Sunday, October 18, 2015

A crise política econômica brasileira é um embuste

A crise política econômica brasileira é um embuste

A crise política, econômica, social e jurídica pela qual passamos no Estado brasileiro é produto do sistema financeiro internacional e das nossas debilidades de não saber pensar o Brasil para todos. Tal crise se configura como uma fraude e um embuste de primeira grandeza ao colocar todos os brasileiros num processo de simbiose, de letargia e da repetição da mesma ladainha ou mantra sobre os problemas que vivemos. Vamos aos fatos pelos pressupostos indicados:
O primeiro pressuposto é a política porque essa crise produzida é política e não simplesmente econômica, ou seja, o plano econômico ou de ajuste é um artifício projetado e criado por pessoas que fazem determinadas escolhas em detrimentos de determinados grupos que defendem determinadas construções de sociabilidade que visam o lucro para uma minoria específica e a degradação e a miséria da grande maioria[1]. Sobre essa questão especifica podemos verificar que os governos anteriores (de Collor a Lula) e o atual renderam-se ao mercado financeiro ou ao “deus mercado” idolatrado por todos como o novo processo de “religação” entre os homens e mulheres do sistema mundo que se rende a hegemonia do Capital[2].
O Segundo é o econômico que é um projeto de “financeirização da vida[3] em que as pessoas são sacrificadas para salvar os bancos e os donos do Capital num sistema de crédito e débito, derivativos podres e capital fictício. Sobre esse segundo pressuposto, podemos vislumbrar o plano de ajuste fiscal no Brasil como um embuste, pois tal plano é um artifício para promover o lucro do setor privado e o endividamento da dívida pública[4] brasileira em nome das atividades econômicas bancárias que lucraram mais 80 bilhões de reais em 2014[5] e no primeiro semestre deste ano alguns bancos obtiveram lucro de R$ 60, 3 bilhões com o país em crise[6]. Não é a toa que o ministro da fazenda é o office-boy do mercado financeiro, isto é Joaquim Levi representa os interesses privados dos setores financeiros, tanto quanto a ministra Kátia Abreu representa os interesses do agronegócio e não dos pequenos agricultores e de famílias que trabalham e vivem no campo. Para lembrar o leitor podemos perguntar: - quem de fato ganha com o aumento do dólar? Quem de fato dá as Cartas no mercado financeiro? O Brasil virou a bola da vez no cassino financeiro internacional?[7]  
Terceiro ponto é o social e aqui a sofística se completa e complementa com a ladainha que se repete com o palavrório para os nossos ouvidos e emoções a flor da pele, pois a ideia é falar, falar e falar que os projetos sociais que beneficiaram os pobres, levou a economia do país à falência, e que agora todos devem se sacrificar para tirar o país da crise e aumentar a nossa credibilidade nas agências de classificação de risco e investimento. Essa ladainha é uma mentira deslavada e podemos constar verificando o orçamento da união que destina somente 3,08% para assistência social (aqui temos a famosa bolsa família para os pobres e outros programas sociais), para saúde 3,98%, para a educação 3,73%, para habitação 0,00% e 45,11 % é uma transferia brutal do setor público para o setor privado com amortização de dívidas que beneficia os grandes empresários, as construtoras, as empreiteiras e os bancos com um repasse de 978 bilhões de reais para oligarquia financeira que comanda o país – detalhe o total executado do orçamento em 2014 foi de 2,169 trilhão[8].
Quarto e último ponto é o sistema judiciário brasileiro que entrou na lógica da ladainha do holofote da impressa que defende os interesses privados como uma retórica democrática e república dos senhores do mundo[9] que criam e elaboram suas leis para os seus próprios benefícios num “sistema de castas”, que mais se parece com uma oligarquia financeira. Contudo, os senhores juízes que são investidos da toga, os guardiões da constituição e dos direitos dos cidadãos, deveriam defender os direitos sociais e civis dos cidadãos brasileiros e não do sistema financeiro[10], com declarações inflamadas e irresponsáveis que demarca o interesse do Capital em detrimento do fosso social que coloca em descrédito as instituições políticas do país como um sistema esgarçado das “tripas ao coração”, instaurando assim a “guerra de todos contra todos” em seu processo de barbárie e violência do “homem como lobo do próprio homem” (Thomas Hobbes).            
Daner Hornich,
Piracicaba, 18 de outubro de 2015.



[2] “Em anos recentes, os líderes brasileiros falaram com prazer sobre sua independência ou seu desligamento da economia global, mas na verdade, mesmo com Lula e agora com Dilma no poder, eles se tornaram ainda mais dependentes do capital internacional ao aceitarem a dominância do neoliberalismo. Quaisquer que sejam as realizações progressistas alcançadas, elas foram severamente limitadas e agora, talvez, até revertida – pela submissão da economia brasileira às pressões do capital internacional, o que explica bem as condições que acabaram por levar à agitação atual” (WOOD, Ellen Meiksin. O império do capital. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 10).

[3] “Mas, como a vida social é cada vez mais regrada pelas leis da economia, seus requisitos modelam todos os aspectos da vida, não somente a produção e circulação de bens e serviços, mas também a distribuição de recursos, a disposição do trabalho e a própria organização do tempo”.  (WOOD, Ellen Meiksin. O império do capital. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 22)

Saturday, October 17, 2015

O Brasil está parado, mas os bancos continuam lucrando

O jornal Correio da Cidadania realizou entrevista com a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, a respeito dos acontecimentos na Europa, que envolvem a dívida pública grega, as semelhanças com o Brasil nas ilegitimidades  da dívida e a relação do crescimento desregulado da dívida pública brasileira com a atual crise política e econômica que o nosso país vive.

