O LENÇOL ESCRAVOCRATA DO AGRO É TOALHA DE MESA DO GOLPE
ensaio das palavras que insistem
por Helio Carlos Mello23 outubro, 2017
![](https://i2.wp.com/jornalistaslivres.org/wp-content/uploads/2017/10/migrantes_ripperJL.jpg?resize=1024%2C682&ssl=1)
A abolição e denuncia do trabalho escravo que insiste, imagens que não querem sair de cena em tempos de golpe. ©João Roberto Ripper
Quem imaginaria dez anos atrás que hoje estaríamos novamente falando do significado de trabalho escravo ou pensando em futuras alforrias? O trabalho escravo que aproximou índios e pretos, os negócios no campo e toda a costura política de favores e benefícios políticos na configuração da turma liberal .
O professor Alfredo Bosi, certa vez, em texto no final da década de 80 sobre os meandros da escravidão no Brasil, aventou como se estabeleceu a palavra liberal em nosso meio pela história:
UMA ANÁLISE SEMÂNTICO-HISTÓRICA APONTA PARA QUATRO SIGNIFICADOS DO TERMO, OS QUAIS VÊM ISOLADOS OU VARIAMENTE COMBINADOS:1) LIBERAL, PARA A NOSSA CLASSE DOMINANTE ATÉ OS MEADOS DO SÉCULO XIX, PÔDE SIGNIFICAR CONSERVADOR DAS LIBERDADES,CONQUISTADAS EM 1808, DE PRODUZIR, VENDER E COMPRAR.2) LIBERAL PÔDE, ENTÃO, SIGNIFICAR CONSERVADOR DA LIBERDADE, ALCANÇADA EM 1822, DE REPRESENTAR-SE POLITICAMENTE;OU, EM OUTROS TERMOS, TER O DIREITO DE ELEGER E DE SER ELEITO NA CATEGORIA DE CIDADÃO QUALIFICADO.3) LIBERAL PÔDE, ENTÃO, SIGNIFICAR CONSERVADOR DA LIBERDADE (RECEBIDA COMO INSTITUTO COLONIAL E RELANÇADA PELA EXPANSÃO AGRÍCOLA) DE SUBMETER O TRABALHADOR ESCRAVO MEDIANTE COAÇÃO JURÍDICA.4) LIBERAL PÔDE, ENFIM, SIGNIFICAR CAPAZ DE ADQUIRIR NOVAS TERRAS EM REGIME DE LIVRE CONCORRÊNCIA, ALTERANDO ASSIM O ESTATUTO FUNDIÁRIO DA COLÔNIA NO ESPÍRITO CAPITALISTA DA LEI DE TERRAS DE 1850. ,…ANALISANDO A CONDUTA AUTODEFENSIVA DOS LIBERAIS, COMENTAVA SAINT-HILAIRE NO ANO EM QUE SE FAZIA A INDEPENDÊNCIA:“MAS SÃO ESTES HOMENS QUE, NO BRASIL, FORAM OS CABEÇAS DA REVOLUÇÃO; NÃO CUIDAVAM SENÃO EM DIMINUIR O PODER DO REI, AUMENTANDO O PRÓPRIO. NÃO PENSAVAM, DE MODO ALGUM, NAS CLASSES INFERIORES”
Agora, na segunda década do XXI, o Brasil foi notícia em várias manchetes e advertido em várias instâncias internacionais durante a semana passada. Os elos das correntes que nos prendem não apontam para o futuro, mas no ferro querem nos marcar. Entre velhos grafismos estampados em nossas cavernas e o DNA colonialista de nossa economia, onde o Agro dá as cartas nas transações de governo e o comando restringe todos investimentos em ciência e cultura necessários, Temer e os seus parceiros de latifúndios querem redefinir a palavra escravidão e trabalho, educação e saúde.
Não iremos em direção ao espaço sideral ou andaremos em carros voadores, elétricos, tudo nos direciona ao passado agora. Para o país querem as liteiras de volta, enquanto a soja germina no campo. Venderão praias, parques e reservas, ensaiam mazelas ao futuro. Irão ensinar o índio a pescar e plantar. No quilombo farão grandes condomínios. O aquífero será todo tragado pois a sede de poder dessa gente não tem sertão.
O jornalismo não irá calar-se, segue denunciando e unindo, queremos o futuro, os humanos, a democracia e um planeta Terra para viver.
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