo pensamento de Paul Ricoeur à mediação entre a literatura e a teologia.

Em nosso interesse por configurar uma linguagem de mediação interdisciplinar está a questão sobre onde confluem os caminhos do teólogo suíço e do filósofo francês.

IHU On-Line – Paul Ricoeur e Hans Urs von Balthasar foram contemporâneos. Houve um diálogo entre o filósofo e o teólogo? Em que consistiu esse diálogo?

Cecília Avenatti de Palumbo – Realmente, até onde sabemos, não houve propriamente um diálogo real entre eles. Balthasar conhece e cita Ricoeur, do qual foi contemporâneo, o da hermenêutica dos símbolos – A simbólica do mal (1960), O conflito das interpretações (1969), A metáfora viva (1975), já que, além da hermenêutica do texto (de 1980) e da hermenêutica do eu como outro (dos anos 1990) não chegou a conhecê-los. Numa das referências sublinha a abertura ricoeuriana para o sentido através do caminho da metáfora e do símbolo . Isso se sucede na terceira parte de sua Trilogia, chamada Teológica, que se encontra precedida pela Teoestética e pela Teodramática, justamente onde, ao tratar da beleza e do drama de Deus nos outros dois painéis, dá o passo à verdade na linguagem do Deus que se fez carne e, por conseguinte, história . Não podemos comprovar se Ricoeur conheceu a obra magna do teólogo suíço, pois para isso seria necessário realizar uma inquisição mais exaustiva. De todos os modos, o importante aqui é que estabelecemos o diálogo a partir de seus textos, como consequência de nosso caminho de busca de uma linguagem mediadora para o vínculo interdisciplinar entre literatura e teologia.

IHU On-Line – Quais são as aproximações filosóficas e teológicas entre esses pensadores? O que resulta dessa interdisciplinaridade?

Cecília Avenatti de Palumbo – No diálogo entre literatura e teologia, a filosofia se apresenta como ponto de encontro. Por caminhos diferentes, Balthasar e Ricoeur propõem a mediação da filosofia, sublinhando o papel decisivo da ação, o qual tem sua origem na opção pelo paradigma teatral. Deste modo, a ação se apresenta como linguagem mediadora, tanto em Balthasar como em Ricoeur. O caminho de Balthasar vai da figura estética à ação como drama ; o caminho de Ricoeur vai da hermenêutica do texto à hermenêutica da ação. Ambos transitam o caminho para o reconhecimento de si: o teólogo, na ação do personagem teatral, o filósofo na ação da trama que se desdobra numa tríplice mímesis . O resultado é uma linguagem dinâmica, com valor perlocutório e, portanto, com intenção de uma transformação histórica mediante ações pessoais e comunitárias, de Deus e dos homens.

IHU On-Line – Como se manifesta a busca pelo divino na obra de von Balthasar?

Cecília Avenatti de Palumbo – A Denkform [maneira de pensar] balthasariana é trilógica e nós a expressamos segundo o dinamismo preposicional do amor que, partindo da figura, se desenvolve no drama da liberdade infinita e da liberdade finita, e sobre o cenário desta ação dramática se põe o movimento para a verdade, a fim de desvelá-la não como ideia estática, mas como vida superabundante que excede de modo transbordante os limites do conceito. Daí resulta a necessidade teológica de sair em busca de novas linguagens.
Sua opção pela figura estética reconhece o estatuto epistemológico da filosofia como mediadora entre as ciências humanas e a teologia. A figura estética é pensada por Balthasar em abertura para o drama existencial. Daí resulta a nomeação de “figura estético-dramática. O paradigma é a ação teatral que ele toma do topos do teatro do mundo de Calderón. Mediante este instrumental, propõe-se a renovação de “uma teologia inserida no banco de areia da abstração racionalista” .

IHU On-Line – Como se articula a passagem do texto à ação no pensamento de Ricoeur?

