Tuesday, July 25, 2017

Koch Brothers EXPOSED: 2014 (ft. Bernie Sanders) • FULL DOCUMENTARY FILM...

Bergoglio e Trump: duas formas particulares de populismo. Entrevista especial com Massimo Faggioli

Para Ernesto Laclau, o populismo tem origem no desejo do povo de contrapor uma lógica de poder institucionalizada. Na política de nosso tempo, dois líderes têm chamado atenção: o presidente dos Estados UnidosDonald Trump, eleito apesar de muitos considerarem sua candidatura uma piada, e Mario Bergoglio, o cardeal argentino que no conclave era um verdadeiro azarão. Para o doutor em História da Religião Massimo Faggioli, os dois podem ser considerados como uma manifestação do populismo. Entretanto, mesmo sem entrar no conceito de Laclau, destaca que são diferentes dos outros populismos, “especialmente daqueles da América Latina”.
Faggioli explica, na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, que o trumpismo “é um determinado tipo de populismo porque rejeita a elite política e cultural dominante. Mas é uma forma particular de populismo, porque se encaixa no contexto norte-americano, onde a rejeição das elites está ligada à ideia de reconquistar a América ‘cristã e branca’ das mudanças ocorridas nas últimas décadas”. “O populismo de Trump não tem a ver apenas com o conceito de classe, mas também com a experiência americana de raça, com a ideia religiosa da América como ‘God’s country’, com a suposição do excepcionalismo americano de uma especial missão da América no mundo”, completa.
Já o populismo do papa Francisco, segundo o professor, pode ser visto como uma lógica diferente da de Trump. “O populismo de Bergoglio é antes de tudo um populismo teológico. Há a centralidade da ideia de ‘povo’ e ‘povo de Deus’ na teologia e eclesiologia do papa Francisco”, pontua. Para Faggioli, são duas lideranças paralelas e opostas entre si. “Trump está redefinindo e reduzindo a liderança global dos EUA”, aponta. “É interessante ver como isso, de certa forma, flui no mesmo sentido do pontificado de Francisco: tornar o catolicismo mais global e menos dependente do Ocidente”, completa. E analisa: “é uma passagem histórica inevitável, mas não é uma manobra sem risco, nem para os EUA, nem para a igreja global”.

