Monday, February 28, 2011

O asfalto da cidade de Piracicaba é uma porcaria

O asfalto da cidade de Piracicaba é uma porcaria – as desculpas podem ser a chuvas e os caminhões pesados que passa pela cidade, mas isso é uma mentira, pois é de péssima qualidade - imaginemos o asfalto da Marginal Tietê na cidade de São Paulo que recebe uma quantidade de veículos pesados maior e superior que a cidade Piracicaba, o que aconteceria com o asfalto da Marginal Tietê? No caso de Piracicaba deveríamos fiscalizar a empresa que presta serviços públicos para cidade e verificar o quanto a empresa lucra com o péssimo asfalto da cidade – Prefeito de uma volta pela cidade e verifique com os próprios olhos – só na frente do Atacadão podemos encontrar uma imensidão de crateras – sem falar das ondulações.

Sunday, February 20, 2011

As universidades federais podem perder até 10% do dinheiro utilizado para custeio

Não é com investimento em ciência e tecnologia que vamos ter um país em processo de desenvolvimento? Não foi isso que o Ministro Mercadante defendeu em seu doutorado ao pensar o desenvolvimento do país no governo Lula? Os cortes nos orçamentos das Universidades Federais não inviabilizam o desenvolvimento do Brasil? Nós vamos “investir” em matéria prima e importar tecnologia, ciências e conhecimento dos americanos, chineses, europeus e japoneses?
O governo brasileiro vai se revelando aos seus eleitores e povo, vamos esperar ou vamos nos mobilizar e começar a agir na esperança de mudar? Podemos lembrar que os velhos oligarcas (e presidente falou que o Brasil era um país de oligarquia e desigualdade – será mesmo presidente? Será que a sua lente não anda desfocada?) do partido voltaram e que muitos desses senhores ligados a corrupção estão de volta podemos até vê-los circulando pelo palácio do governo. Na semana que se foi o mínimo foi à medida do governo dos trabalhadores e hoje podemos ler o desdobramento da corte no orçamento das universidades federais.


Conferir:

As universidades federais podem perder até 10% do dinheiro utilizado para custeio por causa do corte de R$ 50 bilhões no orçamento determinado pela presidente Dilma Rousseff. Estão em estudo também restrições a diárias e passagens utilizadas pelas instituições.
A estimativa dos cortes foi feita pelo secretário de Educação Superior do MEC (Ministério de Educação), Luiz Cláudio Costa, durante uma reunião na Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Nível Superior) na última quinta-feira (17). O MEC deve divulgar, nos próximos dias, um percentual definitivo e quanto será repassado às universidades. Em 2010, o valor de investimento e custeio foi de cerca de R$ 20 bilhões.
Os cortes feitos pela equipe econômica devem deixar os cofres do ministério com R$ 1 bilhão a menos do que o previsto inicialmente. Esse valor é equivalente a quase duas vezes o que o órgão gastou com livros didáticos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental em 2010 (cerca de R$ 513 milhões). Com o dinheiro, também seria possível financiar mais de 800 creches e pré-escolas.
Mesmo assim, a educação deve ser uma das áreas menos afetadas: o Ministério da Defesa, por exemplo, perdeu R$ 3 bilhões. Estima-se que o orçamento do MEC para 2011 fique em torno de R$ 70 bilhões.
No dia 15, uma medida provisória publicada no Diário Oficial autorizou a contratação de professores substitutos, com contratos temporários, para suprir a demanda da expansão das universidades federais. Pela regra anterior, seria necessário fazer novos concursos públicos. No entanto, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciou que em 2011 não devem ser feitas contratações, nomeações de aprovados em concursos ou novos concursos públicos.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2011/02/20/universidades-federais-podem-perder-10-da-verba-de-custeio-por-causa-de-cortes-do-orcamento.jhtmacesso em 20/02/2011.

Friday, February 18, 2011

Até quando a população brasileira vai aceitar um salário mínimo de miséria?

Até quando a população brasileira vai aceitar um salário mínimo de miséria? A população precisa se mobilizar para acabar com os palhaços que governam o país – vamos seguir os exemplos dos nossos contemporâneos do Egito e dos países do Oriente Médio.
Podemos nos Lembrar que em uma noite os senhores deputados aumentam os seus salários em 60% em questão de minutos, enquanto isso, a população inerte acompanha o cenário nacional como uma novela das 21h00 na televisão, como se estivesse em sono letárgico.
Quanto tempo os nossos nobres deputados levaram para votarem o salário mínimo da população brasileira?
Vamos sair da inércia, vamos nos mobilizar e tirar os corruptos que não pensam no bem público brasileiro. E agora o governo que elaborar uma medida provisória para se mobilizar contra os opositores do governo – (que oposição de incompetente, silenciosa e incapaz de mobilização a população, ou seja, uma oposição que não consegue dar voz ao povo e articulá-lo).
Vamos recordar que o governo nazista era um governo de medidas provisórias. O que aconteceu com Alemanha e com os outros países da Europa? Perseguição aos opositores, judeus, cristãos, ciganos e outros sujeitos da sociedade que não enquadrava no modelo social do nacional socialismo.

