'Travar essa luta é gesto heroico e patriótico', diz Pochmann
Para professor da Unicamp, não é simples fazer greve em ambiente tão desfavorável: “Um em cada quatro brasileiros está desempregado”. Clemente, do Dieese, destaca construção de unidade
por Redação RBA, com Coletivo #GrevePorDireitos publicado 30/06/2017 10h33, última modificação 30/06/2017 14h27
SINDIQUIM/FB
Químicos do ABC: paralisações na Ortobom (foto) e EMS, em São Bernardo, Sprimag, em Diadema, e Prismag, em São Caetano
São Paulo – O 30 de junho transcorre de maneira diferente do 28 de abril. Na ocasião, o dia de lutas contra as reformas trabalhista, da Previdência e pelo afastamento de Michel Temer ganhou caráter de greve geral que envolveu cerca de 35 milhões a 40 milhões de trabalhadores, segundo avaliação dos organizadores. Para esta sexta-feira, as centrais optaram pelo mote “parar o Brasil” onde for possível, com greves, paralisações parciais, protestos e “trancaços” – embora muitos movimentos sociais tenham mantido a chamada para “greve geral”.
Em São Paulo, com maior dificuldade de adesão dos setores de transporte coletivo, devido a retaliações da greve anterior e de ameaças de multas milionárias aos sindicatos, os protestos têm se concentrado nas entradas de empresas e bancos e nos bloqueios de avenidas – na região metropolitana e cidades importantes do interior. No Rio de Janeiro, os bloqueios atingem estradas e avenidas em todo o estado e na capital. Em muitos centros urbanos de todas as regiões do país e no Distrito Federal, ônibus e metrôs pararam.
Para o economista Marcio Pochmann, cada greve tem seu contexto, e categorias que não paralisaram antes paralisam agora, e vice-versa. “É um ato heroico, e diria também patriota. Segundo o IBGE, a cada quatro trabalhadores um está na situação de desemprego, não é simples o ato de greve, porque estamos fazendo esse movimento em um ambiente extremamente desfavorável”, disse Pochmann, em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Pochmann avalia os diferentes perfis das centrais sindicais como naturais numa sociedade plural, e observa que as diferenças não as impede de agregar forças em dos objetivos considerados comuns, como barrar as reformas que reduzam e eliminam direitos. “É óbvio que há diferenças no interior das centrais sindicais, mas não me parece que esse seria o elemento que justificaria um quadro diferente dessa greve em relação à realizada anteriormente. Há um desequilíbrio nas centrais sindicais, umas são mais atuantes do que outras, mas o importante é manter a convergência e entender que a solução pelo Brasil passa justamente pela unidade na luta.”
O economista destaca ainda a movimentação indo além dos trabalhadores organizados e alcançando movimentos populares, partidos políticos e organizações religiosas. “Temos uma representatividade grande. Ela termina envolvendo mesmo posicionamento de juízes do Trabalho, é mais um dia importante que vai ser marcado na história”, acredita o professor.
A construção dessa unidade chama também atenção do diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, em seu comentário na Rádio Brasil Atual. “O movimento sindical observa uma capacidade crescente de fazer com que esse movimento se espalhe em todo território, esteja presente em todas as cidades. Há um movimento que é fundamental, as pessoas estão realizando deliberações. Há diferentes posicionamentos, mas uma grande convergência”, afirma Clemente. “Mesmo que alguém diga ‘não tenho condições de fazer greve na minha categoria’, está fazendo um ato, um protesto, uma marcha. Há quase uma unidade absoluta de todos se colocarem em movimento, e todos acham que é preciso ter uma atuação.”
Para o diretor do Dieese, há também uma diferença de contexto entre o dia de hoje e a greve de abril, observada pelas centrais desde a preparação. “O que não quer dizer que daqui pra frente não se realizem outros movimentos, inclusive uma paralisação geral muito mais unitária com a construção de uma base muito mais identificada com essa situação. O objeto de curto prazo, a reforma trabalhista, muito mais perversa que a reforma da Previdência, é menos conhecida. As pessoas têm menor compreensão do impacto que terá em suas vidas”, avalia Clemente.
“Tem muita coisa pra ser reconstruída à frente, a resistência agora é importante para que não percamos nem direitos, nem os instrumentos para sustentarmos nosso desenvolvimento, as empresas públicas, os recursos naturais, as indústrias nacionais", observa. "Há tanta coisa sendo destruída nesse processo e esses movimentos precisam dar conta de entender o que está acontecendo e construir um posicionamento para que a trajetória de nosso país seja alterada.”
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