Massimo Faggioli | Foto: João Vitor Santos/IHU
Massimo Faggioli é doutor em História da Religião, professor de teologia e estudos religiosos da Universidade de Villanova, na Filadélfia, Estados Unidos, e editor colaborador da revista Commonweal. Atuou na Universidade de St. Thomas, Minnesota, Estados Unidos até 2016. Entre suas publicações, destacamos Vaticano II: A luta pelo sentido (São Paulo: Paulinas, 2013) e True Reform: Liturgy and Ecclesiology in Sacrosanctum Concilium (Liturgical Press, 2012).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Pode-se tomar o trumpismo como uma forma de populismo? Por quê?
Massimo Faggioli – O trumpismo é um determinado tipo de populismo porque rejeita a elite política e cultural dominante. Mas é uma forma particular de populismo, porque se encaixa no contexto norte-americano, onde a rejeição das elites está ligada à ideia de reconquistar a América "cristã e branca" das mudanças ocorridas nas últimas décadas, simbolizada pela eleição de Barack Obama , em 2008 .
populismo de Trump não tem a ver apenas com o conceito de classe (das classes mais baixas que se revoltam contra a elite), mas também com a experiência americana de raça (brancos, como ex-maioria, contra afro-americanos e latinos), com a ideia religiosa da América como “God’s country” (com uma primogenitura do protestantismo branco em relação às outras denominações cristãs e outras religiões), com a suposição do excepcionalismo americano de uma especial missão da América no mundo. Neste sentido, o populismo de Trump é diferente dos outros populismos, especialmente daqueles da América Latina.
IHU On-Line – De que maneira o trumpismo se coloca em uma lógica diametralmente oposta à lógica defendida por líderes como o papa Francisco?
O trumpismo é um determinado tipo de populismo porque rejeita a elite política e cultural dominante
Massimo Faggioli – Penso que se trata de dois populismos diferentes: primeiro, porque o populismo de Bergoglio é antes de tudo um populismo teológico. Há a centralidade da ideia de "povo" e "povo de Deus" na teologia e eclesiologia do papa Francisco. Em segundo lugar, o populismo trumpianotem em mente uma retomada da centralidade de uma parte muito específica do povo americano em detrimento do resto: é aqui que encontra seu caminho de rejeição pelo "politicamente correto". Isso porque o populismo trumpiano é herdeiro da ideia da supremacia do povo e da experiência dos EUA na história mundial. Estes são elementos bem diferentes da ideia de "povo" que Bergoglio possui.
IHU On-Line – Como o trumpismo impacta o pontificado de Bergoglio e vice-versa?
Massimo Faggioli – Trata-se de duas lideranças paralelas e opostas entre si, de duas solidões diferentes. A presidência de Trump está redefinindo e reduzindo a liderança global dos EUA e é interessante ver como isso, de certa forma, flui no mesmo sentido do pontificado de Francisco: tornar o catolicismo mais global e menos dependente do Ocidente (incluindo os Estados Unidos). É uma passagem histórica inevitável, mas não é uma manobra sem risco, nem para os EUA, nem para a igreja global.
IHU On-Line – O modo de Bergoglio posicionar-se, tanto nos assuntos de igreja, como em matérias para além dos muros do Vaticano, revela uma perspectiva populista? Por quê?
Massimo Faggioli – Francisco evitou, desde o início, criar um círculo de "bergoglianos" em Roma, embora suas nomeações episcopais sejam de um determinado tipo, próximas ao seu modelo ideal de bispo. Mas Francisco sempre evidenciou também sua crítica e sua distância de um certo estilo de vida clerical e episcopal, declarando-se como alguém do povo, e não como alguém do mundo clerical. Neste sentido, pode parecer populista. Mas sua visão da Igreja Sinodal pressupõe uma visão das várias componentes da igreja, o que não é uma visão populista.
IHU On-Line – O que, de fato, Donald Trump revelou ao mundo quando retirou os EUA do Acordo de Paris e endureceu sua relação com os imigrantes, arrolando-se em uma lógica nacionalista? Qual é o grande problema subjacente que liga essas ações?
Massimo Faggioli – Acredito que a grande questão subjacente seja o medo de ver os Estados Unidos transformar-se em um país multicultural, multirracial e multirreligioso. A rejeição do Acordo de Paris é nada mais que uma declaração do trumpismo contra as elites culturais e cosmopolitas. O trumpismo é um dos sinais do fim do "século americano" e do medo de um certo tipo de América diante do mundo. Trumpfoi eleito também pelos "blue-collar workers" derrotados pela globalização; mas o movimento cultural e ideológico que elegeu Trump tem raízes antigas e não se preocupa com o destino dos derrotados pela globalização.
IHU On-Line – Qual é a sua avaliação do governo de Donald Trump até agora?
A realidade é que o governo federal está paralisado porque a família Trump não está interessada em governar o país
Massimo Faggioli – Um grande sucesso com a nomeação de um juiz conservador, branco e cristão para o Supremo Tribunal Federal; uma série de fracassos em todas as outras questões (reforma da saúde, reforma fiscal); uma série de terríveis desregulamentações em matéria ambiental; nenhuma ideia de política externa. Mas a realidade é que o governo federal está paralisado porque a família Trump não está interessada em governar o país, e oPartido Republicano, que sustenta Trump, não é capaz de governar o país. O verdadeiro problema é que não há partido de oposição: o Partido Democrata precisa ser reconstruído.
IHU On-Line – Como analisar o encontro de Donald Trump com o papa Francisco?
Massimo Faggioli – Seria demasiado otimista esperar uma mudança nas relações entre o papa Francisco e o presidente Trump, por causa da descoberta milagrosa de um terreno comum que antes era invisível. Da parte de alguns católicos americanos houve uma tentativa – ideológica – de mostrar um entendimento entre Francisco e Trump: mas somente dias depois houve o anúncio da retirada do Acordo de Paris... O encontro entre Trump e Francisco no Vaticano não foi um armistício, mas um abrandamento da parte do Vaticano na tentativa de manter aberto um importante canal de comunicação com a América. Mas ninguém fazia ilusões a respeito dos resultados do encontro.
IHU On-Line – Come vê o Pontificado de Francisco, depois de quatro anos na condução da Santa Sé? O que significa a saída do cardeal Müller da Congregação para a Doutrina da Fé - CDF ? Estes são os movimentos de reforma de Francisco? Como imagina que essa mudança ressoe? 
Massimo Faggioli – A longo prazo, as questões mais importantes são duas. A primeira diz respeito ao futuro papel da CDF: por um lado, a CDF foi o exemplo mais visível da paralisação das congregações da Cúria sob Francisco. Em quatro anos, desde março de 2013, a CDF publicou apenas dois documentos (menores): um papel completamente diferente da CDF sob João Paulo II e Bento XVI. É um desenvolvimento comemorado por muitos na Igreja, porque veem como, finalmente, não estão mais sujeitos a uma voz institucionalmente poderosa do Magistério ao lado do Papa e dos bispos, de algum modo superior e soberana em relação aos bispos locais e às conferências episcopais.
Por outro lado, se a CDF, tendo como prefeito Ladaria, vai continuar a trabalhar, enquanto congregação, como estava trabalhando sob Francisco. Assim, a nomeação de Ladaria poderia não ser tão proveitosa como deveria. Ele representa uma voz moderada que poderia trazer uma nova maneira de lidar com as complexas questões levantadas por um catolicismo recentemente globalizado; um novo modelo de cooperação com o resto da Cúria e com as Conferências Episcopais; um novo papel da Comissão Teológica Internacional; sobretudo, uma nova maneira de a CDF trabalhar com o papado.
Mas tudo isso faz parte do futuro da Cúria Romana, em uma igreja onde o “orbis” está crescendo longe da “urbs”. Parte do “orbis” é também a SSPX , e veremos como o arcebispo Ladaria, sucessor do cardeal Müller na função de presidente da Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei", irá abordar as negociações com o grupo cismático: interessante que o cardeal Müller representasse a defesa do Vaticano II e a necessidade para a SSPX de aceitar os ensinamentos do Concílio.
A segunda questão é burocrática-institucional. Francisco decidiu não renovar o mandato de cinco anos para o cardeal Müller. Se Francisco decidisse aplicar os cinco anos a todos os postos da Cúria, poderia ser uma verdadeira e própria revolução a aplicação do princípio geral de que padres e bispos servem na Cúria, sabendo que voltarão para suas Igrejas ou Comunidades locais ou para outro ministério.