Sunday, February 13, 2011

A indignação contra o neoliberalismo e a "financeirização" do mundo

O mundo e os seus ecos de indignação, podemos conferir abaixo:


PERFIL

Hessel, o intocável

O embaixador da indignação

RESUMO
Autor de um panfleto que prega a indignação contra o neoliberalismo e a "financeirização" do mundo, Stéphane Hessel é um fenômeno editorial na França e contamina a Europa com seu inconformismo. Perfil de um herói da Resistência, diplomata e filho do casal que inspirou o romance "Jules et Jim" e o filme de François Truffaut.

Claudius/Cartum



LENEIDE DUARTE-PLON

"NOVENTA E TRÊS anos. É a derradeira etapa. O fim não está longe." A despeito do que pode sugerir a abertura de "Indignez-vous" ("Indignai-vos", Indigène Éditions), de Stéphane Hessel, a nova coqueluche da esquerda francesa não é a constatação nostálgica de uma vida que chega ao final, mas um convite à indignação. Segundo sua editora, Sylvie Crossman, "ele convida à não cooperação com a financeirização do mundo, prega a desobediência civil a leis e reformas injustas, como a recente das aposentadorias".
Com o panfleto de 32 páginas que lançou em outubro, ao módico preço de 3 euros (menos de R$ 8), o nonagenário embaixador se transformou numa zebra da lista de mais vendidos francesa: já vendeu 1,3 milhão de exemplares, deixando para trás o prêmio Goncourt 2010, "La Carte et le Territoire" (O Mapa e o Território), romance de Michel Houellebecq.
O que poderia ser um fenômeno tipicamente francês -uma diatribe indignada contra a reforma do Estado e o capitalismo financeiro- começa a transbordar pelas fronteiras da Europa.
Há edições previstas em Portugal, na Espanha (em espanhol, basco, catalão e galego), em países do Leste europeu, na Turquia, na Escandinávia, na Coréia do Sul. No Brasil, deverá sair pela editora Leya, ainda sem previsão de data. Em 23 de fevereiro, a revista semanal americana "The Nation" deverá publicar o texto na íntegra (depois será lançado em livro).

FENÔMENO UNIVERSAL "Ele vai se tornar um fenômeno universal porque a mensagem de Hessel é universal", diz Sylvie Crossman. Para ela, o autor é comparável ao líder indiano Mahatma Gandhi. "O embaixador Hessel é um homem livre, um partidário da não violência."
O engajamento do embaixador na causa palestina foi motivo de uma recente polêmica, quando uma conferência sua na École Normale Supérieure, um dos templos da intelectualidade francesa, foi cancelada. Num manifesto publicado no jornal "Libération" em janeiro, o filósofo Alain Badiou apontou como origem do cancelamento pressões do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França e de intelectuais como os filósofos Bernard-Henri Lévy e Alain Finkielkraut, de perfil direitista.
Em seu livro, Hessel defende as conquistas sociais trazidas pela Resistência logo depois da Segunda Guerra, como a previdência social, com um argumento simples: "Como pode haver falta de dinheiro hoje para manter e prolongar essas conquistas já que a produção de riquezas aumentou consideravelmente desde o fim da Guerra, quando a Europa estava arruinada". A política francesa de imigração, com "expulsões e suspeitas contra os imigrantes", também está na sua mira.

REAÇÕES À direita, a reação ao panfleto de Hessel veio rápido -e de cima, o que prova que sua mensagem está longe de ser o benigno canto do cisne de um decano da esquerda gaulesa. Embora o governo não seja explicitamente citado, o primeiro-ministro François Fillon, alinhado com o presidente Nicolas Sarkozy, vestiu a carapuça e saiu de sua habitual reserva para criticar: "A indignação pela indignação não é um modo de pensamento", disse ele no começo do ano.
À esquerda, a auto intitulada "insurreição pacífica" de Hessel parece trazer esperança para vencer os impasses de socialistas e comunistas franceses. O embaixador está em todas as causas "subversivas" da França de hoje: a defesa dos sem-teto, dos imigrantes ilegais e da Palestina. Engajou-se também no front ambiental, apoiando a candidatura do ex-líder de Maio de 68 Daniel Cohn-Bendit e de José Bové, líder agricultor antiglobalização, para o Parlamento Europeu de 2009, numa chapa verde. Fez isso, segundo disse num comício, "para ver surgir uma esquerda impertinente que tenha peso na realidade política".
Num ponto, entretanto, Hessel concorda com Nicolas Sarkozy: "O ideal seria que o ex-presidente Lula se tornasse secretário-geral da ONU", disse ele à Folha, ecoando as palavras do mandatário francês durante uma reunião do G-20 em Pittsburgh, nos EUA. "Esse cargo é perfeito para ele", disse Hessel. Dilma Rousseff também o empolga: "Quem sabe ela não possa aprofundar as reformas sociais de Lula?". Hessel vibrou quando a diplomacia brasileira reconheceu o Estado Palestino, gesto logo imitado por outros países sul-americanos.

