Wednesday, January 28, 2015

DESIGUALDADE SOCIAL: ONU: pobreza para de cair na AL e número de indigentes cresce no Brasil

ONU: pobreza para de cair na AL e número de indigentes cresce no Brasil

Indicador na região se mantém no mesmo nível desde 2012, segundo um dados da Cepal

Mulher busca restos de alimentos na Cidade do México. / SAÚL RUIZ
A América Latina permanece com os mesmos níveis de pobreza de 2012. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe(Cepal, um órgão da ONU) publicou um relatório no qual revela que 28% da população da região está abaixo da linha de pobreza. O estudo Panorama Social da América Latina 2014 mostra um estancamento desses índices nos últimos três anos. “A pobreza persiste como um fenômeno estrutural que caracteriza a sociedade latino-americana”, concluiu a Comissão.
Durante 2014, a região se beneficiou da recuperação econômica mundial e manteve um crescimento de 2,5%, superior à média mundial de 2,2%. Entretanto, a Cepal admitiu que esse impulso de pouco serviu para o combate à pobreza. “A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de proteção social que diminuam a vulnerabilidade frente aos ciclos econômicos”, indica o relatório. Além disso, o estudo observa que a taxa de inflação da região aumentou de 5,3% para 6,8%, puxada principalmente pela alta dos preços na Venezuela.
As projeções da Cepal indicam que 167 milhões de pessoas vivem na pobreza na América Latina, sendo 71 milhões delas na pobreza extrema. Embora o percentual de pobres se mantenha igual nos últimos três anos, o relatório observa que o número absoluto cresceu, por causa da expansão demográfica.
Apesar de a América Latina não demonstrar progressos notáveis, pelo menos cinco países tiveram redução da pobreza em 2013. São eles:Paraguai (de 49,6% da população em 2011 para 40,7% em 2013), El Salvador (de 45,3% em 2012 para 40,9%), Colômbia (de 32,9% em 2012 para 30,7%), Peru (25,8% em 2012 para 23,9%) e Chile (10,9% em 2011 para 7,8% em 2013).
O Brasil registrou uma queda de 0,6 pontos percentuais na taxa de pobreza entre 2012 e 2013 (de 18,6% para 18%), mas um incremento de 0,5 pontos percentuais na taxa de indigência (de 5,4% para 5,9%). No quadro geral, o Brasil tem o terceiro menor número de indigentes na América Latina, entre os 17 países que forneceram dados sobre o assunto, perdendo apenas para Chilo (2,5%) e Uruguai (0.9%).
A Comissão mensurou cinco indicadores para avaliar as carências da população: moradia, serviços básicos, educação, emprego e posse de bens duráveis. Assim, concluiu que setores como os jovens e as mulheres são os mais atrasados, e recomendou que eles sejam atendidos com políticas públicas específicas. Com essa mensuração multidimensional, a organização determinou que entre 2005 e 2012 a incidência da pobreza diminuiu em 17 países, de 39% para 28%.
A Cepal informou que uma de suas principais preocupações é a queda do gasto público destinado aos programas sociais. Depois da crise de 2008, os governos da região intensificaram a oferta de recursos para o combate à pobreza, mas entre 2012 e 2013 notou-se uma “desaceleração do crescimento do gasto social”. Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal, afirmou que nesse panorama será indispensável reforçar as ações dos governos contra a pobreza. “Agora, num cenário de possível redução dos recursos fiscais disponíveis, são necessários maiores esforços para sustentar tais políticas, gerando bases sólidas a fim de cumprir os compromissos da agenda de desenvolvimento pós-2015.”

Em quinto ato contra a tarifa em São Paulo, MPL testa resistência

Em quinto ato contra a tarifa em São Paulo, MPL testa resistência

Manifestação, na zona oeste de São Paulo, termina de forma pacífica. Novo ato será quinta