Cecília Avenatti de Palumbo – É a preocupação epistemológica por encontrar, para a interpretação, um critério objetivo que provenha a partir de dentro do texto (a linguística, atos de fala, poética), superador da dialética entre explicar e compreender, ciências naturais e humanas, proposta por Dilthey, a que leva Ricoeur para o umbral da ação teatral pelo caminho da mímesis e da construção da trama, como antes o levara para o estruturalismo e a semiótica. O círculo hermenêutico e o círculo mimético estão aparentados: um relaciona texto e ação; o outro mímesis e ação . O paradigma da ação é o da relação mímesis/mythos (trama) que Aristóteles propôs na Poética: “A trama é a representação da ação” (50 a, 1). Na circularidade hermenêutica que acontece entre mímesis 1 (pré-figuração); mímesis II (configuração) e mímesis III (refiguração) é onde se abre o homem à possibilidade de ser ele mesmo criativamente .

IHU On-Line – Em que aspectos von Balthasar e Ricoeur oferecem subsídios para repensarmos a igreja, a cultura e a sociedade da civilização tecnocientífica na qual vivemos?

Cecília Avenatti de Palumbo – Poderíamos enunciar as contribuições da ação dramática (Balthasar) e da ação textual (Ricoeur) ao diálogo entre literatura e teologia e, através deste, ao diálogo da igreja com a cultura e a sociedade atuais.
Seus pensamentos em diálogo oferecem, em primeiro lugar, um caminho para a referencialidade do Tu através da abertura do texto e do drama. Em segundo lugar, na medida em que representam uma exigência de êxtase ou saída de si de dentro para fora, ambos significam a possibilidade de sair do fechamento individualista pós-moderno descobrindo ao homem a dimensão ética através da projeção do olhar e do ler para o agir e para a história.
Em terceiro lugar, a necessidade hermenêutica como mediação é posta em relevo em Ricoeur quando considera que o ato de leitura é o que opera a transição entre texto e recepção (entre mímesis II e III) e em Balthasar, quando centra no ato da interpretação do papel no cenário a origem do conhecer-se a si mesmo e ser pessoa na missão.
Em quarto lugar, a inclusão do horizonte cultural e antropológico na interpretação a partir de dentro do texto e do drama e a consequente abertura a um horizonte de alteridade a partir da mesmidade da figura dramática e do texto.
E, por último, a superação da dialética sujeito/objeto pelo caminho da interpretação do ator e do leitor nos coloca ante o desafio de estabelecer relações em que o pessoal e o comunitário se vinculam através da corporeidade, do jogo e de uma comunicação que compromete a totalidade do humano.

Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4125&secao=376

O SUS que queremos e o SUS que temos

Uma entrevista interessante sobre o nosso sistema de Saúde - SUS.

Um déficit de 160 bilhões de reais no SUS
Para Gilson Carvalho, ainda não chegamos a implantar o SUS constitucional. “Estamos longe dele”, afirma

Por: Graziela Wolfart

A partir de uma visão sobre o orçamento e o financiamento da saúde no Brasil, o médico Gilson Carvalho considera que o melhor caminho para a saúde em nosso país hoje “é a União colocar mais recursos para a saúde, como já foi prescrito anteriormente e nunca cumprido no pós-constitucional, até cair na fórmula atual, que é bem menor e insuficiente”. Na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line, Carvalho faz a seguinte comparação: “os planos de saúde gastaram, no ano passado, 71 bilhões de reais para 45 milhões de beneficiários, o que resulta em 1.560,00 reais por beneficiário a cada ano. Se usarmos este mesmo valor para os 191 milhões de brasileiros, precisaríamos de 298 bilhões de reais que, subtraído dos 138 bi utilizados, dariam 160 bilhões de reais de déficit. Se o SUS utilizasse o mesmo valor per capita dos planos de saúde que não cuidam de tudo, principalmente da saúde coletiva, precisaria de mais 160 bilhões”. E constata: “para resolver o problema da saúde pública no Brasil, precisamos de mais Brasil (condições de saúde dos brasileiros), mais saúde-SUS (usar mais e melhor o modelo SUS), mais eficiência, mais honestidade e mais dinheiro”.