AÇÃO "Ele é de um otimismo e de um entusiasmo incríveis, sem ser ingênuo, nem utópico. Seu otimismo o leva à ação", garante a franco-suíça Christiane Hessel, 83, sua segunda mulher e companheira "full time". Durante o encontro com a Folha, o telefone não parou de tocar com pedidos de entrevistas.
O "Monsieur Droits de l'Homme" (Sr. Direitos Humanos), como o apelidou a imprensa, teve uma vida movimentada, conforme narrou o jornalista Jean-Michel Helvig no livro "Citoyen Sans Frontières" (Cidadão Sem Fronteiras, Fayard) e no documentário alemão "Der Diplomat" (1994), de Antje Starost.
Membro da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso e torturado pela Gestapo, tendo sido enviado para os campos de concentração de Buchenwald e de Dora-Mittelbau.
Com o fim da guerra, participou da equipe de redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), ao lado do brasileiro Oswaldo Aranha, do qual não tem lembranças específicas, embora ressalte sua importância.
Nascido em Berlim, em 1917, naturalizado francês vinte anos depois, Hessel é filho do romancista alemão Franz Hessel, de origem judaica, e de Helen Grund, de família protestante. Em 1924, Helen deixou a Alemanha com o filho para viver na França com o escritor Henri-Pierre Roché. Franz e Henri-Pierre amavam a mesma mulher e com ela formaram um triângulo amoroso, eternizado no romance autobiográfico "Jules et Jim" e sobretudo na adaptação cinematográfica de mesmo nome, dirigida por François Truffaut (1962). No filme, o filho de Helen (Jeanne Moreau) é uma menina, o que Christiane Hessel considera "bizarro".
Em quase um século de vida, o diplomata se casou duas vezes: com a primeira mulher, teve dois filhos, Antoine e Michel, e uma filha, Anne, todos os três médicos em Paris.

INTOCÁVEL Hessel não é um embaixador francês comum, observa o secretário dos Direitos Humanos do governo FHC, Paulo Sérgio Pinheiro, "mas tem esse título, essa honraria que poucos têm, isso lhe dá um ar de 'intocável'".
Tão intocável que, durante uma viagem a Gaza e à Cisjordânia em 2002, a convite de pacifistas israelenses, logo depois da segunda intifada (levante palestino), cada vez que o ônibus era parado num "check point" na estrada para Ramallah, Hessel se levantava e declamava versos de seus poetas românticos preferidos, em alemão, em francês e em inglês.
Quem lembra é Martin Hirsch, político francês de origem judaica que estava no grupo de 11 intelectuais franceses.
Desde aquela viagem, Hessel tornou-se um ardoroso defensor do Tribunal Russell para a Palestina (russelltribunalonpalestine.com), iniciativa da Fundação Bertrand Russell para a Paz, que procura defender as resoluções da ONU e promover a paz e a justiça no Oriente Médio. O embaixador vai doar 100 mil euros dos direitos autorais do livro para o pagamento de juristas que trabalham no tribunal.

SEGREDO Qual é o segredo de um livro de 30 e poucas páginas vender 1,3 milhão de exemplares em poucas semanas? Para Paulo Sérgio Pinheiro, o êxito de Hessel foi "retomar o programa e os valores da Resistência da França depois da derrota do regime fascista de Vichy, momento de reconstrução da democracia francesa, agora no século 21, numa conjuntura política em que o governo Sarkozy revigora o racismo, escorraça os imigrantes, persegue os ciganos, encarcera crianças em centros de detenção".
Pinheiro conheceu o embaixador em Bujumbura, capital do Burundi, em 1998, ambos em missão diplomática. A TV franco-alemã filmava um documentário sobre os 50 anos da Declaração Universal. Num clima tenso, a comitiva e a equipe de filmagem jantavam ao ar livre, com o hotel sob ameaça de invasão pelos rebeldes.
"Na sobremessa", lembra Pinheiro, "Hessel pediu licença para recitar 'Les Chimères', de Gérard de Nerval... e depois uns sonetos de Shakespeare. Todos nós ficamos maravilhados".

O embaixador está em todas as causas "subversivas" da França de hoje: a defesa dos sem-teto, dos imigrantes ilegais e da Palestina

"Como pode haver falta de dinheiro hoje para manter e prolongar essas conquistas já que a produção de riquezas aumentou?"

Hessel participou da equipe de redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), ao lado de Oswaldo Aranha

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il1302201104.htm 13/02/2011.

É um erro falar que existe nova classe média no Brasil

Uma entrevista interessante sobre aquilo que se chama de classe média no Brasil:


São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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ENTREVISTA JESSÉ SOUZA

É um erro falar que existe nova classe média no Brasil

PARA SOCIÓLOGO, OS 30 MILHÕES QUE ASCENDERAM NA ERA LULA FORMAM UM GRUPO SOCIAL DIFERENTE, DE "BATALHADORES'

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

Autor do livro "Os Batalhadores Brasileiros", o sociólogo Jessé Souza afirma que a ascensão social de 30 milhões de pessoas no governo Lula não produziu uma "nova classe média", mas uma classe social diferente, que ele chama provocativamente de "batalhadores". Assim como fizera em seu livro anterior, Souza procura determinar as características dessa classe por um recorte diferente do que ele chama de economicista e quantitativo, fugindo tanto de análises pelo consumo e renda quanto de abordagens marxistas "unidimensionais". Abaixo, trechos da entrevista sobre a classe que, para ele, "parece se constituir, com o resgate social da ralé, na questão social, econômica e política mais importante do Brasil contemporâneo".