O Brasil está parado, mas os bancos continuam lucrando
Por Gabriel Brito e Paulo Silva Junior, da Redação do Correio da Cidadania
Continua a crise generalizada do governo de Dilma Rousseff, que acumula reveses em todas as frentes e sangra politicamente, atado por um Congresso abduzido pelo interesse privado há muito tempo. Para falar de tamanha crise, que agora registra o maior índice de desemprego desde 2010, conversamos com e economista Maria Lucia Fattorelli, que aproveitou para contar seu trabalho de auditoria sobre a dívida grega, ótimo exemplo do rumo que podemos ver o Brasil tomar.
“O país não recebe dinheiro, mas sim papeis. E tem de reembolsar a troika em dinheiro. De que forma? Aumentando impostos e cortando salários, aposentadorias, pensões, além de privatizar patrimônio. Um verdadeiro caos econômico e social, pois com tais reduções e cortes o desemprego é brutal, atinge mais de 60% dos jovens e todas as outras faixas em 30%. Os que mantiveram seus empregos sofreram redução forte nos salários. O PIB encolheu 22% de 2010 pra cá. O orçamento reduziu-se em mais de 40 bilhões de euros, cifra elevadíssima na economia grega”, explicou.
Trazendo a discussão para o Brasil, Maria Lucia vê um quadro devastador, capaz de devolver milhões de brasileiro aos nada saudosos patamares de miséria. Sempre fazendo questão de desqualificar o “economês”, a auditora fiscal expõe toda a espiral negativa determinada pelas políticas de ajuste fiscal, que anulam todas as possibilidades de reação da economia. E, diante da imensa perda de credibilidade do governo, não enxerga muita luz no fim do túnel.
“Nada das pautas estruturais foi objeto de enfrentamento. O que se fez foi política periférica, a exemplo do Bolsa Família e do programa Minha Casa Minha Vida. O atual momento do governo resulta do fracasso de todas as suas políticas. Tivessem sido enfrentadas as pautas estruturais, não passaríamos hoje pelo que estamos passando. E no momento, com toda a crise ética e política, aliada à crise econômica gerada por um modelo que todos sabiam que ia dar nisso, dado sua insustentabilidade, fica muito difícil segurar”, lamentou.
A entrevista completa, realizada em parceria com a webrádio Central3, pode ser lida a seguir.
Correio da Cidadania: Começando pelo plano internacional, o que você pode nos contar da sua experiência na Grécia, como membro da Comissão de Auditoria da Dívida daquele país, a convite de seu próprio parlamento?
Maria Lucia Fattorelli: Uma experiência muita rica e importante. Foi criada uma comissão pra auditar a dívida grega, mola-mestra da crise por que passa o país, composta por europeus, uma africana e duas latino-americanas. Uma grande honra representar o Brasil neste processo. Embora tenhamos feito um trabalho preliminar, porque tivemos apenas sete semanas, pouquíssimo tempo pra auditar uma dívida nacional. Assim, focamos no período de 2010 pra cá, quando começou a intervenção da chamada troika. Focamos nos contratos feitos a partir de então.
Foi incrível o que observamos. Ficou evidente que a Grécia não recebeu recursos. Foi um esquema pra beneficiar bancos privados, não só gregos, mas principalmente de outros países, que haviam comprado títulos antigos da Grécia e, também, foram atingidos pela crise financeira de 2008, dois anos antes da intervenção. E aquela crise era localizada no sistema financeiro. Assim, tais acordos de 2010 foram um verdadeiro esquema para reciclar os papeis podres de posse dos bancos privados, transferindo-os à Grécia e exigindo que o país tomasse novos empréstimos para liquidar tais papeis, que se fossem negociados em mercado não valeriam nada.
Portanto, a situação demanda o aprofundamento da auditoria, porque só o trabalho preliminar já demonstrou muitas ilegalidades e ilegitimidades, geração de dívidas sem contrapartida para a Grécia e o mais grave: a crise monetária se deve à ilegitimidade de tais acordos. O país não recebe dinheiro, mas sim papeis. E tem de reembolsar a troika em dinheiro. De que forma? Aumentando impostos e cortando salários, aposentadorias, pensões, além de privatizar patrimônio. Um verdadeiro caos econômico e social, pois com tais reduções e cortes o desemprego é brutal, atinge mais de 60% dos jovens e todas as outras faixas em 30%. Os que mantiveram seus empregos sofreram redução forte nos salários. O PIB encolheu 22% de 2010 pra cá. O orçamento reduziu-se em mais de 40 bilhões de euros, cifra elevadíssima na economia grega.
Dessa forma, as pessoas que têm condições, são bem formadas, falam outras línguas, saem do país. Mais de 110 mil pessoas abandonaram o país pra procurar emprego em outros lugares, outra perda muito grande, pois sabemos o quanto custa formar profissionais de nível superior, com mestrado, doutorado etc. Enfim, uma verdadeira tragédia.
Outro ponto grave: diante de tudo que comprovamos na auditoria, o governo chegou a resistir ao terceiro acordo proposto pela troika e os países da União Europeia e convocou o referendo de 5 de julho. O próprio primeiro-ministro, Alexis Tsipras, disse que se o povo dissesse “sim” ao novo acordo de austeridade ele renunciaria. O povo disse “não” e, logo em seguida, ele passou a defender o acordo que repudiava! Ninguém entendeu nada. Tsipras acabou assinando o acordo em 20 de julho e renunciou.
Agora o país fez novas eleições e a sociedade vive um grande desânimo. Foi feita toda uma apuração para que no final se assinasse o terceiro acordo, que aprofunda ainda mais os problemas sociais e econômicos do país. Uma verdadeira tragédia, e tudo para salvar bancos, que transferem sua crise aos países. Isso mostra a urgência de analisarmos tal assunto.
Correio da Cidadania: Como enxergou a renúncia do primeiro-ministro Alexis Tsipras e o desmembramento do próprio partido que vencera as eleições em janeiro, o Syriza, culminando em nova eleição que o reelegeu?
Maria Lucia Fattorelli: Terrível. Todos nós acompanhamos a tremenda pressão que a Grécia sofreu. Todos os jornais do mundo tinham a Grécia na manchete nas semanas do referendo e que antecederam o acordo. Diziam que se não tivesse acordo toda a economia europeia, e de outras partes do mundo, seria abalada. Terrorismo total.
E quando analisamos bem, perguntamos: a economia da Grécia é 2% da europeia. Como 2% derrubam 98%? Não há qualquer coerência nessa pressão toda. Por que não deixar o país resistir? Fizeram uma verdadeira tortura, exigiram a saída do Varoufakis e chegou-se à capitulação. Isso se não houve outro tipo de ameaça. Não temos provas, mas evidencia-se a capitulação porque o primeiro-ministro passou a defender outra ideia. Mas por que, que tipo de ameaça ele pode ter recebido, ou o próprio país? Sabemos que é brutal a pressão exercida pelo sistema financeiro mundial.
Uma pena, porque a Grécia tinha apoio popular e formulação. O Syriza chegou ao poder com a proposta de resistência. Puxa vida, organizam tudo, ganham eleições, o parlamento convoca auditoria, que prova as ilegalidades; convoca-se referendo, que respalda o “não” à política de austeridade. Pra depois capitular? Claro que houve grande abstenção nas eleições.
O povo está muito desanimado e abalado. O índice de suicídios é uma calamidade, tem até programa do Ministério da Saúde para demover as pessoas da ideia, quase em tom de clamor. As pessoas estão desesperadas, não enxergam saída alguma, principalmente depois da capitulação. É um quadro dificílimo para o país se recuperar, depois do alento da chegada do Syriza ao poder. Agora temos o racha já mencionado no Syriza e dificilmente se conseguirá construir outra força para reagir. Não à toa a troika comemorou efusivamente a renúncia do Tsipras e a assinatura do acordo.
Correio da Cidadania: Vindo ao Brasil, o caráter da nossa dívida pública é similar ao que você viu na Europa?
Maria Lucia Fattorelli: Em todas as oportunidades que já tivemos de auditar a dívida oficialmente, como no caso da Grécia e do Equador, assim como no próprio Brasil durante a CPI da Dívida (que foi uma investigação bem aprofundada), sempre comprovamos a existência de um mesmo sistema de dívida. Claro que cada lugar tem suas peculiaridades, mas o modus operandi do “sistema da dívida” é igual.
Sistema da dívida é a utilização do instrumento de endividamento público às avessas. Tal instrumento é muito importante. É legítimo que o Estado, em qualquer nível – municipal, estadual ou federal – lance mão de empréstimos para complementar os recursos necessários aos seus investimentos. Mas o que verificamos? Os recursos não chegam, a dívida não tem contrapartida e há um esquema que meramente transfere dinheiro para o setor financeiro. Tais características se dão em todos os lugares por que passamos.