Gilson Carvalho é médico pediatra e de saúde pública. Também é consultor do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – Conasems. Ele adota a política do copyleft em seus textos, disponíveis no site www.idisa.org.br.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Qual sua opinião sobre a Emenda Constitucional número 29? Quais os melhores caminhos para financiar a saúde no Brasil?

Gilson Carvalho - Não estamos discutindo agora a EC-29 que já foi aprovada e está em vigor desde 2000. O que discutimos desde 2003 é a regulamentação da EC-29 que deveria acontecer até 2004 e que não aconteceu até hoje. O melhor caminho é a União colocar mais recursos para a saúde, como já foi prescrito anteriormente e nunca cumprido no pós-constitucional até cair na fórmula atual, que é bem menor e insuficiente.

IHU On-Line - Como se calcula o orçamento do SUS hoje? De onde vem o dinheiro e quanto custa, por ano, para o governo manter o sistema?

Gilson Carvalho - A regra em vigor hoje é a União entrar com o mesmo recurso aplicado no ano anterior corrigido pela variação nominal do PIB. O estado deveria colocar 12%, no mínimo, de suas receitas e os municípios no mínimo 15%. O custo no ano passado foi de 138 bilhões de reais com o dinheiro das três esferas, o que se mostra insuficiente.

IHU On-Line - Que comparação se pode fazer entre os gastos da saúde pública com os gastos dos planos de saúde?

Gilson Carvalho - Os planos de saúde gastaram, no ano passado, 71 bilhões de reais para 45 milhões de beneficiários, o que resulta em 1.560,00 reais por beneficiário a cada ano. Se usarmos este mesmo valor para os 191 milhões de brasileiros, precisaríamos de 298 bilhões de reais que, subtraído dos 138 bi utilizados, dariam 160 bilhões de reais de déficit. Se o SUS utilizasse o mesmo valor per capita dos planos de saúde que não cuidam de tudo, principalmente da saúde coletiva, precisaria de mais 160 bilhões.

IHU On-Line - Qual a principal lacuna entre o SUS que queremos e o SUS que temos?

Gilson Carvalho - Ainda não chegamos a implantar o SUS constitucional. Estamos longe dele. Não conseguimos ainda ser suficientes e muitas vezes somos ineficientes. Poderíamos, pelo menos, melhorar a qualidade do que já estamos fazendo e aí temos que reconhecer que muita coisa em que falhamos na qualidade não dependeria de mais dinheiro.

IHU On-Line - O que mais prejudica o bom funcionamento do SUS: a insuficiência de recursos ou a ineficiência do uso dos recursos disponíveis (gestão)?

Gilson Carvalho - O SUS sofre dos dois problemas e sofre junto. Não ouso quantificar os dois. Tenho divulgado uma síntese deste pensamento numa “lei” que criei que é a lei dos cinco mais. Para resolver o problema da saúde pública no Brasil, precisamos de mais Brasil (condições de saúde dos brasileiros), mais saúde-SUS (usar mais e melhor o modelo SUS), mais eficiência, mais honestidade e mais dinheiro.

IHU On-Line - O senhor vê a necessidade de mudanças no SUS? O que faria parte de possíveis alterações no sistema?

Gilson Carvalho - A maior mudança no SUS que defendo é que façamos mais SUS. Até para dizer que precisa ser mudado temos que primeiro usá-lo ou provar que seja impossível implantá-lo e implementá-lo.

IHU On-Line - Pensando nos rumos do SUS, o senhor considera a integralidade e a universalidade como realmente possíveis na atenção à saúde em nosso país?

Gilson Carvalho - Essas duas palavras são centrais na definição do sistema e significam o tudo para todos. Não discuto o para todos (universalidade), mas discuto o tudo, pois temos tido sérios distúrbios nele. Tenho defendido que a integralidade deva ser regulada como manda a Constituição Federal. E mostro e luto contra os distúrbios da integralidade: integralidade trincada (as trincas limitadoras em que se procura dar menos que o tudo por n motivos até mesmo pela venda de serviços, como é o caso da farmácia popular, da dupla porta em São Paulo); a integralidade truncada, onde hora se entende que deva se fazer tudo, inclusive os condicionantes e determinantes com dinheiro da saúde ou as restrições que impedem os gastos com atividades meio específicas da saúde; e, finalmente, a integralidade turbinada pelo interesse econômico de fabricantes, comerciantes, profissionais e serviços de saúde.

Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4119&secao=376

Aspectos da criminalização da luta social no Brasil

ESTADO DE EXCEÇÃO

Aspectos da criminalização da luta social no Brasil

A agilidade do Executivo em cumprir a agenda do capital, modificando leis para criar um estado de exceção e repressão, contrasta com a não execução das políticas públicas capazes de promover direitos e a ausência de ações/recursos para proteção de pessoas ameaçadas


por Francisco Carneiro de Filippo



No dia 6 de setembro, o militante Edson Francisco, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) no Distrito Federal, teve sua casa invadida por dois homens, que dispararam dezoito tiros. Um atingiu-o de raspão no lado esquerdo do peito. Meses antes, Edson havia sofrido um constrangimento institucional ao ser conduzido à força para depor como testemunha em outro processo. No fórum, sofreu pressões psicológicas e só foi retirado de lá (mesmo após o fim do julgamento) graças à manifestação insistente do advogado, acionado por mensagem telefônica enviada às escondidas.

Entre junho e julho, o MTST fez uma jornada de lutas e ocupações questionando o déficit de 350 mil moradias na região. Desesperado, o governo do DF tentou desqualificar e associar o movimento a práticas criminosas, e fez ações de desocupação sem mandato judicial. No entanto, no final, foi obrigado a garantir o direito de ao menos quatrocentas famílias. A tentativa de assassinato de Edson Francisco está diretamente relacionada a tudo isso.

Esse não é um caso isolado no Brasil. O que temos visto em 2011 é o avanço da criminalização dos movimentos sociais e da pobreza. Trata-se de uma face ainda obscura, mas bastante dolorida, dos rumos econômicos, políticos e sociais do país no século XXI. Cabe evidenciar outras situações já ocorridas neste ano.

Em maio, no Pará, estado que concentra o maior número de assassinatos no campo, o casal de seringueiros José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foi assassinado em virtude da defesa da floresta e dos direitos de seus povos. Ainda no Norte, só no Amazonas existem 31 pessoas listadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) com ameaças de morte.

No Rio de Janeiro, em 12 de agosto, a juíza Patrícia Acioli, de São Gonçalo, teve o corpo alvejado por vários tiros, após ataque de policiais por ela investigados. Exatamente um mês depois, Márcia Honorato, militante da Rede contra a Violência (RJ), sofreu uma nova tentativa de assassinato, quando um Siena cinza com homens encapuzados, vistos em articulação com policiais locais, tentaram atropelá-la por mais de uma vez, na tarde e noite do dia 12 de setembro.

Em Minas Gerais, em 14 de junho, Lacerda e Eliane, também do MTST, sofreram uma tentativa de homicídio e só não perderam a filha porque a arma travou. Ao tentar fugir, Lacerda foi alvo de disparos. Durante a investigação, a polícia mineira inverteu o jogo: Lacerda, vítima de tentativa de homicídio, foi colocado como criminoso, por meio da acusação de porte de arma e desacato à autoridade. Em Goiás, padre Geraldo vive ameaçado pelas milícias que denunciou por tortura e extermínio dos jovens que assessora. Ameaças e tentativas de assassinato também ocorreram em Recife, São Paulo e várias outras cidades do país.

Hoje, a criminalização dos movimentos e da luta social envolve, em geral, dois aspectos centrais:

a) a criminalização do protesto e da vida cotidiana da periferia.

Diversos aspectos recentes fizeram que a vida na periferia fosse associada ao crime. O primeiro diz respeito ao conceito constituído no âmbito do Estado de como coibir a violência, em especial aquela fruto da desigualdade social e da pobreza, com repressão policial e isolamento geográfico. Os casos clássicos − Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), no Rio, e Força Nacional, no entorno do DF − mostram essa vinculação de território e repressão de maneira direta. A política de “segurança” substituiu a ausência da política de inclusão social e transformou a vida nas periferias no lugar comum do abuso da violência policial e da repressão ativa.