Folha - Em seu livro "Os Batalhadores Brasileiros", o senhor questiona a afirmação de que o governo Lula alçou 30 milhões de pessoas à classe média e diz até que se trata de uma mentira. Por quê?
Jessé Souza - Não nego que tenha havido a ascensão social de 30 milhões de brasileiros nem que esse fato seja extremamente importante e digno de alegria. O que questiono é a leitura dessa classe como uma classe média. A classe média é uma das classes dominantes em sociedades como a brasileira porque é constituída pelo acesso privilegiado a um recurso escasso de extrema importância: o capital cultural. Seja sob forma de capital cultural técnico, como na "tropa de choque" do capital (advogados, engenheiros, administradores, economistas etc.), seja pelo capital cultural literário de professores, jornalistas, publicitários etc., esse tipo de conhecimento é fundamental. Tanto a remuneração quanto o prestígio social atrelados a esse tipo de trabalho são consideráveis.

E os batalhadores?
A vida deles é outra. É marcada pela ausência dos privilégios de nascimento que caracterizam as classes médias e altas. Não falo só do dinheiro transmitido por herança. Os privilégios envolvem também o recurso mais valioso das classes médias: o tempo.
Os batalhadores, em sua esmagadora maioria, precisam começar a trabalhar cedo e estudam em escolas públicas de baixa qualidade. Eles compensam a falta do capital cultural e econômico com esforço pessoal, dupla jornada e aceitação de todo tipo de superexploração da mão de obra.
Essa é uma condução de vida típica das classes trabalhadoras, daí nossa hipótese de trabalho desenvolvida no livro que nega e critica o conceito de "nova classe média".

Como surgiu o nome dessa nova classe?
Nesse estudo, o que impressionou foi o esforço de superação de condições adversas. O título foi uma homenagem à luta cotidiana e silenciosa desses brasileiros. O termo "batalhadores" sinaliza o fato de que o que perfaz o cotidiano dessas pessoas é a necessidade de "matar um leão por dia" como forma de vida de toda uma classe social que tem que lutar diariamente contra o peso da própria origem.

Quais são os valores dessa classe batalhadora?
A principal diferença em relação aos excluídos e abandonados sociais é a constituição de uma ética articulada do trabalho duro.
Os batalhadores são quase sempre vindos de famílias pobres, mas bem estruturadas, com os papéis de pais e filhos reciprocamente compreendidos, exemplos de perseverança na família e estímulo consequente para o estudo e para o trabalho.
Temos nas famílias dessa classe a incorporação da tríade disciplina, autocontrole e pensamento prospectivo que sempre está pressuposta em qualquer processo de aprendizado na escola e em qualquer trabalho produtivo. Sem disciplina e autocontrole é impossível, por exemplo, concentrar-se na escola -daí que os membros da ralé diziam repetidamente que "fitavam" o quadro negro por horas sem aprender.
Assim, ainda que falte a essa classe o acesso às formas mais valorizadas de capital cultural -monopólio das "verdadeiras" classes médias-, não lhes falta força de vontade, perseverança e confiança no futuro, apesar de todas as dificuldades.

Uma das características dos batalhadores parece ser a precariedade da situação econômica e social. O que o governo pode fazer?
Eu acho fundamental o aprofundamento mais consequente tanto da política social quanto de políticas de crédito e estímulo.

A religião é mais importante para os batalhadores que para a classe média tradicional?
O tema da religião é tão importante para essa classe que dedicamos toda uma parte do livro a essa temática. Mas é preciso cuidado, pois esse tema pode servir para que se construa uma nuvem de preconceitos contra essa classe. É, sem dúvida, correto que as religiões evangélicas -como, aliás, todas as religiões em alguma medida- exigem o sacrifício do intelecto, o que, efetivamente, não ajuda no exercício da tolerância nem no desenvolvimento das capacidades reflexivas dos seres humanos.
Em troca, no entanto, essas religiões oferecem o que a sociedade como um todo, o Estado ou mesmo algumas das famílias menos estruturadas dessa classe jamais deram a eles: confiança em si mesmos, autoestima, esperança e força de vontade para vencer as enormes adversidades da vida sem privilégios de nascimento.
Nesse sentido, tudo leva a crer que a religião seja mais importante para esses setores do que para as classes médias estabelecidas, ainda que nunca tenhamos feito nenhum estudo sistemático.
E não apenas as religiões evangélicas, que são importantes especialmente nos núcleos urbanos. Também a católica, no interior do Nordeste, ainda forte, cumpre uma função fundamental de baluarte da solidariedade familiar e como fundamento de uma ética do trabalho em muitos aspectos semelhantes à do protestantismo.

A nova classe batalhadora faz surgir um novo tipo de preconceito no Brasil?
Sim, basta olhar as revistas que analisam o padrão de consumo dessa classe sob a égide da visão de mundo da classe média estabelecida. Ela aparece sempre como um tanto vulgar e sem o "bom gosto" que caracterizaria os estratos superiores.


Fonte; http://www1.folha.uol.com.br/poder/874777-e-um-erro-falar-que-existe-nova-classe-media-diz-sociologo.shtml 13/02/2011

"Os locais mais sombrios"

Uma bela frase para os nossos tempos:

“Os locais mais sombrios do inferno estão reservados para aqueles que mantêm a neutralidade em tempos de crise” (Dante Alighieri, 1265-1321).

Fonte http://dererummundi.blogspot.com/ 13/02/2011.