Pela quinta vez no ano, o Movimento Passe Livre foi às ruas de São Paulo protestar contra o aumento da tarifa do transporte público. A manifestação ocorreu na zona oeste da cidade, com concentração no Largo da Batata. Por volta das 18h30, a marcha seguiu pela Avenida Faria Lima, descendo a Marginal Pinheiros e retornando ao ponto de partida por volta das 22h. Não houve repressão policial nesta manifestação que reuniu 4.000 pessoas, segundo o MPL, ou 1.500, segundo a Polícia Militar.
O quinto ato contra a tarifa mostra a resistência do Movimento Passe Livre e seu poder de mobilização. Ainda que o número de manifestantes não cresça significativamente com o passar das semanas, também não diminui. Outros movimentos e demandas, não ligadas diretamente ao MPL, parecem querer se colar a essa solidez. No ato de ontem, cartazes com os dizeres "água sim", referência à crise hídrica pela qual o Estado de São Paulo vem passando há um ano, se mesclavam com outros escritos "tarifa não". O outro protesto da semana, com o tema da água, não vingou: ao ato "Banho coletivo na casa do Alckmin", para protestar contra a falta d'água em frente ao Palácio dos Bandeirantes, na segunda, só foram 40 pessoas, apesar de 160.000 terem confirmado presença no Facebook.
Embora seja o quinto ato do ano, é apenas a segunda vez que não há repressão policial. Para Heudes Oliveira, do MPL, o diálogo com a polícia é fundamental para que o ato siga de forma pacífica. "Dessa vez a gente conseguiu acessar o nosso roteiro", disse. "Decidimos que iríamos pela Marginal e ninguém nos impediu. De acordo com a Major Dulcinéia, PM que comandava o patrulhamento dessa manifestação, o efetivo policial era composto por 350 policiais, 60 viaturas e 46 motocicletas.
"Vocês reclamam de 50 centavos, mas lá se roubaram 20 milhões!", lançou um homem, em referência ao escândalo da Petrobras, quando a manifestação passou por uma pizzaria frequentada pela classe média e alta da cidade do bairro. Foi ignorado.
Apesar de o ato ter sido pacífico, ao final da manifestação, por volta das 23h, houve um tumulto na estação Faria Lima, da linha 4-Amarela do Metrô, onde a PM usou bombas de gás para dispersar os manifestantes. Em seu Twitter, a Polícia Militar justificou a ação informando que "empregou os meios necessários para restabelecer a ordem no interior da estação" --segundo a corporação, alguns manifestantes tentaram impedir o acesso dos usuários ao metrô e bloquearam as catracas.
Uma nova manifestação do MPL está marcada para esta quinta-feira 29, a partir das 17h, em frente ao MASP, na Avenida Paulista.

Papa recebe transexual espanhol em audiência privada em Roma

Papa recebe transexual espanhol em audiência privada em Roma

Homem perguntou “se havia lugar” para ele na casa de Deus e Francisco o abraçou

O Papa, durante uma missa na basílica em 25 de janeiro. / ANDREAS SOLARO (AFP)
O papa Francisco recebeu no sábado, 24 de janeiro, um transexual espanhol, Diego Neria Lejárraga, de 48 anos, depois que este entrou em contato com o Sumo Pontífice para pedir-lhe apoio diante da rejeição e da incompreensão que sofre por conta de sua mudança de sexo, segundo publicação do jornal Hoy da Estremadura, confirmado por fontes da igreja.