Inédito: como a Volkswagen colaborou com a ditadura

Inédito: como a Volkswagen colaborou com a ditadura

Num vídeo da TV pública alemã, a história oculta: espionagem interna, delação de operários aos órgãos repressivos, prisões dentro da fábrica. Um exemplo emblemático da ligação entre capital e totalitarismo
(assista aqui, com legendas em português)

O programa secreto do capitalismo totalitário: Como Charles Koch e outros bilionários financiaram, nas sombras, um projeto político que implica devastar o serviço público e o bem comum, para estabelecer a “liberdade total” do 1% mais rico

O programa secreto do capitalismo totalitário

 
 
 
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Como Charles Koch e outros bilionários financiaram, nas sombras, um projeto político que implica devastar o serviço público e o bem comum, para estabelecer a “liberdade total” do 1% mais rico
Por George Monbiot | Tradução: Antonio Martins
É o capítulo que faltava, uma chave para entender a política dos últimos cinquenta anos. Ler o novo livro de Nancy MacLean,Democracy in Chains: the deep history of the radical right’s stealth plan for America [“Democracia Aprisionada: a história profunda do plano oculto da direita para a América] é enxergar o que antes permanecia invisível.
O trabalho da professora de História começou por acidente. Em 2013, ela deparou-se com uma casa de madeira abandonada no campus da Universidade George Mason, em Virgínia (EUA). O lugar estava repleto com os arquivos desorganizados de um homem que havia morrido naquele ano, e cujo nome é provavelmente pouco familiar a você: James McGill Buchanan. Ela conta que a primeira coisa que despertou sua atenção foi uma pilha de cartas confidenciais relativas a milhões de dólares transferidos para a universidade pelo bilionário Charles Koch1.
TEXTO-MEIO
Suas descobertas naquela casa de horrores revelam como Buchanan desenvolveu, em colaboração com magnatas e os institutos fundados por eles, um programa oculto para suprimir a democracia em favor dos muito ricos. Tal programa está agora redefinindo a política, e não apenas nos Estados Unidos.
Buchanan foi fortemente influenciado pelo neoliberalismo de Friedrich Hayek e Ludwig von Mises e pelo supremacismo de proprietários de John C Carlhoun. Este último argumentava, na primeira metade do século XIX, que a liberdade consiste no direito absoluto de usar a propriedade – inclusive os escravos – segundo o desejo de cada um. Qualquer instituição que limitasse este direito era, para ele, um agente de opressão, que oprime homens proprietários em nome das massas desqualificadas.
James Buchanan reuniu estas influências para criar o que chamou de “teoria da escolha pública. Argumentou que uma sociedade não poderia ser considerada livre exceto se cada cidadão tivesse o direito de vetar suas decisões. Queria dizer que ninguém deveria ser tributado contra sua vontade. Mas os ricos, dizia ele, estavam sendo explorados por gente que usa o voto para reivindicar o dinheiro que outros ganharam, por meio de impostos involuntários usados para assegurar o gasto e o bem-estar social. Permitir que os trabalhadores formassem sindicatos e estabelecer tributos progressivos eram, sempre segundo sua teoria, formas de “legislação diferencial e discriminatória” sobre os proprietários do capital.
Qualquer conflito entre o que ele chamava de “liberdade” (permitir aos ricos fazer o que quiserem) e a democracia deveria ser resolvido em favor da “liberdade”. Em seu livro The Limits of Liberty [“Os limites da liberdade”], ele frisou que “o despotismo pode ser ser a única alternativa para a estrutura política que temos”. O despotismo em defesa da liberdade…
Ele prescrevia o que chamou de uma “revolução constitucional”: criar barreiras irrevogáveis para reduzir a escolha democrática. Patrocinado durante toda sua vida por fundações riquíssimas, bilionários e corporações, ele desenvolveu uma noção teórica sobre o que esta revolução constitucional seria e uma estratégia para implementá-la.
Ele descreveu como as tentativas de superar a segregação racial no sistema escolar do sul dos Estados Unidos poderiam ser frustradas com o estabelecimento de uma rede de escolas privadas, patrocinadas pelo Estado. Foi ele quem primeiro propôs a privatização das universidades e cobrança de mensalidades sem nenhum subsídio estatal: seu propósito original era esmagar o ativismo estudantil. Ele recomendou a privatização da Seguridade Social e de muitas outras ações do Estado. Queria romper os laços entre os cidadãos e o governo e demolir a confiança nas instituições públicas. Ele queria, em síntese, salvar o capitalismo da democracia.