Friday, February 11, 2011

Egito um exemplo para o Ocidente: a população pode e deve se reunir para buscar novos modos de vida para o seu povo

Egito um exemplo para o Ocidente: a população pode e deve se reunir para buscar novos modos de vida para o seu povo
O povo quando age de modo espontâneo consegue coisas que muitas não imaginamos - como é o caso do atual Egito. A população pode se reunir e buscar novos modos de vida. A população só precisa se organizar e dizer um basta aos mecanismos de ditadura que assombra as nossas sociedades. Vamos lá Brasil, vamos nos organizar e dizer um basta para os corruptos de ditam as regras no nosso país, como os políticos que estão no poder, e que legislam, governam e se articulam em causa própria e que não visam o bem comum da nossa república. Como é o caso do presidente do senado José Sarney que representa a oligarquia dos picaretas que sugam o nosso Estado brasileiro em causa própria. Chega de picaretagem, vamos mudar a situação do nosso país. Espero que o Egito se liberte dos seus ditadores que “babam” pelo poder e encontre homens e mulheres que visem o bem da sua população.

Viva o Egito! O faraó morreu, abaixo a ditadura.

Viva o Egito! O faraó morreu, abaixo a ditadura.

Uma multidão comemora a renúncia de Hosni Mubarak nas ruas do Cairo. O anúncio foi feito pelo vice-presidente, Omar Suleiman, em um curto pronunciamento na TV estatal. Segundo fontes do governo, o presidente teria deixado o Cairo com a família e está em uma cidade litorânea.

Fonte: http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1647234-17665,00-HOSNI+MUBARAK+RENUNCIA+A+PRESIDENCIA+DO+EGITO.html acesso em 11/02/2011.

Wednesday, February 02, 2011

Deus, uma hipótese desnecessária

Outra entrevista interessante sobre o problema do Niilismo nos nossos tempos, podemos conferir abaixo:


Deus, uma hipótese desnecessária
Embasado na Navalha de Ockham, Paolo Flores D’Arcais pontua que não é preciso apelar para Deus a fim de se explicar o surgimento da vida e do Universo. O relativismo de valores é, portanto, consequência do ateísmo, e o solo comum entre cristãos e ateus deve ser suas escolhas ético-políticas
Por: Por Márcia Junges | Tradução: Benno Dischinger

Deus é uma hipótese desnecessária, pois o surgimento do cosmos e da vida são demonstráveis através de proposições explicadas pela ciência, garante o filósofo italiano Paolo Flores D’Arcais, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Para dar sustentação ao seu argumento, vale-se da “Navalha de Ockham”, conceito criado pelo filósofo medieval cristão, o inglês Guilherme de Ockham, para assinalar que pluralidades não devem ser postas sem necessidade. “O relativismo dos valores é uma consequência lógica do ateísmo”, completa. Em seu ponto de vista, “a inteira história humana é, de fato, diacrônica e sincronicamente um gigantesco afresco de valores relativos, incompatíveis uns com os outros”. Dessa forma, o relativismo de valores é um fato, o que não implica, necessariamente, o niilismo, “que consiste em considerar todos os valores como equivalentes”. Para D’Arcais, não há sentido na pergunta “no cenário ocidental de relativismo dos valores, qual é o espaço para a solidariedade e a tolerância?”. Outro tema debatido pelo italiano é a “revanche Deus”: “Quando diminui a esperança terrena na luta política e social, é natural que retorne o seu sub-rogado celeste. O fenômeno da ‘revanche de Deus’ diminuirá tão logo tornem maciças as lutas pela democracia radical, com perspectivas críveis de sucesso ao menos parcial”. O terreno comum entre cristãos e ateus “não depende da fé, mas das escolhas ético-políticas de cada um, seja ele ateu ou crente”, define.

D’Arcais é diretor da revista MicroMega, colaborador dos jornais El País, Frankfurter Allgemeine Zeitung e Gazeta Wyborcza. Professor e pesquisador na Faculdade de Filosofia La Sapienza, da Universidade de Roma, escreveu sua tese de doutorado sobre Adam Smith e Karl Marx. Considerado um dos mais importantes críticos de esquerda da Itália, escreveu inúmeros livros, dos quais destacamos: Esistenza e libertà: a partire da Hannah Arendt (Genova, Marietti, 1990); Etica senza fede (Torino, Einaudi, 1992); L' individuo libertario: percorsi di filosofia morale e politica nell'orizzonte del finito (Torino, Einaudi, 1999); e Il sovrano e il dissidente (Milano: Garzanti, 2004).

Confira a entrevista.


IHU On-Line - Há algum nexo causal entre ateísmo e relativismo de valores?

Paolo Flores D’Arcais - O ateísmo é a simples constatação que: 1) a história inteira do cosmos, do Big Bang até hoje, o nascimento da vida sobre o planeta Terra e a evolução da vida da lombriga até o homo sapiens, são perfeitamente explicados pela ciência, sem necessidade de recorrer à “hipótese Deus” (e segundo a “navalha de Ockham ”, é sempre filosoficamente inaceitável levantar a hipótese de uma causa oculta quando já temos explicações suficientes). E que: 2) o cérebro do homo sapiens é somente uma evolução e modificação do cérebro de um macaco, e todas as partes de um cérebro se desfazem com a decomposição que segue a morte, como também aqueles segmentos extraordinários do neocórtex do pós-símio sapiens que reassumimos sob o nome de “consciência”. Pelo que, após a morte, não pode existir nenhuma vida pessoal, não pode existir algum “do lado de lá”.