A Grécia não recebeu dinheiro. Eram papeis a serem reciclados. Aqui no Brasil, temos uma investigação histórica, principalmente da década de 70 pra cá. Já vimos dados bem antigos. Nossa primeira dívida, da Independência, lá em 1822, já foi dentro desse esquema. Sem contrapartida. Quando o Brasil se tornou independente, Portugal havia contraído uma dívida junto a Inglaterra para evitar nossa independência. Ao não conseguir barrá-la, nos transferiram tal débito, de mais de 3 milhões de libras esterlinas. E esse dinheiro nunca chegou aqui. Registramos a dívida e já nascemos devedores, com juros, de um dinheiro que nunca recebemos. Isso que se chama de sistema da dívida: o empréstimo sem contrapartida.
Hoje em dia temos verificados vários mecanismos geradores de dívida sem contrapartida. Tanto interna quanto externa. No Equador também vimos o mesmo, assim como nos âmbitos estaduais e municipais. Cada um tem suas peculiaridades, mas os mecanismos se repetem. É uma usurpação do instrumento, que onera o Estado e beneficia sempre, invariavelmente, o setor financeiro privado.
Correio da Cidadania: Dentro de tal contexto, como você enxerga a ausência desse assunto em nossos debates, em um ano de severos cortes de orçamento social, anunciados seguidamente pelo governo e sua equipe econômica?
Maria Lucia Fattorelli: É um ponto importante, porque diante da ausência de tal debate quem paga toda a conta é o conjunto da sociedade. E justamente ela não sabe como a dívida afeta sua vida. Agora vemos todo o esforço do ajuste fiscal. Falam todos os dias sobre o ajuste, mas não para que. O que é o ajuste? É o corte de vários gastos e despesas, investimentos públicos que recaem principalmente sobre as pastas sociais. Os cortes mais representativos atingem saúde, educação, segurança, assistência, além de subsídios que influenciam na vida das pessoas, como nos transportes. Até investimentos sociais básicos como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, sobre qual anunciaram o corte de 70 mil bolsas, e depois 180 mil. Imagine quantas pessoas só não passam fome graças a esse programa…
Além de tais cortes, vemos aumento de tributos e privatizações. E todo recurso advindo das privatizações se direciona ao pagamento da dívida. Todo o ajuste é feito em prol da dívida. Qual, afinal? Vemos os servidores públicos com salários congelados, trabalhadores da inciativa privada tendo salários cortados ou sendo demitidos, os aposentados tiveram seu reajuste vetado – que chegou a ser aprovado no Congresso, mas não pela Dilma… Os comerciantes e industriais também sofrem. Passamos por um processo de desindustrialização e vimos o índice de atividade comercial cair pela sétima vez seguida…
Veja bem: toda a atividade econômica do país está em queda, exceto a bancária. Eles lucraram mais de 80 bilhões de reais em 2014. E no primeiro semestre os lucros superam em mais de 15% os do ano passado. Toda a atividade do país está em queda, o PIB vai encolhendo e os bancos se mantêm lucrando? É evidente a transferência de recursos públicos para o setor financeiro privado. Isso acontece, principalmente, através dos mecanismos de política monetária do Banco Central, sob desculpas de controle da inflação etc. Assim, geram dívida pública sem nenhuma contrapartida, sem que o país receba absolutamente nenhum centavo. Geram dívida pública e repassam o dinheiro aos bancos privados.
Assim, todas as pessoas que pagam a conta precisam tomar conhecimento da situação, a fim de criarmos consciência coletiva e uma pressão capaz de promover mudanças. É um debate que tem de ganhar não apenas entidades da sociedade civil organizada, sindicatos, associações de todos os tipos, a mídia chamada alternativa etc. (já que são informações que não saem na “grande” mídia). É preciso envolver mais pessoas pra multiplicar tais informações e derrubar o mito de que o tema é só para especialistas. Não é verdade. Normalmente, se tenta criar o famoso “economês”, apenas para tentar afastar as pessoas, exatamente para que ninguém se interesse, articule alguma ação e eles fiquem à vontade pra continuar levando essa vantagem toda.
Nosso papel é exatamente o de fazer o contraponto. No âmbito da Auditoria Cidadã, tudo que produzimos e publicamos, as diversas palestras, artigos, livros, cursos que promovemos, sempre são feitos com linguagem popular e esclarecedora para a população. São mecanismos que lesam não só as pessoas como a economia nacional por completo. O Brasil é o sétimo mais rico do mundo e passa por enormes dificuldades. É um grande absurdo. E a dívida está no centro de toda a problemática.
Correio da Cidadania: Como você imagina que caminhará o governo Dilma diante de um arranjo político que praticamente a deixa de mãos atadas em relação ao PMDB, em meio ainda a grandes pressões sugerindo sua queda ou renúncia? Como isso deve se refletir na vida da população nos próximos anos?
Maria Lucia Fattorelli: O governo Dilma é continuidade dos governos Lula, que também foram de grande capitulação. É muito triste a constatação, mas tal capitulação aconteceu lá em 2003. Quando de sua primeira eleição não havia o financiamento bancário na campanha. Havia, sim, certo financiamento empresarial, até por conta do vice-presidente José de Alencar.
Mas o que o elegeu foi toda uma construção, de mais de 20 anos, de lutas por mudanças efetivas. E todos os governos do PT acabaram seguindo a agenda neoliberal, das privatizações etc. Não enfrentaram o sistema da dívida, não enfrentaram o modelo tributário regressivo do país, onde quanto mais rico se é, menos se paga imposto proporcionalmente. Promoveram uma brutal concentração de renda, fazendo do Brasil o país mais desigual do mundo, onde a concentração de renda é a mais cruel.
Nada das pautas estruturais foi objeto de enfrentamento. O que se fez foi política periférica, a exemplo do Bolsa Família e do programa Minha Casa Minha Vida. Muito pouco, algo superperiférico, ao passo que os lucros dos bancos nos governos petistas foram exponenciais.
O atual momento do governo resulta do fracasso de todas as suas políticas. Tivessem sido enfrentadas as pautas estruturais, não passaríamos hoje pelo que estamos passando. E no momento, com toda a crise ética e política, aliada à crise econômica gerada por um modelo que todos sabiam que ia dar nisso, dado sua insustentabilidade, fica muito difícil segurar.
Porque se fosse apenas econômico o problema, mas o governo tivesse forças políticas bem sustentadas e articuladas e seguisse um plano conjunto com a sociedade, a situação seria diferente.
Mas não tem nada disso. Todas as promessas de campanha viraram do avesso. Tudo que foi dito em favor do social e em termos de colocar o país na trilha de mais justiça social e desenvolvimento virou do avesso. O que vimos das eleições pra cá foi aumento brutal de juros. A taxa Selic, em relação a outubro do ano passado, subiu 30% e já atinge 14,5%.
O orçamento é um só. Por que tem dinheiro pra subir 30% dos juros e corta-se gasto social? Ao mesmo tempo, as políticas do BC de reconhecer e garantir variação cambial aos bancos, através das operações de swap, nada mais são que garantias aos bancos. Nada mais. O dólar sobe e o BC vem pagar a diferença para bancos e grandes empresas, gerando grandes prejuízos. Como se cobre tal prejuízo? Com geração de dívida. Hoje o BC remunera toda sobra de caixa dos bancos, nas operações compromissadas.
Olha o custo dessa política! É insana. E sem apoio da sociedade, diante do não atendimento das pautas de campanha, junto da crise ética e política, cria-se uma situação complicadíssima. É dificílimo reverter tal quadro. Exigiria uma virada total do governo, de modo a assumir de fato a pauta social, da classe trabalhadora e dizer “não” ao sistema financeiro. Mas vemos o contrário. Arrocho geral para cumprir ajuste fiscal e continuar dizendo “sim” ao mercado financeiro, apesar de todas as denúncias e ilegalidades do processo. É muito difícil ter solução nesse quadro.
O ajuste fiscal joga a economia numa espiral rumo ao fundo do poço. Tributa-se mais a sociedade, logo, tira-se recursos das mãos das pessoas, cortam-se os salários e gera-se desemprego. As pessoas não consomem, o comércio cai, demanda-se menos da indústria, que por sua vez demite… É o fundo do poço. Os países que melhor enfrentaram crises econômicas injetaram dinheiro na economia, ativaram o emprego e o investimento. Aqui fazem o contrário. O acirramento do ajuste fiscal corta todas as possibilidades de reação da economia.
E, ao se juntar a crise econômica às crises ética e política, ficamos numa situação muito complicada.