O crescimento do tráfico representa de forma concreta a morte de jovens, mas serviu também como desculpa para essa “transmutação” do conceito de combate à pobreza: de política social para repressão. Em nome do combate ao tráfico, e posteriormente da proteção das regiões ricas e de grandes eventos, permite-se a abordagem truculenta e a humilhação física e moral da população pobre.

Por fim, em áreas ora dominadas pelo tráfico, ora pela repressão, fica difícil a tomada de consciência e a organização para a conquista ou a defesa de direitos. O sentimento de impunidade, que remonta ao período da ditadura militar, diminui ainda mais as chances de organização. Quando se limitam as possibilidades de protesto, escancara-se a porta para o capital que destrói direitos (sociais, humanos e de território) por meio das políticas do fato consumado e, com o apoio oficial, impede a denúncia, por parte da população, de seus direitos desrespeitados.

b) a associação da luta organizada como uma ameaça à sociedade e ao statu quo, e não mais como um direito.

A criminalização da pobreza ganha complexidade quando analisamos sua transposição para a criminalização da luta em si. Primeiro, ao generalizar o conceito de terrorismo − principalmente a partir dos ataques de 11 de setembro − a qualquer ação organizada da periferia, os principais meios de comunicação colocam numa escala desigual o debate com a sociedade. Ao dar voz somente ao lado opressor, sejam os agentes das grandes empresas do campo e da cidade, da especulação imobiliária ou do próprio governo, esses meios deturpam por completo o que resta de democracia no país.



Envolvimento da polícia

Segundo, na maioria dos “acertos de contas” feitos com ativistas encontra-se o envolvimento da polícia, seja com presença direta de agentes no atentado ou em tentativas de coerção, seja na omissão das próprias delegacias em investigar. Assim, o medo de que a denúncia possa causar efeito contrário faz que boa parte das ameaças não seja registrada e reforça ainda mais a impunidade.

Outro item que impede a proteção e a segurança aos militantes é o acesso à justiça como um todo. A diferença de poder econômico entre os entes, a coerção e as ameaças feitas a juízes e promotores comprometidos com a justiça social implicam acessos assimétricos ao poder e, portanto, muitos casos não investigados. Ademais, constata-se o aumento de decisões judiciárias em relação a interditos proibitórios, anulação de greves ou omissão perante ações desproporcionais. Boa parte do judiciário brasileiro acaba por reforçar o processo de criminalização dos movimentos sociais.

Esse crescente processo encontra eco na ausência de políticas públicas e na dificuldade de relação dos movimentos com o governo, que vincula o diálogo à institucionalização do movimento. Por vezes, esse diálogo é condicionado à negação de direitos (como nas greves) ou após o fato consumado (derrubada de moradias e ocupações populares), fazendo que o Estado aja em nome do opressor.

A agilidade do Executivo em cumprir a agenda do capital, modificando leis para criar um estado de exceção e repressão, contrasta com a não execução das políticas públicas capazes de promover direitos e a ausência de ações/recursos para proteção de pessoas ameaçadas.

Com a união desses fatos, criam-se as condições que permitem o aumento dos atentados e assassinatos de pobres e lideranças populares, bem como o próprio sentimento de impunidade dos demais agentes, sejam gangues organizadas, setores da polícia e do governo ou, principalmente, capangas dos grandes setores empresariais, que ganham e acumulam pela retirada de direitos da população.

A não resolução desse problema afeta princípios básicos da liberdade de organização do povo brasileiro. Os fatos deste ano mostram que, na base da ameaça e da morte, constrói-se um estado de exceção e ditadura aos povos e de ampla liberdade para o capital.

Francisco Carneiro de Filippo

Economista, militante do PSOL-DF e da Assembleia Popular.