O relativismo dos valores é uma consequência lógica do ateísmo. Mas, continuaria inevitável também sem o ateísmo. A inteira história humana é, de fato, diacrônica e sincronicamente um gigantesco afresco de valores relativos, incompatíveis uns com os outros, visto que, como já recordava Pascal (de fato nada ateu e mesmo catolicíssimo), “... (lei) universal não existe nenhuma. O furto, o incesto, o assassinato dos filhos e dos pais, tudo encontrou seu próprio lugar entre as ações virtuosas”. O relativismo dos valores é um fato, inelutável. Há muitos ateus (ou agnósticos) que procuram remover este fato com inexauríveis e falimentares tentativas de redescobrir uma inencontrável “moral natural”. São as várias formas de “cognitivismo ético” que, no entanto, não resistem à reflexão crítica.


Regresso ao infinito

Ninguém ainda conseguiu, de fato, demonstrar (no mesmo sentido da geometria, ou pelo menos da física e da biologia) que uma asserção moral seja verdadeira recorrendo somente a dados empíricos acertados e à lógica. Para fundar uma asserção moral é, ao invés, sempre inevitável recorrer a uma asserção moral precedente, num regresso ao infinito. O valor primeiro (ou último) que funda toda a cadeia é, portanto, indemonstrável. Para alguém será a dignidade igual entre todos os seres humanos, para outro o direito do mais forte a tornar escravo o mais débil. Entre estas duas morais (e muitas outras possíveis) a questão não é de verdade e falsidade, mas de luta (frequentemente mortal).


IHU On-Line - No cenário ocidental de relativismo de valores, qual é o espaço para a solidariedade e a tolerância?

Paolo Flores D’Arcais - A partir do que expliquei acima, o relativismo dos valores é, portanto, um fato. Mas não implica realmente o niilismo que consiste em considerar todos os valores como equivalentes. Quando se reconhece – o que é inevitável na ótica de um pensamento crítico – que o “cognitivismo ético” e toda pretensão de “moral natural” são ilusões metafísicas, disso não segue, de fato, a equivalência dos valores, mas o dever de escolher explicitamente os próprios valores, na consciência que o valor primeiro (ou último) constitui precisamente uma escolha, uma decisão, que não é fundável no plano da verdade. A moral do nazista não é “falsa”, é abjeta porque eu escolhi como fundamento ético da minha existência a igual dignidade entre todos os homens. Mas, sem esta escolha não estou em condições nem de refutar a opção nazista do ponto de vista argumentativo, nem de combatê-la do ponto de vista prático.

Ora, o Ocidente moderno nasce, com o Iluminismo, precisamente a partir desta escolha. O valor de fundo que permite o produzir-se da modernidade ocidental é a autonomia do ser humano (a partir da sinergia historicamente imprevisível e de todo contingente de ciência + heresia). Autós-nomos, dar-se, de si mesmo, a própria lei. O que implica que tal autonomia considere todos e cada um, pois, caso contrário, seria uma nova forma de heteronomia, de submissão da maioria a alguns privilegiados autocratas. Por isso, não tem nenhum sentido perguntar-se: “no cenário ocidental de relativismo dos valores, qual é o espaço para a solidariedade e a tolerância?”, a partir do momento em que o “cenário ocidental” nasce precisamente escolhendo tolerância e solidariedade como inevitáveis articulações do princípio de autós-nomos. Inevitáveis ambas – a tolerância e a solidariedade – sob o perfil lógico, também se historicamente serão conquistadas através de um processo histórico feito de lutas e sofrimentos ao longo de um par de séculos, da revolução americana até o wellfare dos anos 1960; e o princípio de tolerância se tornará então, desde o início, um pôr em jogo da modernidade, sendo que a solidariedade deverá esperar a irrupção no palco do movimento operário.
Por essa razão, de vez em quando se reduz no Ocidente a solidariedade e a tolerância e são os próprios valores do Ocidente que acabam sendo traídos. Deste ponto de vista, podemos dizer que a história da modernidade é a história de um conflito de resultados alternativos entre os valores do autós-nomos (para todos e para cada um) e as resistências do privilégio e do obscurantismo, que aceitam a modernidade somente sob a vertente das vantagens tecnológicas garantidas pelo progresso científico. Mas, ao mesmo tempo, obstaculizam a modernidade e a combatem enquanto possibilidade de conduzir desencanto, laicismo e democracia às suas lógicas consequências libertário-igualitárias. Deste ponto de vista, a modernidade é também a história da luta entre a democracia levada a sério e o establishment que a quer redimensionar como instrumento de conservação. Mas, neste conflito, que em anos mais recentes está assinalando preocupantes vitórias para os impulsos mais reacionários, a Igreja Católica hierárquica tem andado com as oligarquias e contra a “tolerância e solidariedade” (e também é impróprio continuar repetindo que, do ponto de vista histórico e ideológico, o conceito de autonomia é “tributário” à igualdade cristã, pois são duas coisas muitíssimo diversas).


IHU On-Line - A partir do diagnóstico nietzschiano do niilismo e da morte de Deus, abriu-se espaço para uma compreensão do homem que descambou em relativismo de valores. Por outro lado, há um retorno a Deus como salvação para os totalitarismos e a nadificação ou nulificação dos sujeitos. Que impasses e avanços surgem desse panorama do ponto de vista existencial e de autonomia do ser humano?