Dívida dos 500 maiores devedores do país é de R$ 392 bi; ajuste fiscal prevê cortar R$ 64 bi

O desvio da Petrobras é ficha perto da sonegação dos impostos a receita e dívidas e a operação lava jato.


Dívida dos 500 maiores devedores do país é de R$ 392 bi; ajuste fiscal prevê cortar R$ 64 bi

O valor estimado pelo governo federal para cobrir o déficit orçamentário poderia ser coberto com 1/6 dos valores devidos por algumas das maiores empresas brasileiras à Fazenda Nacional. Segundo a lista divulgada ontem (14) pelo Ministério da Fazenda, a soma das dívidas dos 500 maiores devedores chega a R$ 392 bilhões. O governo estima o ajuste fiscal em aproximadamente R$ 64 bilhões, entre cortes no orçamento e aumentos de receita.
A reportagem é publicada pela RBA, 15-10-2015.
A maior devedora da Fazenda hoje é a mineradora Vale, privatizada em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso(PSDB). São R$ 41,9 bilhões em dívidas, praticamente dois terços do necessário para fazer o ajuste fiscal. Desse valor, R$ 32,8 bilhões tiveram sua cobrança suspensa por meio de ações judiciais da empresa contra a Fazenda. Em segundo lugar aparece a Carital Brasil, antiga Parmalat, com R$ 24 bilhões em dívidas com a Fazenda.
Outros gigantes fazem parte da lista. Os bancos Itaú-Unibanco e Bradesco, segundo e terceiro maiores do país, têm dívidas de R$ 1,3 bilhão e R$ 4,8 bilhões, respectivamente, com a Fazenda. O espanhol Santander também figura na lista com uma dívida de R$ 978 milhões. No ramo varejista, a Companhia Brasileira de Distribuição – dona de marcas comoPão de Açúcar e Qualitá – deve R$ 1,5 bilhão.
Até multinacionais fazem parte do cadastro de devedores da Fazenda nacional. A química e produtora de plásticosBraskem, formada a partir da fusão de seis empresas do grupo Odebrecht, tem dívidas de R$ 2,6 bilhões. E a Unilever, que atua em diversos segmentos, como alimentação e higiene pessoal, acumula R$ 1 bilhão em dívidas.
Dados divulgados em agosto pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional indicam que o total de débitos inscritos naFazenda é de R$ 1,162 trilhão. O valor equivale a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e é 500 vezes maior do que o que teria sido desviado da Petrobras, no esquema revelado pela Operação Lava Jato, e 50 vezes o que se descobriu na Operação Zelotes, que investiga justamente um esquema de sonegação.
Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz) estima que as perdas com a sonegação somente neste ano chegarão a R$ 500 bilhões. Segundo o Sinprofaz, 62% dessa dívida pertence a grandes empresas. O setor de indústria de transformação ocupa o primeiro lugar na sonegação de impostos, acumulando R$ 236,5 bilhões. Em segundo lugar estão comércio e serviços, com R$ 163 bilhões. E, em terceiro, aparecem os bancos privados, que sonegaram R$ 89 bilhões.

Thursday, October 08, 2015

Do privado ao Comum, práticas de uma reforma urbana radical. Entrevista especial com Joviano Gabriel Maia Mayer

Do privado ao Comum, práticas de uma reforma urbana radical. Entrevista especial com Joviano Gabriel Maia Mayer

"As ocupações promovem a construção de novos territórios insurgentes nas metrópoles brasileiras, cada vez mais indispostos a aceitar proposições políticas hierarquizadas que se apresentam como solução para os seus problemas e que atentam contra seus modos de vida e suas singularidades", frisa o advogado. 
Foto: wallacecamargo.blogspot.com.br
Ao contrário do que se supõe à primeira vista, maioria não se opõe à minoria (há aqui apenas uma diferença de grau). Maioria se opõe à Multidão, no sentido de totalidade das singularidades. No espaço urbano, as disputas biopolíticas que se dão nas cidades tensionam um modo de ser análogo a uma espécie de fábrica pós-fordista que produz uma única coisa de inúmeras formas: o Comum. “Aqui se considera que a produção imaterial de linguagem, saberes e afetos é, em princípio, comum, até que se opere a captura pelo capital, via direito de propriedade, o que ao mesmo tempo, contraditoriamente, restringe sua produtividade. Assim, é nessa fábrica pós-fordista, esparramada pelo — e intrincada com o — espaço metropolitano que a força produtiva se conforma cada vez mais como uma intelectualidade da multidão”, explica Joviano Gabriel Maia Mayer, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
“Se, por um lado, o poder instituído busca imobilizar e reduzir nossa potência por meio do medo e das paixões tristes, por outro, os(as) ativistas de todo o mundo reconhecem a dimensão política da felicidade e das paixões alegres para potencializar as resistências e agregar mais pessoas”, provoca o entrevistado. Ele coloca que o binômio Estado-Iniciativa Privada só é capaz de oferecer políticas públicas verticalizadas e rígidas, como o Minha Casa Minha Vida. “As ocupações promovem a construção de novos territórios insurgentes nas metrópoles brasileiras, cada vez mais indispostos a aceitar proposições políticas hierarquizadas que se apresentam como solução para os seus problemas e que atentam contra seus modos de vida e suas singularidades”, completa.
Joviano Gabriel Maia Mayer possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e é mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Atualmente é sócio fundador do Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular.
Mayer esteve no IHU nesta quarta-feira, 07-10, ministrando a conferência Por uma teoria e uma prática radical de reforma urbana: o caso BH em comum, que integra o evento 2º Ciclo de Estudos Metrópoles, Políticas Públicas e Tecnologias de Governo. Territórios, governamento da vida e o comum, que segue com suas atividades até o dia 05-11-2015. A próxima atividade será a conferência Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finançascom o professor Mário Leal Lahorgue, que ocorrerá no dia 22-10-2015, às 19h30min, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui.
Confira a entrevista.
Foto: arquivo pessoal
IHU On-Line – De que maneira as cidades se constituem enquanto espaços de produção do Comum?
Joviano Gabriel Maia Mayer - As apostas lançadas no tabuleiro da política que tomam o comum enquanto horizonte de enfrentamento ao capital e construção de novos modos de existir se amparam fundamentalmente na produção social contemporânea, nos marcos do capitalismo pós-fordista neoliberal que toma as cidades como lócus (e objeto) privilegiado à acumulação de riqueza. Por outro lado, o que caracteriza o capitalismo pós-fordista do nosso tempo é uma estrutura produtiva dinâmica e flexível, disseminada em rede e fundada sobre a cooperação das singularidades, em que a produção imaterial tende progressivamente a suplantar a hegemonia da produção industrial: ideias, informações, conhecimentos, formas de comunicação, relações sociais, etc., como “fonte primordial de riqueza”, tendo a produção de subjetividade a primazia sobre qualquer outro produto. Aqui se considera que a produção imaterial de linguagem, saberes e afetos é, em princípio, comum, até que se opere a captura pelo capital, via direito de propriedade, o que ao mesmo tempo, contraditoriamente, restringe sua produtividade. Assim, é nessa fábrica pós-fordista, esparramada pelo — e intrincada com o — espaço metropolitano que a força produtiva se conforma cada vez mais como uma intelectualidade da multidão.
Metrópole biopolítica
O que seriam os piquetes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - MTST nas principais avenidas de São Paulose não a investida política em face da produção/circulação de mercadorias materiais/imateriais nessa gigantesca fábrica biopolítica? Como diz Peter Pelbart, [1] vivemos num “momento em que o comum, e não a sua imagem, está apto a aparecer na sua máxima força de afetação, e de maneira imanente, dado o novo contexto produtivo e biopolítico atual” (PELBART, 2011:29). Posto isso, fica mais claro como rastrear e cartografar a produção do comum no âmbito dametrópole biopolítica almeja alcançar pistas, possíveis indicações de como, “no interior dessa megamáquina de produção de subjetividade, surgem novas modalidades de agregar, de trabalhar, de criar sentido, de inventar dispositivos de valorização e de autovalorização” (PELBART, 2011:23), fora do comando exercido pelo Estado-capital e de modo antagônico aos valores capitalísticos por ele encampados e disseminados na conformação das subjetividades, seja na escola, seja via concessões públicas do espectro rádio-televisivo ou via dispositivos móveis parcelados em 24 meses no cartão de crédito.
Desse modo, já não cabem formulações e projeções utópicas, ou seja, prescindimos de construtos imaginativos apartados da realidade para nos fazer caminhar rumo à sociedade pós-capitalista, visto que o comum se confirma no horizonte da metrópole biopolítica exatamente porque o presente traz consigo uma produção que é comum; em outras palavras, não se trata de utopia, porque a aposta em torno do comum parte do campo de imanência, da dimensão constituinte da produção biopolítica. De igual modo, a felicidade capaz de nos mover é mais aquela que hoje experienciamos nas resistências positivas, mais do que qualquer outra situada no lugar da utopia, ou melhor, no não-lugar. Basta observar as formas de produção, organização e expressão dos movimentos multitudinários na atualidade para perceber a importância dada à busca da felicidade e à experimentação de outros modos de vida no seio das lutas. Se, por um lado, o poder instituído busca imobilizar e reduzir nossa potência por meio do medo e das paixões tristes, por outro, os(as) ativistas de todo o mundo reconhecem a dimensão política da felicidade e das paixões alegres para potencializar as resistências e agregar mais pessoas.

