Especialistas criticam Doria, que atribui aumento do trânsito nas marginais ao 'otimismo econômico'
Para Américo Sampaio, da Rede Nossa São Paulo, afirmação do prefeito não tem embasamento técnico e serve para "esconder os verdadeiros motivos" da piora da fluidez
por Felipe Mascari, da RBA publicado 23/05/2017 15h38, última modificação 23/05/2017 15h39
EBC
Após o aumento da velocidade nas marginais, congestionamento cresceu em até 75% nos horários de pico
São Paulo – O prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), afirmou no último sábado (20) que o aumento do trânsito nas marginais Tietê e Pinheiros é consequência do "otimismo da população sobre a economia", o que teria feito mais pessoas voltarem a utilizar carros. Segundo especialistas ouvidos pela RBA, a afirmação do tucano não tem embasamento técnico e serve para "esconder os verdadeiros motivos" para a piora na fluidez.
"Definitivamente, uma eventual retomada da economia não tem influência no trânsito. Essa argumentação é injustificável, sem nenhum dado ou indicador para comprovar isso. É um palpite desinformado para esconder os reais motivos que pioram o trânsito", afirma Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, levantamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) aponta que os congestionamentos das marginais aumentaram em até 75% nos horários de pico, em comparação ao primeiro trimestre do ano passado. Por outro lado, o trânsito na região central da capital se reduziu em 44%.
O engenheiro de transportes e consultor em mobilidade Horácio Figueira contesta a argumentação do prefeito. "O otimismo da economia só influenciou nas marginais? E nos bairros, é só pessimismo?", ironiza. Ele reafirma que a fala de Doria não tem embasamento técnico. "É brincadeira dele. Tecnicamente não dá nem para comentar, não precisa nem ser engenheiro para saber disso. Que me perdoe o prefeito, mas ele falou besteira", critica.
Sampaio lembra que não é a primeira vez que o prefeito utiliza "dados econômicos" para justificar algum problema da cidade. Em fevereiro deste ano, ao ser questionado sobre a queda de 3,4% na varrição de ruas e coleta de lixo, o tucano afirmou, à Folha, que "a crise econômica fez a produção de lixo cair". "Então, em dois meses, saímos da crise? Quando tem alguma queda, ele aponta a crise econômica, mas quando aponta um aumento de indicador, fala sobre a melhora da economia", contesta o gestor de projetos.
Para os dois especialistas, o aumento da velocidade nas marginais é um dos principais fatores para a elevação do trânsito. "Diversos estudos apontam que, quando se reduz a velocidade, diminui o número de acidentes. Caindo o percentual de acidentes, o fluxo do trânsito melhora", afirma Sampaio, que apresenta outro dado para comprovar a tese. "A redução de velocidade também diminui o espaço necessário entre um carro e outro. Essa distância faz com que mais carros caibam na via e o fluxo melhore", aponta.
"O motorista está andando próximo ao limite de velocidade e, lá na frente, está tudo lento por causa de algum acidente, índice que cresceu devido aumento da velocidade. Quanto mais rápido você chega ao fim da fila, maior ela fica. Então, quanto mais devagar você anda, existe mais tempo para a fila se dissipar ou diminuir", explica Figueira.
Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), considerado uma prévia do PIB, divulgado em abril deste ano, o Produto Interno Bruto teve uma alta de apenas 1,31% em fevereiro na comparação com o mês anterior.
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