Paolo Flores D’Arcais - A “revanche de Deus” não nasce como tentativa de salvação contra os totalitarismos e a aniquilação dos sujeitos. Esta é a tese de Wojtyla e Ratzinger, falsa no plano histórico e insustentável nos planos lógico e filosófico (Wojtyla e Ratzinger fazem remontar os totalitarismos ao iluminismo e à pretensão do autós-nomos!). O Deus da Igreja Católica até encontrou, com os totalitarismos fascistas, formas mais que confortáveis de convivência e Mussolini foi até mesmo gratificado por Achille Ratti, mais conhecido como Papa Pio XI , com o título de “homem da Providência”. A onda atual de “revanche de Deus” (etiqueta que cobre fenômenos entre si muito diversos e não assimiláveis, desde os fundamentalismos – seja o islâmico ou o dos telepregadores protestantes, ou ainda o das católicas “Comunhão e libertação ” ou dos “Legionários de Cristo ” – aos sincretismos de religiosidade “new age” ou às seitas que na China renovam as religiões tradicionais) nasce, ao invés, como sub-rogação das esperanças de realização radical da democracia que caracteriza os dias da vitória contra o nazifascismo e, sucessivamente, os movimentos de luta anticolonialista no terceiro mundo, esperança que dos anos 1970 em diante se reduziu progressivamente.
Estas esperanças, que encontram uma última labareda em 1968, vêm sendo frustradas pelo triunfo do liberalismo selvagem de Reagan e Tatcher , pelo progressivo empobrecer-se das democracias ocidentais em “partido-cracias”, e pela metamorfose dos vitoriosos movimentos terceiro-mundistas em oligarquias de governo sempre mais corrompidas e sanguinárias. E a derrota do totalitarismo soviético em 1989 confirma este clima de esperanças frustradas: somente alguns países do Leste conseguem – fatigosamente, contraditoriamente, parcialmente – homologar-se às democracias ocidentais (já em crise com respeito aos valores fundantes de “tolerância e solidariedade”, como temos visto), enquanto a Rússia de Putin se torna modelo de “democracia negada” e a China consegue juntar totalitarismo político e desfrute econômico selvagem.


IHU On-Line - A democracia ocidental se baseia no conceito de autonomia e também é tributária ao cristianismo em função da premissa de igualdade. Como analisa o projeto político da modernidade? Ele está esgotado? Por quê?

Paolo Flores D’Arcais - Quando diminui a esperança terrena na luta política e social, é natural que retorne o seu sub-rogado celeste. O fenômeno da “revanche de Deus” diminuirá tão logo tornem maciças as lutas pela democracia radical, com perspectivas críveis de sucesso ao menos parcial. O projeto político da modernidade não se exauriu por isso, mas é mais que incompleto e, portanto, a ser retomado, porque a realização de “tolerância e solidariedade” se chama precisamente democracia radical.


IHU On-Line - Como podemos falar em moralidade, direitos humanos e verdade numa época tão relativista como a nossa?

Paolo Flores D’Arcais - Os direitos humanos são parte integrante desta luta que deve retornar. Mas para ser “humanos”, devem valer realmente para todos. A declaração de Independência americana, escrita por Thomas Jefferson , fala justamente de “direito à obtenção da felicidade”. Uma felicidade tornada impossível tanto pela falta de liberdade quanto pela desmedida das desigualdades econômicas e sociais. Em 1968 os estudantes de Varsóvia se rebelaram justamente contra o regime comunista, gritando “não há pão sem liberdade”, mas vale obviamente também o recíproco: “não há liberdade sem pão”. É necessário, no entanto, ter claro que os direitos humanos, que devem ser de “pão e liberdade” para todos e para cada um, não são de fato humanos no sentido de serem inscritos espontaneamente no coração do homo sapiens. A prevaricação, a prepotência, a violência, a “lei” do mais forte parecem mesmo ser com frequência a tendência mais natural. Os direitos humanos são, na realidade, direitos civis, escolhidos contra naturam através de lutas democráticas dos séculos mais recentes. Estes direitos civis são filhos do relativismo, porque jamais teriam podido nascer sem o princípio do autós-nomos, incompatível, como é óbvio, com qualquer “soberania de Deus”.


IHU On-Line - Que valores são comuns entre cristãos e ateus?

Paolo Flores D’Arcais - Dadas estas premissas que acabo de expor, existe um terreno comum de ação ente ateus e crentes? Certamente, depende do tipo de ateus e do tipo de crentes. Não existe, de fato, uma moral ateia. Existem tantas e um ateu pode ser uma flor de reacionário. E também não existe uma moral dos crentes, mas tantas quantas as interpretações das religiões. Consequentemente, o terreno comum não depende da fé, mas das escolhas ético-políticas de cada um, seja ele ateu ou crente. Por exemplo, entre ateus democráticos que combatem por “justiça e liberdade” e crentes que levem a sério o Evangelho quando se lança contra os ricos (praticamente em cada página) e quando solicita que “teu dizer sim seja sim e teu dizer não seja não, porque o restante vem do demônio”, há plena consonância.

Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3705&secao=354 02/02/2011.