“Aqui se considera que a produção imaterial de linguagem, saberes e afetos é, em princípio, comum, até que se opere a captura pelo capital, via direito de propriedade”

 

IHU On-Line – Como os movimentos de resistência da Multidão tensionam a lógica hegemônica de pensar o espaço urbano?
Joviano Gabriel Maia Mayer - Mais do que a lógica hegemônica de pensar o espaço urbano, os movimentos multitudinários tensionam a própria lógica de produzir o espaço urbano. As resistências positivas, espaços performáticos de combatividade, afetividade e subjetividade, tomaram de assalto as metrópoles como territórios privilegiados de disputa, sobretudo no tocante ao enfrentamento a grandes projetos urbanos ancorados no paradigma da cidade-empresa do planejamento estratégico e das parcerias público-privadas. Nos marcos do neoliberalismo, cada vez mais as resistências se expressam como a defesa de bens comuns frente ao avanço da acumulação por espoliação (HARVEY, 2005), perpetrada ora pelo Estado, ora diretamente pelo capital, mas quase sempre pelo Estado-capital, unidos em simbiose para a captura do comum. Por outro lado, as ações dos movimentos de resistência da multidão potencializam na cidade a conformação de contrapoderes, redes e conexões subversivas, baseadas na comunicação, cooperação e criatividade, em contraposição à cidade neoliberal das parcerias público-privadas. Do Parque Gezi [2] na Turquia, aoparque Augusta [3] em São Paulo; da praça Tahrir [4] no Egito à Puerta del Sol [5] em Madrid, do cais do porto Estelita [6] no Recife à praça de concreto transformada em Praia da Estação [7], em Belo Horizonte, em todos esses processos é possível captar um desejo compartilhado de democracia real frente à investida do Estado-capital a despeito dos interesses da coletividade.
Democracia Real
Democracia real que se contrapõe à “democracia direta do capital” característica do paradigma da cidade-empresa. Ademais, a própria complexidade do urbano, enquanto sede privilegiada do poder político e econômico, onde se concentra tudo aquilo que faz a sociedade contemporânea em todos os domínios, especialmente nas metrópoles, cobra a cooperação transdisciplinar como mecanismo indispensável à compreensão dos fenômenos socioespaciais interligados com sua dimensão subjetiva. A “lógica do caos” que acompanha aquilo que Guattari (1992) denominou “cidade subjetiva” exige o uso de métodos de pesquisa que assumam o desafio da complexidade urbana, como é o caso da copesquisa cartográfica, método assumido pelo grupo de pesquisa Indisciplinar UFMG, do qual faço parte.
As lutas multitudinárias nos inspiram a pensar como a inteligência coletiva, ou melhor, como a inteligência de enxame da multidão “pode inventar e construir uma sociedade na qual quem governe seja a sociedade em rede, a riqueza coletiva da cooperação, a potência do comum” (HERREROS e RODRÍGUEZ, 2012:113). Noutros termos, as práticas, estratégias e objetivos das lutas dos movimentos da multidão, embora diferentes, são capazes de se conectar, se combinar e, quiçá, constituir ações e projetos plurais compartilhados. Na atualidade ganha destaque o desejo ambicioso da multidão metropolitana de produção e defesa do comum urbano, partindo da expressão das múltiplas singularidades, sob as bases da democracia real, para além da gestão democrática da cidade concernente às intervenções no espaço. A cidade-empresa do paradigma neoliberal de planejamento estratégico é, por sua vez, a expressão mais bem acabada da ofensiva público-privada contra o comum. Talvez por isso o direito ao comum seja, em última instância, um possível horizonte de convergência das forças vivas que enfrentam o Estado-capital na metrópole biopolítica. Acrescente-se ainda que o comum enquanto princípio político, ao ser criticamente confrontado com a realidade das resistências, das organizações e movimentos, pode contribuir para dar sentido, orientar as práticas de produção, gestão e deliberação, além de potencializar e conectar em rede uma pluralidade de lutas e práticas alternativas antagônicas à cidade-empresa.
IHU On-Line – De que forma os processos históricos, a partir do século XVIII, foram transformando as cidades, que eram espaços de refúgio e liberdade, em ambientes de acumulação capitalista?
Joviano Gabriel Maia Mayer - O capitalismo se formou fora dos muros das cidades. Cabe aqui um breve retrospecto. De fato, a cidade criou as condições de expansão da grande indústria, concentrando a mão de obra, o mercado consumidor, os capitais acumulados, a infraestrutura e o poder político. Simultaneamente, a grande indústria levou ao crescimento da cidade, revolucionando a organização do espaço em nível planetário. A natureza, antes dominante, passou a ser dominada por meio de técnicas cada vez mais sofisticadas. Entretanto, até a conquista do poder político pela burguesia revolucionária europeia, durante séculos a cidade foi o refúgio contra a opressão feudal, o destino prioritário daqueles que buscavam a felicidade, a liberdade e a justiça (PAULA, 2006).
A partir do século XVIII, a cidade se tornou espaço privilegiado da reprodução do capital, abrigando a grande indústria em prejuízo das corporações de ofício. Durante esse percurso a própria estrutura urbana passou a ser produzida e reproduzida sob a lógica da acumulação capitalista, manifestando a cidade não apenas como espaço de reprodução do capital, mas também como objeto desta reprodução, determinada, em grande medida, pela expansão do capital imobiliário, elevado à condição de importante indutor do crescimento econômico. A cidade, gradativamente, reproduziu as contradições sistêmicas da nova ordem social, mercantilizou-se para ser vendida aos pedaços, um produto e não mais uma obra genuinamente humana. O privado se revoltou contra o público, e a festa, antes na rua, espaço comum, torna-se fechada, privada.
A cidade se tornou assim, ao longo do desenvolvimento do capitalismo, um grande negócio, mais do que isso, tornou-se a nova fábrica do capitalismo contemporâneo, “a usina de geração do mundo, fabrica mundi, usina biopolítica de que precisa o capitalismo para vitalizar-se” (CAVA, 2015), plataforma fundamental de acumulação do capital global, espaço privilegiado de controle político, econômico, cultural, etc. 