Em 1980, pôde colocar este programa em prática. Foi chamado ao Chile, onde ajudou a ditadura Pinochet a escrever uma nova Constituição – a qual, em parte devido aos dispositivos que Buchanan propôs, tornou-se quase impossível de revogar. Em meio às torturas e assassinados, ele aconselhou o governo a ampliar seus programas de privatazação, austeridade, restrição monetária, desregulamentação e destruição dos sindicatos: um pacote que ajudou a produzir o colapso econômico de 1982.
Nada disso perturbou a Academia Sueca que, por meio de Assar Lindbeck, um devoto na Universidade de Estocolomo, conferiu a James Buchanan o Nobel de Economia de 1986. Foi uma das diversas decisões que tornaram duvidosa a honraria.
Mas seu poder realmente intensificou-se quando Charles Koch, hoje o sétimo homem mais rico nos EUA, dicidiu que Buchanan tinha a chave para a transformação que desejava. Para Koch, mesmo ideólogos neoliberais como Milton Friedman e Alan Greenspan eram vendidos, já que tentavam aperfeiçoar a eficiência dos governos, ao invés de destruí-los de uma vez. Buchanan era o realmente radical.
Nancy MacLean afirma que Charles Koch despejou milhões de dólares no trabalho de Buchanan na Universidade George Mason, cujos departamentos de Direito e Economia parecem muito mais thinktanks corporativos que instituições acadêmicas. Ele encarregou o economista de selecionar o “quadro” revolucionário que implementaria seu programa (Murray Rothbard, do Cato Institute, fundado por Koch, havia sugerido ao bilionário estudar as técnicas de Lenin e aplicá-las em favor da causa ultraliberal). Juntos, começaram a desenvolver um programa para mudar as regras.
Os documentos que Nancy Maclean descobriu mostram que Buchanan via o sigilo como crucial. Ele afirmava a seus colaboradores que “o sigilo conspirativo é essencial em todos os momentos”. Ao invés de revelar seu objetivo último, eles deveriam agir por meio de etapas sucessivas. Por exemplo, ao tentar destruir o sistema de Seguridade Social, sustentariam que estavam salvando-o e argumentariam que ele quebraria sem uma série de “reformas” radicais. Aos poucos, construiriam uma “contra-inteligência”, articulada como uma “vasta rede de poder político” para, ao final, constituir um novo establishment.
Por meio da rede de thinktanks financiada por Koch e outros bilionários; da transformação do Partido Republicano; de centenas de milhões de dólares que destinaram a disputas legislativas e judiciais; da colonização maciça do governo Trump por membros de sua rede e de campanhas muito efetivas contra tudo – da Saúde pública às ações para enfrentar a mudança climática, seria justo dizer que a visão de mundo de Buchanan está aflorando nos EUA.
Mas não apenas lá. Ler seu livro desvendou, para mim, muito da política britânica atual. O ataque às regulamentações evidenciado pelo incêndio da Torre Grenfell, a destruição dos serviços públicos por meio da “austeridade”, a regras de restrição do orçamento, as taxas universitárias e o controle das escolas: todas estas medidas seguem à risca o programa de Buchanan.
Em um aspecto, ele estava certo: há um conflito inerente entre o que ele chamava de “liberdade econômica” e a liberdade política. Deixar os bilionários de mãos livres significa, para todos os demais, pobreza, insegurança, contaminação das águas e do ar, colapso dos serviços públicos. Como ninguém votará em favor deste programa, ele só pode ser imposto por meio de decepção e controle autoritário. A escolha é entre o capitalismo irrestrito e a democracia. Não se pode ter os dois.
O programa de Buchanan equivale à prescrição de capitalismo totalitário. E seus discípulos apenas começaram a implementá-lo. Mas ao menos, graças às descobertas de Nancy Maclean, agora podemos compreender a agenda. Uma das primeiras regras da política é conhecer seu inimigo. Estamos a caminho.
1Nos últimos anos, reportagens e vídeos têm começado a jogar luz sobre a atividade política dos irmãos Charles e David Koch, e seus vínculos com a ultra-direita nos EUA e em outras parte do mundo. Vale assistir, por exemplo, a Koch Brothers exposed, documentário de Robert Greenwald (https://www.youtube.com/watch?v=2N8y2SVerW8); ou ler “Por dentro do império tóxico dos irmãos Koch”, publicado pela revista Rolling Stones (em inglês) http://www.rollingstone.com/politics/news/inside-the-koch-brothers-toxic-empire-20140924