Ilustração: Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - (http://www.mtst.org)

Veja mais sobre o atentado em http://www.mtst.org/index.php/inicio/165-militante-do-mtst-sofre-atentado-no-distrito-federal-.html


Palavras chave: crime, legislação, insegurança pública, violência, movimentos sociais, Estado de exceção, sociedade, Brasil, Executivo, direitos humanos, polícia, protestos, criminalização, Rio de Janeiro, Patrícia Acioli, pobreza

Fonte: http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=1022

Monday, October 17, 2011

La policía decide no desalojar a los encerrados en el hotel de Madrid

Autoritarismo e ditadura são modalidades de governos sempre a espreita, veja abaixo:



La policía decide no desalojar a los encerrados en el hotel de Madrid


Dos edificios ocupados, uno en Madrid y el otro en Barcelona, permanecen hoy lunes como herencia de la gran movilización que el sábado sacó a la calle a decenas de miles de personas convocadas por el Movimiento 15-M. El de la capital es un antiguo hotel, de nombre Madrid, situado en el número 10 de la calle Carretas, cerca de la Puerta del Sol, a donde ha acudido esta mañana un representante de los propietarios junto con cinco o seis policías, que han decidido no desalojarlo por la fuerza. Los indignados ni les han abierto ni les han dejado entrar. Está abandonado desde hace varios años y sus dueños, el grupo inmobiliario Monteverde, en concurso de acreedores.


Un joven, en el edificio ocupado en Madrid. / CRISTÓBAL MANUEL
Los agentes y el representante, un arquitecto, han hecho acto de presencia sobre las 10.45 en la puerta del inmueble, de cinco plantas, con cafetería, sala de juegos, sótano y azotea, y se ha corrido el rumor de que se iba a producir el desalojo, por lo que unas 200 personas han acudido en apoyo de los encerrados. Con gritos de "la nueva casa del pueblo", los concentrados han observado desde el otro lado de la calle a los policías, que han llamado a la puerta y han tratado de convencer a los okupas de que depusieran su actitud y salieran por su propio pie. No lo han logrado. Aunque la policía puede llevar a cabo un desalojo sin autorización judicial durante las primeras 48 horas, los agentes han concluido que era mejor no hacerlo.

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El arquitecto ha intentado hablar con ellos, también sin éxtito. Por una rendija de la puerta ha colado una nota con su teléfono con la esperanza de que se pongan en contacto con él para negociar. "Lo que quiere la inmobiliaria es que nombren un interlocutor para hablar con ellos y que salgan por las buenas", ha declarado el representante. Según el arquitecto, la propietaria no ha puesto denuncia por estos hechos porque ya hay una puesta desde septiembre por una okupación previa a esta. El representante desconoce quiénes son y no ha querido especular con que los inquilinos que ya había en el viejo hotel están relacionados con el 15-M.

Viendo que no había nada que hacer, el arquitecto se ha ido, con la esperanza de que le llamen. La policía también se ha retirado. En la fachada continúan colgados los carteles La casa del Pueblo y Ateneo Popular. Dado que ni dejan entrar a los medios ni quieren hacer declaraciones, se desconoce cuánta gente hay dentro, aunque se ha podido ver a unas cinco personas asumándose por las ventanas. En un primer momento iban con el rostro tapado por bufandas o pañuelos, incluso una máscara egipcia, pero a lo largo de la mañana se las han quitado. "Nos tocan a uno, nos tocan a otros", les gritaban desde abajo los congregados para apoyar su causa. Junto a ellos hay muchos curiosos y una veintena de periodistas. Desde fuera les pasan manzanas y otros alimentos.
La policía decide no desalojar a los encerrados en el hotel de Madrid

Localización de los edificios ocupados
"Los jefes están buscando una solución a este asunto", ha avanzado una empleada de Monteverde, que realiza sus inversiones en el sector inmobiliario de lujo. La compañía presentó en 2010 un concurso voluntario de acreedores por no poder hacer frente a los 170 millones de euros que acumulaba en deudas. Aún así, el grupo confiaba en una nota que hizo pública en el valor de sus activos y negociaba con sus acreedores un plan de pagos para poder salir del proceso concursal.