“A cidade se tornou assim, ao longo do desenvolvimento do capitalismo, um grande negócio, mais do que isso, tornou-se a nova fábrica do capitalismo contemporâneo”

IHU On-Line – De que maneira o espaço urbano se transformou em um grande laboratório das forças sociais? Quais são as potencialidades desses movimentos de resistência?
Joviano Gabriel Maia Mayer - A cidade, especialmente na sua forma metropolitana, agregou no tempo e no espaço as condições objetivas e subjetivas para a libertação da multidão frente ao domínio capitalista imperial. No final do século XIX, Engels [8] já afirmava que somente o proletariado “criado pela indústria moderna e concentrado nas grandes cidades, libertado de todas as cadeias tradicionais, inclusive das que o ligavam à terra, é capaz de realizar a grande revolução social” (ENGELS, 1988). Nesse sentido, a nostalgia romântica da volta ao campo do velho e bom camponês, agora incorporado ao espaço urbano e quebrado em seus tradicionais valores, representaria “atrasar o relógio da história” (idem).
O mesmo raciocínio agora vale para a multidão ante o proletariado descrito por Engels, pois a biopotência criativa da multidão, na qual reside a possibilidade da produção do comum, não deixa margem a nenhum tipo de nostalgia ou utopia com relação às ilhas isoladas pelo oceano. Com todos os seus graves problemas, contradições e mazelas, é a cidade que oferece as maiores possibilidades emancipatórias, pois, dentre outras inúmeras razões, concentra no mesmo território, conectados em redes comunicativas e colaborativas cada vez mais amplas, os(as) agentes da transformação — trabalhadoras, trabalhadores, e todos os que vivem sob o domínio do capital —, o fluxo de informações, a produção artístico-cultural, os avanços tecnológicos, os encontros afetivos, a produção de subjetividade, o poder político, etc. Desse modo, avançar na construção e no compartilhamento dos princípios que orientam as práticas dos movimentos de resistência é importante na medida em que “podem criar o andaime sobre o qual, no caso de uma ruptura social radical, uma nova sociedade possa ser construída” (HARDT e NEGRI, 2014:138).
IHU On-Line – Como o conceito capitalista de pensar o espaço urbano se converte em atomicismo e em uma espécie de antiurbanismo?
Joviano Gabriel Maia Mayer - É interessante notar como a configuração da cidade, em princípio, indica a organização da população em torno de uma vida comunitária — casas próximas umas das outras, espaços de convivência, equipamentos sociais compartilhados, sistema público de comunicação e transporte. Entretanto, o que sobressai, contemporaneamente, é o espaço esmigalhado vendido aos pedaços, a segregação social e racial, o isolamento e o atomicismo. Como dito anteriormente, o capitalismo corrompeu a cidade, fez do solo uma mercadoria valiosa e escassa, protegida pelo instituto sagrado da propriedade imóvel e, paralelamente, criou uma ideologia antiurbana capaz de fazer ruir sua construção como espaço da liberdade, do encontro e da solidariedade. No quadro urbano na atualidade, aexploração direta do(as) trabalhadores(as) se multiplica por meio de uma exploração indireta (LEFEBVRE, 2001) que se estende ao conjunto da vida cotidiana. Esta superexploração é evidenciada, por exemplo, no tempo livre do(a) trabalhador(a) gasto na autoconstrução de sua moradia, nas horas sacrificadas no longo percurso diário entre a casa e o emprego ou, ainda, na carga do trabalho doméstico invisível e não remunerado desempenhado pelas mulheres, indispensável para a reprodução da força de trabalho.
Obscurantismo
Em paralelo, como veementemente criticou Henri Lefebvre, [9] o urbanismo mais oculta do que revela, produz representações ideológicas e institucionais que não dão conta da realidade urbana, com suas problemáticas e práticas, de modo que “a ciência do fenômeno urbano só pode resultar da convergência de todas as ciências” (LEFEBVRE, 2008). Atualmente, entretanto, já não basta mobilizar todas as ciências já que a compreensão da realidade urbana também cobra outros saberes que não gozam necessariamente do estatuto científico.
Multiplicidade de olhares
Evidentemente, a investigação/intervenção sobre o território na metrópole demanda uma multiplicidade infindável de olhares, saberes e formas de expressão: da arquiteta à performer, da produtora cultural à advogada, da liderança comunitária à artista plástica, da cientista política ao morador em situação de rua. Ora, quem melhor para dizer sobre as opressões relacionadas aos processos segregatórios das cidades do que os(as) moradores(as) em situação de rua que trazem nos corpos as marcas da violência cotidiana? Quem melhor para falar sobre autoconstrução do que os(as) pobres urbanos que autoconstruíram suas casas nas favelas e ocupações, os(as) quais cunharam na história de produção das grandes cidades brasileiras essa forma autogestionada de apropriação espacial? É preciso extravasar os campos disciplinares formalmente reconhecidos pelo paradigma científico moderno, agenciando horizontalmente saberes científicos em sentido estrito com outros saberes, narrativas e formas de apreensão da realidade, subvertendo o lugar de enunciação para desafiar o pensamento ideológico hegemônico sobre o território.

 

“A própria natureza desses antagonismos da vida metropolitana é essencial para explicar a emergência dos movimentos sociais urbanos em embate com o Estado-capital”

IHU On-Line – Atualmente, quais são as principais contradições do espaço urbano?
Joviano Gabriel Maia Mayer - Como dito, a afirmação docapitalismo financeiro global é acompanhada pela acentuação da centralização do capital na metrópole, impondo a ela uma determinada configuração espacial. Tal característica faz da metrópole, como condição geral de produção, o cenário peculiar das contradições próprias do capitalismo: centro e periferia, luxo e miséria, moderno e antigo, legal e ilegal, acessibilidade e exclusão, tudo isso “convivendo” no mesmo espaço metropolitano, forma estendida como condição planetária geral. A própria natureza desses antagonismos da vida metropolitana é essencial para explicar a emergência dos movimentos sociaisurbanos em embate com o Estado-capital, provedor das condições necessárias à reprodução dos(as) trabalhadores(as) na cidade. Inegavelmente as manifestações de junho de 2013 no Brasil colocaram, aos movimentos sociais e aos partidos ditos de esquerda, a necessidade de aprofundar a compreensão dos mecanismos de produção e reprodução do espaço urbano, bem como a atuação dos agentes políticos e financeiros nesse campo. As rebeliões deflagradas, sobretudo pela multidão metropolitana, tiveram como pano de fundo a agudização da crise urbana, no entanto as forças políticas da chamada esquerda instituída ainda estão longe de compreender as complexidades próprias do fenômeno urbano fora do prisma estreito da contradição capital-trabalho. Também é evidente que compreender as contradições próprias da lógica de apropriação do espaço, sob os marcos do neoliberalismo, do planejamento estratégico e da cidade-empresa, é pressuposto para a compreensão da crise urbana, razão última das jornadas de junho de 2013, expressa no agravamento da mobilidade urbana e da questão habitacional, pautas centrais na atualidade.
IHU On-Line - Quais são os principais desafios do movimento urbano na busca pelo comum?
Joviano Gabriel Maia Mayer - As transformações experimentadas no mundo do trabalho e as novas configurações da classe trabalhadora que emergiram da crise do fordismo colocaram desafios enormes às esquerdas tradicionais e especialmente à organização sindical que não está preparada para se opor de maneira ampla e contundente aos processos de acumulação por espoliação, sem contar que o neoliberalismo teve como um dos escopos principais o enfraquecimento das formas tradicionais de organização e luta do trabalho. Se, como diz Harvey, [10] na atualidade a acumulação por espoliação de fato está no primeiro plano da acumulação capitalista global, inegavelmente as lutas contra o saqueio neoliberal das nossas vidas, bens e formas de existência também ocupam hoje o primeiro plano das resistências contra o Estado-capital e, como as vidas são muitas, as lutas também são múltiplas.
Ademais, como os métodos e as formas organizativas do mundo do trabalho são diretamente vinculados a um modo específico de viver e sentir a vida, cabe considerar as mutações operadas no mundo do trabalho que expressam, em síntese, a passagem do conceito de operário-massa para a noção de operário-social, o que se dá especialmente a partir da crise do fordismo e da emergência do chamado capitalismo cognitivo e imaterial que confere primazia à produção de subjetividades. Ocorre que a produção de subjetividade operada e determinada pelo poder instituído sempre deixa margem às resistências pela via de “dispositivos irresistíveis” (NEGRI, 2004). Entretanto, demorou muito para que as forças tradicionais de esquerda começassem a perceber o papel da subjetividade, tanto no domínio biopolítico exercido pelo Império, quanto na arena das resistências empreendidas contra o Estado-capital, as quais frequentemente trazem consigo a afirmação constituinte de outras formas de vida e relações pós-capitalistas. Se, de um lado, nos marcos do capitalismo cognitivo e imaterial, a produção de subjetividade ganha progressivamente importância na extração de mais valor (valores subjetivos agregados ao produto), por outro, a produção de novas subjetividades também se torna central para se vislumbrar qualquer ruptura com o domínio imperial e com o controle biopolítico exercido pelo Estado-capital. Porém, como diz Lazzarato, [11] estamos num momento em que “os métodos para a produção de subjetividade que brotaram do leninismo (o partido, a concepção da classe operária como vanguarda, o 'revolucionário profissional') não são mais relevantes para as composições de classes atuais” (LAZZARATO, 2014:19). Isso graças à perda de centralidade do proletariado (representado por um partido de vanguarda) como o sujeito revolucionário por excelência, especialmente em face da crise do fordismo e a nova configuração do trabalho imaterial que modificou profundamente a natureza e a composição da classe trabalhadora mundial.
Horizontalidade
Há muitos outros desafios para além daqueles inerentes às mudanças operadas no mundo do trabalho. Dentre eles a construção de processos autônomos e horizontais de produção coletiva, formação política e ação direta que canalizem as insatisfações dos(as) citadinos(as) e que expressem a construção do comum em oposição ao Estado-capital. Porém, lamentavelmente, as forças políticas construídas pela esquerda brasileira no último quarto do século passado, especialmente os partidos políticos e as centrais sindicais, mostraram-se inadequados como ferramentas políticas aptas a dar vazão à força multitudinária que eclodiu nas ruas em junho. As rebeliões urbanas de 2013 colocam às organizações tradicionais de esquerda a necessidade de rever velhas práticas políticas, reformular concepções tidas como verdades absolutas e ter humildade para se colocar lado a lado, horizontalmente, com a multidão que abalou as estruturas do poder instituído. Quem sabe assim, partindo da compreensão de que essa multidão metropolitana (que não se reduz à classe operária e seus aparelhos de representação) pode se revelar como potência constituinte frente ao poder instituído quando seus múltiplos desejos se confluem, essa velha esquerda possa contribuir na edificação de uma alternativa que confronte o controle biopolítico do Estado-capital a partir da produção do comum. Nas maiores metrópoles brasileiras atualmente, grandes projetos urbanos concebidos via parceria público-privada à revelia da população chamam a atenção como importantes trincheiras de organização multitudinária, mobilização política, constituição do comum e produção de novas subjetividades. Não somente pela amplitude desses projetos que muitas vezes afetam a vida de parte considerável da população, mas também por serem a expressão mais bem acabada da lógica de gerenciamento empresarial do espaço urbano.