Sunday, July 16, 2017

“Sua vida está do lado correto na justiça? Discurso do padre jesuíta David Fernández, reitor da Universidade Iberoamericana, aos egressos do curso de Administração de Empresas

O padre jesuíta David Fernández, reitor da Universidade Iberoamericana da Cidade do México, conclama: “Não ficarmos na filantropia, mas, ao contrário, responder ao clamor da Justiça. Questionar e mudar, ao invés de reforçar ou de simplesmente nos acomodar ao sistema tão injusto”.

O discurso é publicado pela CPAL Social, 12-07-2017. A tradução é do Cepat.

Eis o discurso.

Agradeço aos organizadores desta cerimônia comemorativa do 60º aniversário da fundação do curso de Administração de Empresas, e mais amplamente à Sociedade de Egressos deste curso da Universidade Iberoamericana, que me convidaram para dizer algumas palavras por ocasião, também, da entrega da premiação “Xavier SheiflerS. J.”, para aqueles que agora homenageamos. Dada a importância deste ato, vou abusar de sua generosidade para falar sobre a magnanimidade e a filantropia. O tema deu muitas voltas em minha cabeça e pensei muito tempo no que, verdadeiramente, eu gostaria de lhes dizer nesta ocasião. Nesse sentido, deparei-me com uma peça oratória de um autor indiano, Anand Giridharadas, que me disse o que realmente desejava lhes comunicar neste ambiente de festa e agradecimento.