O encontro, do qual não existem imagens por ter sido uma audiência privada na residência papal de Santa Marta, ocorreu depois de Neria Lejárraga, religioso desde criança e católico praticante, enviar uma carta ao Papa na qual lhe contou a rejeição que sofreu em sua localidade natal, Plasencia (Cáceres), de 40.000 habitantes, a qual regressou após submeter-se a uma operação de cirurgia para mudança de sexo.
Diego Neria Lejárraga nasceu mulher, mas sempre sentiu-se homem, segundo detalha o jornal. “Minha prisão era meu próprio corpo”, lembra. Quando criança, escrevia cartas aos Reis Magos _na Espanha uma tradição forte quanto escrever cartas ao Papai Noel_  nas quais pedia que o transformassem em homem. Sempre contou com o apoio de sua família, mas sua mãe lhe pediu que não operasse enquanto ela vivesse, de acordo com a agência italiana ANSA. Pouco depois da morte de sua mãe, quando Diego tinha 40 anos, decidiu realizar uma cirurgia plástica e, pouco a pouco, começou a mudar seu corpo, indo para Madri.
Quando voltou para Plasencia, seu aspecto físico havia mudado e recebeu a rejeição de parte de seus conhecidos. A atitude dos religiosos era o que mais lhe doía. “Como você se atreve a entrar aqui na sua condição? Não é digno”, ouviu de alguns católicos quando Diego quis voltar para sua igreja. “Você é a filha do diabo”, diz ter ouvido um dia em plena rua da boca de um padre.
Neria se trancava em casa chorando e decidiu escrever para o Papa, conforme relata o jornal. “Nunca me atrevi antes [a pedir ajuda a um Papa], mas com Francisco sim; depois de ouvi-lo muitas vezes, senti que ele me escutaria”, confessa.
Mandou a carta através do bispo de Plasencia, Amadeo Rodríguez Magro, em quem afirma ter encontrado consolo e apoio. Após receber sua carta, Francisco lhe telefonou no final do ano passado, especificamente no Dia da Imaculada. A ligação era de um número privado e, ainda que Diego não costume atender quando isso acontece, dessa vez o fez. “Sou o papa Francisco”, foi a primeira coisa que disse, para acrescentar que suas palavras haviam “tocado minha alma” e que gostaria de conhece-lo. Pouco antes do Natal, voltou a ligar para marcar a data de 24 de janeiro.
Lejárraga compareceu ao encontro com o Pontífice acompanhado de sua noiva em uma reunião privada que aconteceu no sábado, às 17 horas (14h de Brasília). Durante a conversa, perguntou ao Santo Padre “se havia lugar” para ele na casa de Deus. A resposta de Francisco foi abraçá-lo, de acordo com o jornal. “Se eu pudesse escolher, não teria escolhido minha vida”, se lamenta.
O Papa deixou clara sua postura para com os gays e a orientação sexual das pessoas no ano passado quando, ao ser questionado por um jornalista, respondeu: “Quem sou eu para julgá-los?”. “Os homossexuais devem ser respeitados, como é respeitada a dignidade de toda pessoa independentemente de sua tendência sexual”, acrescentou.
Não é a primeira vez que o Papa liga pessoalmente para a Espanha. Em janeiro do ano passado, o pontífice telefonou para dar Feliz Ano Novo para freiras argentinas que vivem em um convento de Lucena (Córdoba). Como ninguém atendeu, Francisco deixou uma mensagem na secretária eletrônica: “Sou o papa Francisco. Tentarei ligar mais tarde”. Em agosto, ligou para um jovem de Granada que relatou por carta os abusos que sofreu por parte de vários padres.“Boa tarde, filho, sou o padre Jorge”, disse antes de pedir-lhe perdão.