“É na retomada de vazios urbanos que  multidão (também) se revela como contrapoder”

 

IHU On-Line – Frente os desafios habitacionais de nosso tempo, que estratégias são mais condizentes com a constituição do poder popular? Por que as ocupações se constituem em uma forma não somente de luta por moradia, mas também política?
Joviano Gabriel Maia Mayer - No Brasil, a questão habitacional é uma das principais questões modernas não resolvidas pela modernidade, o que ainda torna a luta pela moradia central na atuação dos movimentos urbanos, os quais recorrentemente utilizam as ocupações de imóveis ociosos como mecanismo legítimo de pressão política e efetivação do direito de morar. A legitimidade da retomada organizada ou espontânea de vazios urbanos inutilizados encontra guarida no próprio ordenamento jurídico nacional, sobretudo na função social da propriedade urbana, cumulada com o princípio democrático que pressupõe o direito de lutar pela efetivação dos direitos e o direito constitucional à moradia adequada que também goza de proteção no âmbito dos tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é país signatário.
Para além do objetivo imediato de conquista da moradia, a retomada de vazios urbanos pelos sem-teto implica a experimentação de novas formas de apropriação do espaço, nas quais princípios como a cooperação, o coletivismo ou a democracia real ganham conteúdo subversivo sob certas condições. É nesse domínio que a multidão (também) se revela como contrapoder: resistência, insurgência e poder constituinte, conjuntamente articulados, dinamicamente imbricados, ora mais, ora menos. Essas três dimensões do contrapoder, organicamente coadunadas, também podem ser identificadas na luta das ocupações de sem-teto. Resistência contra o desalojamento, liminarmente concedido, tão logo divulgada e denunciada a violação coletiva da cerca que protegia a ilegalidade do descumprimento da função social. Poder insurgente, por sua vez, consubstanciado na quebra do estatuto de propriedade como instituição protegida pelo Estado (constituído). Força constituinte conformada pela multidão na defesa e construção do comum urbano, cuja potência pode criar territorialidades contra-hegemônicas, novas sociabilidades, modos de vida, experimentações e narrativas insurgentes, em que pese o poder simbólico e material da cidade-empresa. Especialmente na última década e, ainda com maior intensidade, após as jornadas de junho de 2013, as ocupações organizadas por movimentos sociais se multiplicam nas metrópoles brasileiras, não raro garantindo o assentamento de milhares de famílias pobres que não podem aceder à aquisição da moradia, como é o caso de Belo Horizonte, em que grandes ocupações têm possibilitado moradia digna a milhares de famílias, a exemplo das ocupações da Izidora, [12] Dandara [13] etc.
IHU On-Line – Que novas formas de convivência e, portanto, biopolíticas emergem com as ocupações nas Metrópoles?
Joviano Gabriel Maia Mayer - Nos territórios recuperados pelos sem-teto, a multidão se explicita como carne no fazercomum, organismo multiforme no qual não é possível diferenciar propriamente o corpóreo e o intelectual, a práxis e a teoria, a experiência concreta e o projeto encarnado. Enquanto o Estado e a iniciativa privada só têm o Minha Casa Minha Vida a oferecer, verticalmente, como política habitacional, com unidades rígidas, projetos padronizados e conflitantes com as culturas construtivas dos(as) pobres urbanos, as ocupações promovem a construção de novos territórios insurgentes nas metrópoles brasileiras, cada vez mais indispostos a aceitar proposições políticas hierarquizadas que se apresentam como solução para os seus problemas e que atentam contra seus modos de vida e suas singularidades. A autoconstrução nas ocupações urbanas é uma modalidade aberta de produção habitacional que respeita as práticas culturais e as singularidades dos pobres urbanos. Cabe lembrar que as ocupações e outras práticas de autoconstrução de moradias fazem parte da história de formação, expansão e esgarçamento das grandes cidades brasileiras, não há qualquer novidade em pobres ocupando imóveis ociosos para autoconstruir suas moradias e experimentar nos territórios aí constituídos formas de vida, produção, convivência e sociabilidade singulares. Como frequentemente afirmam os movimentos, a luta das ocupações de moradia não se reduz apenas à defesa do direito à moradia, não raro ainda confundido com o direito de propriedade, mas também dizem respeito ao direito à cidade.

“As ocupações promovem a construção de novos territórios insurgentes nas metrópoles brasileiras”