Gostaria de refletir sobre a participação de nossa comunidade universitária e de seus egressos nas injustiças mais importantes e dolorosas de nosso tempo. E sugerirei, a propósito, que talvez nem sempre somos os líderes positivos ou simplesmente as pessoas que acreditamos ser.

No México e no mundo inteiro temos um gravíssimo problema de desigualdade. Neste momento de mudanças radicais e de novas definições sociais, ocorre que existem territórios onde as coisas florescem e outras mais onde murcham e morrem. Em uma outra ocasião, chamei esta desigualdade radical de “apartheid social”.

Em geral, os debates e deliberações acerca do que devemos fazer para diminuir a pobreza são auspiciadas e realizadas pelos grupos de pessoas exitosas, com alto bem-estar econômico. Nossa comunidade Universitária vive dos lucros obtidos pelo funcionamento deste sistema injusto. Nossas atividades são patrocinadas por PepsiCitibankLiverpoolSamsung. Estamos profundamente comprometidos com o estabelecido e com o sistema que dizemos questionar. Mesmo assim, somos uma comunidade de crentes inacianos, com liderança social e empresarial que luta pela justiça. Estas duas identidades são verdadeiramente difíceis de reconciliar. Hoje, quero questionar a maneira como as reconciliamos. Quero questionar a ética que prevalece entre os triunfadores de hoje no mundo todo, nos negócios, no governo e, inclusive, em muitas organizações da sociedade civil.

O núcleo dessa ética e do propósito de nossa Universidade é desafiar os favorecidos do mundo para que façam o bem, cada vez um bem maior, mas nunca temos lhes dito, nem dizemos ainda, que façam um mal menor aos demais.

O pensamento comum entre nós sustenta que o capitalismo possui excessos e danos colaterais graves que precisam ser atenuados, ângulos que é preciso polir, e que os frutos imoderados devem ser compartilhados; mas sempre sem questionar o sistema subjacente.

A ética de nossas associações filantrópicas e de nossos egressos sustenta que é preciso devolver o que nos foi dado, o que, é claro, é algo nobre e compassivo. Mas, em meio a enorme pobreza que vivemos, da violência que nos corrói, é óbvio que “devolver o que nos foi dado” é colocar apenas um curativozinho no sistema que privilegiou as elites as quais pertencemos, com a esperança consciente ou inconsciente de que isso evite a necessidade de uma cirurgia maior nesse sistema – cirurgia que talvez possa ameaçar nossos privilégios.

Nossa ética, acredito, quer propor a generosidade como substituta da justiça. O que na realidade dizemos é: faça dinheiro da forma como todo mundo faz, e depois retribua algo por meio de uma doação, ou mediante a criação de uma fundação, ou com alguma ação que tenha impacto social, ou acrescente alguns comentários compassivos ao pé de sua análise.

Nossa ética diz: “faça mais o bem”, mas nunca diz “provoque menos dano”

Quero iniciar com este breve discurso, já que hoje não há tempo para me estender, com uma conversa difícil entre nós sobre estas regras do jogo. Faço isto porque amo a nossa comunidade universitária, porque nós, jesuítas, somos corresponsáveis da formação de nossos egressos, porque temo que talvez não sejamos tão virtuosos e cristãos como pensamos; e porque acredito que a história não será tão generosa conosco como esperamos, e que em uma análise final nosso papel nas desigualdades de nossa época não será bem recordado. Por isso, faço isto.

Gostaria que falássemos honestamente sobre alguns dos danos que os “triunfadores” de hoje infligem aos demais, enquanto procuram o bem-estar para si mesmos, antes de buscarem compensá-lo fazendo o bem.

Muitos de nós não trabalhamos em negócios ou finanças. E, no entanto, vivemos em uma época na qual as suposições e os valores empresariais têm uma influência muito maior do que deveriam ter. Vemos isto em muitos outros setores da realidade. Nossa cultura converteu os empresários e homens de negócios em filósofos (“coloque uma startup em sua vida para que tenha sentido”), revolucionários (“a mudança começa em você mesmo”), ativistas sociais (“o melhor negócio hoje é investir nos pobres”), salvadores dos pobres (“é preciso ensinar a pescar”). Estamos com o risco sério de esquecer muitas outras linguagens para expressar o que significa o progresso humano: moralidade, democracia, solidariedade, decência, justiça.

