Wednesday, October 15, 2008

PUC-SP: convergir para mudar

CARTA DO PROFESSOR VALVERDE DE APOIO AO PROFESSOR FÁBIO GALLO – NA DEMOCRACIA VIGORA A LIBERDADE, O ESPÍRITO PÚBLICO, A ESCOLHA E A OPÇÃO COM RESPEITO PELO SEU CANDIDATO SEM BAIXARIA – TRISTE FOI OBSERVAR NA PUC-SP CARTAZES PICHADOS ... IMATURIDADE POLÍTICA E MÁ FÉ NO EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO E REPUBLICANO. PARABÉNS PROFESSOR VALVERDE – PELA POSIÇÃO E APOIO AO PROFESSOR FÁBIO GALLO.

PUC-SP: convergir para mudar

Antonio José Romera Valverde [1]

Há exatos 28 anos a PUC de São Paulo, com liberdade rara no ambiente acadêmico brasileiro, realiza eleições diretas para escolha de Reitor, com participação de alunos, professores e funcionários. Entre os dias 21 e 24 deste mês, o rito democrático se repetirá, com uma novidade: mais do que a escolha do Reitor e, também do Vice-Reitor, estarão em jogo o futuro daquela que é uma das mais conceituadas universidades brasileiras, seja pelo papel que sempre desempenhou na vida do país, com intransigente defesa da democracia, seja pelo seu nível acadêmico, reconhecido internacionalmente.

O que está acontecendo? A PUC-SP encontra-se sitiada por dívidas. São, praticamente, R$ 103 milhões, se o cálculo restringir-se ao passivo bancário. Se somados os impostos e o passivo trabalhista, o valor ultrapassa o patamar dos R$ 300 milhões. Na realidade, é uma dívida móvel que não se tem ainda um cálculo exato, mas a verdade é que a cifra em foco pode ser considerada conservadora. Há pouco menos de uma década, o endividamento bancário somava mais ou menos R$ 24 milhões e as dívidas relativas a impostos e responsabilidades trabalhistas eram muito menores.

Pois bem, entre março de 1999 e abril de 2000 um especialista em gestão, engenheiro com doutorado em finanças, ocupou o cargo de Vice-Reitor e reduziu o endividamento bancário para R$ 14 milhões, restituindo as linhas de crédito junto aos bancos. Estranhamente, foi afastado e, desde então, as dívidas vêm se multiplicando. O nome deste gestor é Fábio Gallo que agora disputa a Reitoria com outros três candidatos. A diferença é que ele tem uma plataforma que une a refundação do modelo de gestão da PUC-SP com um impulso renovador no campo acadêmico.

Além disso, Gallo transita com desenvoltura nas diferentes áreas da Universidade, inclusive junto à Igreja que, não se pode negar, é quem detém o controle da PUC-SP. Esse aspecto é relevante sob qualquer ângulo que se avalie. Significa, em parte, que haverá sintonia quanto a qualidade de gestão e da escolha dos caminhos certos para superação da crise financeira. Em parte, significa também, a preservação de um bem maior da PUC-SP: a liberdade acadêmica. Aliás, vale registrar, a Igreja de São Paulo sempre incentivou e alinhou-se a esse princípio fundamental para o ensino e a pesquisa na Universidade. Nela, todas as correntes políticas, mesmo nos anos de chumbo do regime militar, sempre tiveram voz e representatividade. A liberdade acadêmica tornou-se assim um valor soberano.

Não é, fora de dúvida, o que está em questão. O ponto central, na atualidade, é a capacidade de unir esses valores – liberdade e excelência acadêmicas – ao projeto de gestão. Essa convergência é vital e torna-se incontornável. Se olharmos o ambiente do ensino universitário, é fácil constatar que a PUC-SP, em termos de qualidade, disputa lado a lado a liderança com as melhores universidades do Brasil. Mas, se o tema for a infra-estrutura, as contas a pagar e os horizontes de investimento, a posição no ranking está muito distante do mínimo razoável. Perdemos posições nesse terreno estratégico. O que isto significa? Que a qualidade do ensino encontra-se seriamente ameaçada. Porém, para extrema felicidade, a Professora Maria Margarida Cavalcanti Limena, socióloga por formação, estudiosa da teoria da complexidade, é candidata a Vice-Reitora, e tem conciliado uma carreira acadêmica notável com a Direção da Centro de Ciências Humanas (2005-2008) e a Direção da Faculdade de Ciências Sociais (2001-2005).

É, portanto, o momento de construir a convergência. De explicitar os conflitos latentes, mantendo a fidelidade ao que existe de melhor nos valores republicanos, e, ao mesmo tempo, pensar grande, mas com coerência, competência e visão de futuro. Não se trata apenas de uma disputa entre plataformas concorrentes, mas entre os que sabem e podem fazer melhor e aqueles que apenas vestem os trajes cintilantes de uma concepção idealista – meritória, sem dúvida -, mas sem a vivência prática do que é gerir uma organização em crise. Crise, vale assinalar, são para especialistas, não para aprendizes.

Essa peculiaridade é que será o motor da mudança. Não se pode esquecer, nesse contexto, que a PUC paulistana possui um ativo de inestimável valor: sua marca. Se revitalizada, se alicerçada na convergência entre a gestão e seu patrimônio acadêmico, se soerguerá ainda mais vigorosa do que foi no passado. Será uma questão de tempo, mas o momento inicial, o verdadeiro ponto de partida, encontra-se nas eleições que se aproximam. A sociedade precisa acompanhá-la com interesse porque, afinal, a PUC de São Paulo, mais do que uma organização de ensino, pesquisa e prestação de serviços, pertencente à Igreja, aos estudantes, aos professores e aos funcionários, é um ícone, um patrimônio essencial do país. E essa nuança que faz, neste ano, as eleições para Reitor um fato relevante, um tema que transcende os campi e o universo acadêmico.



________________________________________1] Professor do Departamento de Filosofia da PUC-SP e Coordenador da campanha eleitoral “Fábio Gallo – Margarida Limena”, gestão 2008-2010. www.puchoje.com.br

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