Resistência
Isso também implica a defesa pelas famílias sem teto do seu modo de viver e ocupar o espaço na cidade, com autonomia para determinar, por exemplo, a tipologia e o tempo de construção da moradia, tempo quase sempre estendido e condicionado às condições econômicas de cada família, mas por outro lado sem o risco de retomada compulsória pela instituição financeira credora ao longo das décadas do financiamento imobiliário contratado. Nas ocupações, o risco do despejo por parte do Estado, por sua vez, é contornado pela fé coletiva no êxito da resistência organizada em rede para a defesa do território comum. Em Belo Horizonte, desde 2008, nenhuma ocupação urbana organizada pelos movimentos foi despejada! Dentre os desafios colocados aos movimentos urbanos e às novas ocupações de sem teto, destacamos a necessidade de se superar o limite estreito da propriedade privada dentro das próprias ocupações, com a demarcação de lotes individuais, para experimentar formas coletivas inovadoras de apropriação espacial, bem como avançar na dimensão constituinte da resistência, com a produção de equipamentos e práticas coletivas (econômicas, políticas e culturais) que aprofundem a produção de novas subjetividades nessas ocupações. Para tanto, talvez o primeiro passo seja conceber tais ocupações como espaços comuns de resistência biopotente e exercício democrático na metrópole contemporânea, sujeitos indispensáveis à construção de uma nova sociabilidade urbana.
Por Ricardo Machado
*Esta entrevista foi publicada originalmente na Revista IHU On-Line, Nº. 474, de 05/10/2015. 
Notas:
[1] Peter Pal Pelbart: graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo – USP, e em Filosofia pela Sorbonne, em Paris, é mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP com a dissertação Da clausura do fora ao fora da clausura: loucura e desrazão (2ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2009). Cursou doutorado na USP e é livre docente pela PUCSP. Entre outras obras, é autor de Vida capital. Ensaios de biopolítica (São Paulo: Iluminuras, 2003) e O tempo não reconciliado (São Paulo: Perspectiva, 1998). Leciona na PUCSP. (Nota da IHU On-Line)
[2] Parque Taksim Gezi: é um parque urbano situado na Praça Taksim, no distrito de Beyoğlu, em Istambul, na Turquia. É um dos parques de menor tamanho da cidade. Em maio de 2013, o anúncio governamental de um plano que pretende demolir o parque para dar lugar à reconstrução do histórico Quartel Militar Taksim (demolido em 1940) e, também, à construção de um centro comercial, desencadeou uma onda de protestos na Turquia. (Nota da IHU On-Line)
[3] Parque Augusta: é uma área de 24 mil metros quadrados, delimitada pelas Ruas Augusta, Marquês de Paranaguá, Caio Prado, no centro da Cidade De São Paulo. É uma propriedade privada, mas com áreas registradas em cartório como públicas - 80% dela não pode, por lei, ser alterada - e que uma parcela significativa da população paulistana quer ver transformada em parque público sem edificações em seu interior. (Nota da IHU On-Line)
[4] Praça Tahrir cujo equivalente latino é "Praça da Libertação"): é a maior praça pública no centro de Cairo, Egito. Originalmente chamada Praça de Ismail, em honra a Ismail Paxá, vice-rei (quediva) do Egito no século XIX, que comissionou o projeto arquitetônico do novo distrito central da capital egípcia na década de 1860. Depois da Revolução Egípcia de 1952, quando o Egito deixou de ser uma monarquia constitucional e tornou-se uma república, a praça passou a se chamar midan al-tahrir, praça da libertação. (Nota da IHU On-Line)
[5] Puerta del Sol: é um dos locais mais famosos e concorridos da cidade espanhola de Madrid. É neste local que se encontra desde 1950, o quilómetro zero das estradas espanholas.Em 2011 a praça foi ocupada por integrantes do Movimento 15M que protestavam por uma democracia mais participativa na Espanha. (Nota da IHU On-Line)
[6] Ocupe Estelita: é um movimento social que se contrapõe à construação de 12 torres de uso residencial e comercial no Cais José Estelita, em Recife, Pernambunco. O local o abrigava o pátio ferroviário onde foi inaugurada a segunda linha ferroviária urbana do Brasil, em 1859, por Dom Pedro. (Nota da IHU On-Line)
[7] Praia da Estação: trata-se de um movimento que surgiu em 2010 como uma reação a um decreto da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte que proibia a realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação, um dos pontos turísticos mais antigos da capital mineira. (Nota da IHU On-Line)
[8] Friedrich Engels (1820-1895): filósofo alemão que, junto com Karl Marx, fundou o chamado socialismo científico ou comunismo. Ele foi co-autor de diversas obras com Marx, e entre as mais conhecidas destacam-se o Manifesto Comunista e O Capital. Grande companheiro intelectual de Karl Marx, escreveu livros de profunda análise social. (Nota da IHU On-Line)
[9] Henri Lefebvre (1901—1991): foi um filósofo marxista e sociólogo francês. Estudou filosofia na Universidade de Paris, onde se graduou em 1920. (Nota da IHU On-Line)
[10] David Harvey (1935): é um geógrafo marxista britânico, formado na Universidade de Cambridge. É professor da City University of New York e trabalha com diversas questões ligadas à geografia urbana. (Nota da IHU On-Line)
[11] Maurizio Lazzarato: Sociólogo e filósofo italiano que vive e trabalha em Paris, onde realiza pesquisas sobre a temática do trabalho imaterial, a ontologia do trabalho, o capitalismo cognitivo e os movimentos pós-socialistas. Escreve também sobre cinema, vídeo e as novas tecnologias de produção de imagem. É um dos fundadores da revista Multitudes. O IHU já publicou uma série de textos e entrevistas com Maurizio Lazzarato entre elas: O “homem endividado” e o “deus” capital: uma dependência do nascimento à morte. Entrevista com Maurizio Lazzarato publicada na IHU On-Line, edição 468, de 29-06-2015, disponível em http://bit.ly/1WmGF9v; Subverter a máquina da dívida infinita. Entrevista com Maurizio Lazzarato, publicada em Notícias do Dia, de 02-06-2012, no sítio do IHU, disponível em http://bit.ly/1N0i2JB; "Atualmente vigora um capitalismo social e do desejo". Entrevista com Maurizio Lazzarato, publicada em Notícias do Dia, de 05-01-2011, no sítio do IHU, disponível em http://bit.ly/1LejolW; "Os críticos do Bolsa Família deveriam ler Foucault..." Entrevista com Maurizio Lazzarato, publicada em Notícias do Dia, de 15-12-2006, no sítio do IHU, disponível em http://bit.ly/1GLy9d9; Capitalismo cognitivo e trabalho imaterial. Entrevista com Maurizio Lazzarato, publicada em Notícias do Dia, de 06-12-2006, no sítio do IHU, disponível em http://bit.ly/1LejOsv; As Revoluções do Capitalismo. Um novo livro de Maurizio Lazzarato. Reportagem publicada em Notícias do Dia, de 06-12-2006, no sítio do IHU, disponível em http://bit.ly/1GXuMlq. (Nota da IHU On-Line)
[12] Resiste Izidora: batizada de Izidora, a ocupação mineira é formada por 3 vilas interligadas (Esperança, Rosa Leão e Vitória) e tem cerca de 20 mil pessoas a mais que a paulista, quase todas morando em casas de alvenaria. A enorme área da Mata do Izidoro, na região norte da capital mineira. (Nota da IHU On-Line)
[13] Ocupação Dandara: ocupação urbana na região norte de BH- MG que conta com mais de 1000 famílias organizadas há mais de 5 anos na luta por uma vida mais digna. (Nota da IHU On-Line)
Referências
CAVA, Bruno. Metrópole como usina biopolítica. O trabalho da metrópole: transformações biopolíticas e a virada do comum na conjuntura brasileira. In Revista on line do Instituto Humanitas Unisinos. Ano XV, nº. 464, 2015. Disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&i d=5909&secao=464. Acesso em 04 de julho de 2015. 
ENGELS, Friederich. A questão da habitação. São Paulo: Acadêmica, 1988. 
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Declaração – Isso não é um manifesto. São Paulo: n-1 edições, 2014. 
HARVEY, David. O Novo Imperialismo. 2ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005. 
HERREROS, Tomás; e RODRÍGUEZ, Adriá. Revolução 2.0: direitos emergentes e reinvenção da democracia. In: Revolução 2.0 e a crise do capitalismo global. COCCO, Giuseppe e ALBAGLI, Sarita (Org.). Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2012.
LAZZARATO, M. Signos, máquinas, subjetividades. São Paulo, Editora n-1, 2014.
LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital. 2ª ed., Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001. 
LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. 
NEGRI, Antonio. Para uma definição ontológica da multidão. In revista Lugar Comum - Estudos de mídia, cultura e democracia. Rio de Janeiro: UFRJ, Escola de Comunicação, nº. 19-20, 2004. 
PAULA, João Antônio de. As cidades e A cidade e a universidade. In: As cidades da cidade. Belo Horizonte: UFMG, 2006. 
PELBART, P. P. Vida capital. Ensaios de biopolítica. Ed. Iluminuras: São Paulo, 1ª Ed., 2ª reimpr., 2011.

Militares, ciências, Educação Popular.

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