Com frequência, sucumbimos ao dogma sedutor de Davos de que a aproximação empresarial é a única que pode mudar, frente à enorme evidência histórica do contrário.

E, então, quando os triunfadores de nossa época querem responder aos problemas da pobreza, da desigualdade e da injustiça, agem dentro da mesma lógica e no marco dos negócios e dos mercados. Desta maneira, falamos muito em retribuir, compartilhar lucros, de ganhar-ganhar, do investimento com impacto social, da responsabilidade social empresarial, etc.

Às vezes, pergunto-me se estas diversas formas de retribuir o recebido se converteram para nossa era no que foram as indulgências papais para a Idade Média: uma forma relativamente barata de estar aparentemente do lado correto da justiça, mas sem ter que, no fundamental, alterar a própria vida.

Estas estruturas e sistemas produzem vítimas, e corremos o risco de confundir a generosidade para com essas vítimas com a justiça para essas vítimas. A generosidade é ganhar-ganhar, mas a justiça com frequência não o é. Os ganhadores de nosso tempo não gostam da ideia de que, talvez, alguns deles tenham que perder, que fazer sacrifícios, para que a justiça prevaleça. Não escutamos muitos discursos que destaquem que os poderosos e privilegiados estão equivocados e que precisam descer de seus status e posições em favor da justiça.

Falamos muito de dar mais. Contudo, não falamos de tirar menos.

Falamos muito a respeito do muito que precisamos fazer. No entanto, não falamos do muito que precisamos deixar de fazer.

Sou consciente de que esta intervenção que agora faço não me fará popular com ninguém. Mas, para mim, considero que isto que agora faço é um dever de consciência, em coerência com o Evangelho do Senhor Jesus.

Também não ignoro que muitos de vocês concordam comigo porque há vínculos surgidos do trabalho de anos da Companhia de Jesus em nossa Universidade e porque compartilhamos o sentimento de que existe algo que não funciona bem em nossa sociedade.

O problema central é este: sua vida – não o seu projeto filantrópico – está do lado correto na justiça? Como diria nossa última Congregação Geral: sua empresa, seu trabalho, ajuda a nos reconciliar com os demais e com a criação ou, ao contrário, aprofunda nossas distâncias e a crise social e ecológica que o Papa Francisco denunciou? O mundo precisa de mais magnatas chineses comprometidos com a filantropia ou, ao contrário, de menos magnatas chineses corruptos?

O mundo necessita de sócios do Goldman Sachs assessorando mulheres ou dando dinheiro às escolas de crianças pobres ou, ao contrário, de sócios do Goldman que arriscam tudo para dizer: a forma como minha companhia faz negócios não é correta, e brigarei para fazer do Goldman uma instituição social positiva, ao invés de um vampiro extrator de recursos, mesmo que isso me custe o trabalho?

Às vezes, pergunto-me se estamos aqui para mudar o sistema ou para que o sistema nos mude. Usamos nossa força coletiva para desafiar os poderosos ou estamos ajudando a fazer de um injusto e inaceitável sistema algo muito mais digerível por todos?

E, contudo, aqui estamos, comemorando ser egressos de uma instituição jesuíta. Por quê? Porque há algo maravilhoso nesta comunidade. E porque acreditamos que podemos ser muito mais do que fomos até agora: genuínos servidores do Reino de Deus, dos mais pobres e dos excluídos, neste caótico momento crucial para o mundo.

Mas, se queremos desempenhar realmente este papel, acredito que precisamos considerar fazer uma mudança fundamental na orientação de nossos esforços como egressos de uma universidade de inspiração cristã: de trabalhar com o sistema, a trabalhar para questionar honestamente o sistema naquilo em que é deficiente para com as pessoas; da tranquilizadora ideia de fazer o bem sem olhar a quem, à noção mais corajosa de fazer o bem colocando em risco essa condição que nos dá a oportunidade de fazer o bem.

Desculpem-me, pois. E obrigado”.

Dia 06 de julho de 2017

O mercadismo que quer operar acima das tensões sociais e políticas, por André Araújo

O mercadismo que quer operar acima das tensões sociais e políticas, por André Araújo

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Foto: José Cruz/Agência Brasil
 
Por André Araújo
 
 
Samuel Pêssoa virou uma espécie de guru intelectual do mercadismo radical que pretende operar acima das tensões sociais e políticas, algo hoje inteiramente fora de moda nas grandes nações pós-crise de 2008.
 