El 15-M decide en asamblea a partir de las seis de la tarde en la plaza de jacinto Benavente qué uso dar el edificio: espacio asambleario, refugio para desahuciados, vivienda de los disidentes cubanos acampados frente al Ministerio de Exteriores o sencillamente como centro social. O todo a la vez. Lo que está claro es que en el interior caben todas las propuestas y los ideales del 15-M. Durante horas ya se abordó ayer el tema en asamblea. “Debe quedar claro que la ocupación es provisional”, explicaba con un megáfono un miembro del 15-M.

Fonte: http://politica.elpais.com/politica/2011/10/17/actualidad/1318805362_448336.html

MAIS UM MINISTRO - A BOLA DA VEZ - Orlando Silva

São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Dilma convoca ministro do Esporte para dar explicações

Presidente manda Orlando Silva interromper viagem para apresentar defesa

Ministro é chamado às pressas para reunião com Gleisi; PC do B traça estratégia para esvaziar acusações

ANDRÉIA SADI
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

O ministro do Esporte, Orlando Silva (PC do B), antecipou sua volta do México ao Brasil após ser convocado pelo Palácio do Planalto a dar explicações sobre as acusações de corrupção na pasta, que chefia desde 2006.
Ele foi chamado às pressas para reunião que ocorreu ontem à noite com a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), na casa de Gleisi, em Brasília.
No encontro, Silva disse que "vai às últimas consequências" para provar que não compactou com nenhuma irregularidade. O ministro ouviu dos colegas que é importante para o governo que ele "se prepare e se antecipe" prestando todos os esclarecimentos. Silva é acusado de participação num esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que dá verba a ONGs para incentivar jovens a praticar esportes.
A acusação foi feita à revista "Veja" pelo policial João Dias Ferreira. Segundo ele, o ministro teria recebido dinheiro vivo na garagem da pasta, o que Silva nega.
À Folha, o ministro disse que está sendo alvejado porque a pasta "cresceu demais" em recursos por causa da Copa-2014 e da Olimpíada-2016.
Ele repetiu o mesmo argumento para Gilberto Carvalho e Gleisi Hoffmann. O titular do Esporte foi para o encontro munido de documentos. Não chegou a mostrá-los porque os ministros destacados por Dilma não acharam necessário.
Eles apenas pediram ao colega que se prepare, porque a Polícia Federal "não vai maneirar". Silva disse que pretende acionar também o Ministério Público Federal.
O ministro estava em Guadalajara acompanhando os Jogos Pan-Americanos e embarcou de volta para São Paulo na noite de sábado, primeiro dia de competições.
Horas antes, ele havia dito a jornalistas que a presidente Dilma Rousseff o orientara a seguir com sua agenda. Silva disse ontem que mudou os planos após ser convocado a retornar ao Brasil.
Ao desembarcar em São Paulo, ele se reuniu com assessores para combinar sua defesa. Na mesma noite, Dilma embarcou para a África. Na avaliação do governo, uma eventual demissão é considerada "péssima" em um momento em que o Executivo tenta resolver impasses e acelerar obras da Copa.
Também ocorre quando o Planalto está tendo dificuldades com a CBF e com a Fifa, tentando destravar pontos conflitantes na Lei Geral da Copa, como a meia-entrada para os eventos do mundial.
Por ora, o Planalto seguirá o receituário de crises anteriores: caberá ao próprio ministro da sair da situação delicada. Do contrário, ele pode ter o mesmo destino dos quatro colegas que deixaram a Esplanada após acusações.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1710201102.htm

A falta de atendimento nos hospitais no Rio de Janeiro

A falta de atendimento nos hospitais no Rio de Janeiro – RJ revela o quanto o governador e o prefeito, representantes do poder público demonstram incompetência na gestão dos seus governos, podemos verificar que eles não estão preocupados com a situação do cidadão do Estado e da cidade do Rio de Janeiro, pois o negocio é ganhar muito dinheiro com o desenvolvimento da cidade e do Estado com as Olimpíadas e Copa do Mundo.

Daner Hornich

Militares, ciências, Educação Popular.

A pandemia atual expõe a falácia de alguns dogmas sobre a pós modernidade, ela mesma integra a lista dos enunciados falsos de evidências lóg...