A voz inesgotável dos sobreviventes de Auschwitz

A voz inesgotável dos sobreviventes de Auschwitz

Primo Levi, Elie Wiesel, Imre Kertész e Odette Elina escreveram obras-primas

Campo nazista de Auschwitz-Birkenau em Oswiecim, Polonia. / JOEL SAGET (AFP)
Cerca de 1.500 sobreviventes estavam presentes no 60º aniversário da libertação de Auschwitz. Agora, uma década depois, foram apenas 300. Os historiadores calculam que, de 1,3 milhão de pessoas deportadas para lá, em torno de 200.000 sobreviveram à passagem por esse campo de extermínio. Setenta anos depois da entrada das tropas soviéticas no local, a era dos que lá estiveram vai chegando ao fim, pois as testemunhas oculares – tanto as vítimas quanto os carrascos – estão se extinguindo pouco a pouco. Há dez anos, quando publicou sua monumental pesquisa sobre o campo, o historiador britânico Laurence Rees já se sentia angustiado com a iminência dessa inevitável ausência. “Em pouco tempo, o último sobrevivente e o último criminoso se reunirão àqueles que foram assassinados no campo”, escreve em Auschwitz, livro (inédito no Brasil) que serviu de base para um documentário homônimo da BBC. “Então não restará ninguém neste mundo que tenha conhecido diretamente o que ocorreu nesse lugar. E existe o perigo de que, quando isso acontecer, a história se misture ao passado distante e se transforme apenas em um acontecimento terrível entre tantos outros.”
Existem centenas de depoimentos gravados, milhares de livros, museus de um rigor impressionante e fotos horripilantes por sua naturalidade – como a série de judeus húngaros, escolhidos para as câmaras de gás, que esperam sua vez conversando, sentados em um gramado, alheios ao terrível destino que lhes cabe. E, claro, resta o próprio campo de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco e que está sendo preparado para uma grande transformação, justamente pelo desaparecimento das testemunhas oculares. Os responsáveis pela gestão do antigo campo nazista encaram a sua complexa restauração e a adaptação do museu para gerações que não viveram a II Guerra Mundial. Também, e não é assunto fútil, para uma Europa que em algum momento julgou ter se livrado da sombra do fascismo e do antissemitismo, quando na realidade está demonstrando exatamente o contrário.
No entanto Auschwitz – e em sentido mais amplo a Shoah(Holocausto, em hebraico – oferece uma forma ímpar de memória, indelével, que adia até certo ponto, e talvez para sempre, a desaparição das testemunhas: um punhado de obras literárias inesquecíveis, testemunhos vivos do horror, que conseguem narrar o inenarrável. Os livros dos que estiveram lá, alguns já mortos, outros ainda vivos: Primo Levi (1919-1987) com sua trilogia sobre Auschwitz, que começa com É Isto Um Homem? (Rocco); Elie Wiesel (1928) com a trilogia Night,Dawn e Day (do qual o primeiro foi lançado no Brasil pela Ediouro como A Noite); Imre Kertész (1929) com Sem Destino (Planeta); e Odette Elina (1910-1991), menos conhecida, embora não menos importante que os anteriores, porque só escreveu um livro, Sans Fleurs Ni Couronnes (“sem flores nem coroas”, inédito no Brasil). São obras que atingem os píncaros da literatura universal e, ao mesmo tempo, servem como testemunhos imprescindíveis da “noite mais negra da humanidade, quando milhões de pessoas sofriam e morriam sob o terror nazista”, como escreveu William Styron, autor de um notável romance sobre o campo, A Escolha de Sofia.
Entretanto, por mais que O Menino do Pijama Listrado tenha vendido milhões de exemplares (mostrando o inesgotável interesse do leitor pelo Holocausto), a ficção não pode ser o veículo para entrar na memória do campo. À lista anterior seria preciso acrescentar ODiário de Anne Frank, a menina holandesa morta em Bergen-Belsen após passar por Auschwitz, e cujas memórias são um dos poucos livros que podem ser considerados universais; Maus(Companhia das Letras), HQ de Art Spiegelman que relata a história do seu pai e que é uma indelével reflexão sobre os sobreviventes do Holocausto; as memórias do psiquiatra Viktor Frankl, Em Busca de Sentido (Vozes), e Shoah, documentário de Claude Lanzmann que relata o conjunto dos campos de extermínio.
“Que este testemunho possa despertar neles o horror do nazismo, mas também a esperança no futuro do homem”, escreve Odette Elina, judia francesa, deportada também como resistente, que consegue capturar o inexprimível em menos de 100 páginas. Entretanto, seu livro, como os de Primo Levi, Kertész (prêmio Nobel de Literatura) e Wiesel (prêmio Nobel da Paz) tem um fundo profundo de desesperança porque gira em torno do grande tema colocado pela Shoah: a sobrevivência e a desumanização, a destruição dos seres humanos sob o terror máximo do extermínio.
“O ódio entre os detidos, aquele ódio surgido da luta pela vida”, afirma Elina. “As bestas querem nos arrebatar o que nos resta de dignidade, querem deixar em nós apenas os instintos animais”, prossegue. Wiesel relata como, quando tratava de salvar o pai, muito doente, o chefe do barracão lhe diz: “Ouça-me bem, pequeno. Não esqueça que está em um campo de concentração. Aqui cada um deve lutar por si mesmo e não pensar nos outros. Nem sequer em seu pai. Aqui não há pai que valha, nem irmão, nem amigo. Cada um vive e morre para si, sozinho. Ofereço-te um conselho: não dê mais sua ração de pão e sopa a seu velho pai. Não pode fazer nada por ele. E você se mata a si mesmo. Ao contrário, deveria receber a ração dele”. Primo Levi o diz assim: “É homem quem mata, é homem quem comete ou sofre injustiças; não é homem quem, perdido todo o recato, compartilha a cama com um cadáver. Quem esperou que seu vizinho terminasse de morrer para lhe tirar um quarto de pão, está, embora sem culpa, mais distante do homem pensante do que o sádico mais atroz”.
São apenas pequenos fragmentos de obras literárias imensas e ao mesmo tempo testemunhos documentais inesgotáveis que nunca acabaremos de ler porque nunca terminaremos de entender. Como disse Elie Wiesel em uma entrevista a este jornal: “Existem na humanidade forças tenebrosas, destruidoras; dado que essas forças estão vivas e atuam, é aí onde o desafio se apresenta ao homem. Mas não basta com a vigilância. O acontecimento é ontológico, transcendente. Não podemos dizer que há somente uma lição. Há mil lições e não há nenhuma. Ainda não conseguimos abordar esse tema. Ele está fora de todo entendimento, de toda percepção. Podemos comunicar alguns retalhos, alguns fragmentos; mas não a experiência. O que vivemos ninguém o conhecerá, ninguém o compreenderá”.

Militares, ciências, Educação Popular.

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