Nos EUA, catedral mundial do pensamento econômico aplicado à realidade, foi o ESTADO de corpo e alma quem salvou o mercado em 2008, salvou da crise PROVOCADA PELOS EXCESSOS DO MERCADO. 
 
Se não fosse o Tesouro dos EUA, a crise de 2008 seria infinitamente maior. Foi o Tesouro dos EUA, autorizado pelo Presidente Obama, quem sacou dinheiro de seu caixa no importe nada desprezível de US$778 bilhões dentro da autorização do programa TARP para salvar o Citigroup, a General Motors, a seguradora AIG e mais 200 outras corporações e bancos, decisão tomada de forma ultrarrápida, engenhosa, eficiente e sem pruridos ideológicos, no incêndio não se pergunta de onde vem a água e SALVOU O MERCADO. 
 
Depois disso as teses do neoliberalismo puro FORAM ENTERRADAS nos EUA, o "mercado" perdeu tanto prestígio político que Trump, um aventureiro anti-mercado, no qual deu muitos tombos a ponto de não ter mais crédito nos EUA desde o começo da última década e ter que se financiar em paraísos fiscais com dinheiro de origem suspeita, seu maior financiador são bancos de Chipre, que operam 100% com dinheiro russo, a entidade "Wall Street" não é mais o farol do mundo, as universidades do "mainstream" monetarista já não pregam mais o credo de Friedman mas esqueceram de avisar os "economistas de mercado" do Brasil e seus apoiadores intelectuais como Samuel Pessoa e Mansueto Almeida, que continuam com a velha e desmoralizada cartilha do "ajustismo", mas sempre esquecendo de sequer mencionar a incongruência dos super-juros que se paga aos credores do Estado, isso não consideram despesa porque do outro lado dela está a receita dos bancos e rentistas. 
 
O ajuste então tem que ser feito em cima de remédios e merenda, prebendas de pobres folgados. Acho estranho intelectuais que acredito não serem bilionários defenderem banqueiros e financistas. Deixe que eles se defendam, quem está do outro lado da cerca deve defender o povo e suas carências e não o financismo. 
 
Nada mais natural que Armínio Fraga, que vendeu sua gestora para o Morgan por 700 milhões de dólares ou Roberto Setúbal, que preside um banco que vale na bolsa US$ 72 bilhões ou Henrique Meirelles, que tem apartamento luxuoso e aposentadoria garantida em Nova York, defendam o financismo com legitimidade, mas acho incrível professores de universidade defenderem nababos do neoliberalismo, não fica bem. 
 
Lembremos que bilionários americanos, muitos deles, se dedicaram a causas sociais como resgate de uma dívida pela sua riqueza, o símbolo deles são os Rockefeller, que doaram a boas causas o grosso de sua fortuna, incluindo-se aí o prédio da Faculdade de Medicina da USP e a sede das Nações Unidas em Nova York.
 
A filha de David Rockefeller, Peggy, morou dois anos na favela da Rocinha trabalhando em assistência social, e ia ao centro do Rio de ônibus coletivo, herdeira de uma fortuna símbolo da história do capitalismo, aqui no Brasil há pobres que prestam homenagem a banqueiros com apartamento em Paris e torcem o nariz para as periferias carentes.
 
A defesa do neoliberalismo no Brasil é incompatível com a situação política e social atual do Brasil, nosso estágio exige a presença do Estado em larga escala, assim como na Índia, na China e na Rússia, o mega capitalismo só funciona em outro estágio da organização social de um País, com mais de 100 milhões de pobres e miseráveis nas periferias das grandes e médias cidades, com desemprego de 30% entre os jovens, o neoliberalismo não vai resolver graves problemas nem em cem anos, a economia é parte do tecido social, não está fora dele, o neoliberalismo pode ser eficiente para si mesmo mas não é eficiente se na sua escalada produz um imenso exército de miseráveis sem futuro. 
 
Economista desligado da realidade social, além de ser uma anomalia por definição, é um perigo para a política e para a definição de políticas com verniz intelectual.

Militares, ciências, Educação Popular.

A pandemia atual expõe a falácia de alguns dogmas sobre a pós modernidade, ela mesma integra a lista dos enunciados falsos de evidências lóg...