Niilismo e mercadejo ético brasileiro

Uma entrevista interessante sobre o problema do niilismo - podemos conferir abaixo:



Niilismo e mercadejo ético brasileiro
Corrosão “de alto a baixo” no caráter de indivíduos e grupos e supervalorização do mercado são traços peculiares do niilismo em terras brasileiras, acentua o filósofo Roberto Romano. A ocidentalização do mundo pulverizou o etnocentrismo dissolvente dos paradigmas milenares
Por: Márcia Junges

“O século XX consagra o padrão ocidental de vida, de valores, de técnicas e ciências”, não sem receber reações contra essa “pulverização axiológica do Ocidente”, pondera o filósofo Roberto Romano em entrevista por e-mail à IHU On-Line. Refletindo sobre o nexo que une niilismo ético e relativismo de valores no século XXI, afirma que “vivemos sob o signo das Luzes europeias e do etnocentrismo que ajudou a corroer paradigmas éticos milenares, no Ocidente e no Oriente”. Romano assinala haver no Brasil “uma peculiar corrosão ética não alheia ao capitalismo, como nas práticas do favor que atravessam todas as relações sociais e políticas”. Em sua opinião, vivemos num “mercadejo ético”, no qual “o caráter dos indivíduos e grupos é corroído de alto a baixo”. E continua: “Nosso Estado preza mais o mercado (inclusive eleitoral) do que as pessoas. Aqui, todos são meios e raros conseguem, pagando preço altíssimo, viver consigo mesmos o segredo da consciência moral. O mercado exerce uma corrosão previsível e impiedosa em todos os setores da vida, incluindo a universidade”. Questionado se o projeto político moderno está arruinado, disse que é arriscado dar um veredito. “Se irá prosperar em detrimento das grandes matrizes éticas e religiosas, não sabemos”.

Roberto Romano cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS, na França, e é professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Escreveu, entre outros, os livros Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979), Conservadorismo romântico (2ª ed. São Paulo: Ed. UNESP, 1997) e Moral e Ciência. A monstruosidade no século XVIII (São Paulo: Senac Ed., 2002). Atualmente, leciona na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Confira a entrevista.


IHU On-Line - O que explica o niilismo ético e o relativismo de valores que presenciamos no século XXI?

Roberto Romano - Seria tarefa própria a quem se caracteriza pela hybris discorrer sobre todos os prismas da pergunta. Ela é importante, diria mesmo que vital, mas numa entrevista as respostas tombariam no dogmatismo ou na superficialidade. Posso evocar a fábula que narra como produzimos a forma que reconhecemos hoje em nós e nos nossos iguais. Para a fábula, uso noções trazidas pelo saudoso André Leroi-Gourhan . Os homens construíram seu corpo e mente em milênios de tecnologia. Eles verticalizaram a espinha, diminuíram o queixo, aumentaram a caixa craniana e alargaram o campo de visão, o que tornou possível perceber as gradações de espaço e tempo. “Somos inteligentes, porque ficamos de pé”, diz o etnólogo. Eles diminuíram os braços e os tornaram capazes de operar com as mãos e a boca, inventaram a linguagem. Fabricaram instrumentos que permitem agarrar entes naturais dando-lhes sentido útil. O sistema inteiro ainda hoje está em progresso, sobretudo no lado tecnológico. Na faina incessante, idealizaram paradigmas a serem obedecidos nos macroeventos e microeventos da vida coletiva e individual (o indivíduo foi invenção técnica). Na história de todo o nosso parto, diz Gourhan, usamos capacidades contraditórias, o empréstimo e a invenção. Nenhum coletivo humano vive sem emprestar técnicas, cultura e valores de outros. E nenhum deles se desenvolve sem possuir força inventiva própria. Só pode emprestar com eficácia quem for capaz de inventar, e vice-versa.

Em momentos anteriores de nossa apropriação de corpo e mente, valores serviram como paradigmas de ação para os mais diversos grupos. Mas desde longa data os entes humanos entraram em circuitos amplos e diversificados de trato, uns com os outros. Se prestarmos atenção nos complexos civilizatórios, da China ao Egito antigo, da Grécia a Roma, do Renascimento aos nossos dias, nenhum deles é imune à dialética da invenção e do empréstimo. Isso, sem falar na pilhagem de saberes e técnicas, como no caso do Ocidente que assaltou os conhecimentos chineses e orientais durante as chamadas “Grandes Descobertas”. E também o que se passa no trato industrial, quando roubos de tecnologia são costumeiros de país a país. Quanto mais amplo e eficaz, para seus habitantes, o amálgama de valores e técnicas, maior poder possui um coletivo, inclusive porque os empréstimos e invenções são dirigidos, quase imediatamente, para a guerra.


Abismo de ideias

Até o século XIX, no entanto, os conglomerados culturais, étnicos e políticos eram orientados por modelos que eles encontraram e que definiam seus traços principais. Com o imperialismo colonial do Ocidente aumenta a rapidez no trânsito dos empréstimos e das invenções. Diferenças culturais se atenuam em proveito dos ocidentais. Não faltou no Ocidente quem tenha defendido outro modelo que não o definido na Europa, para o trato com a Ásia e a África. Leibniz pensou o ecumenismo não apenas entre europeus, mas entre todos os povos. No caso do catolicismo, o fracasso foi evidente. Os jesuítas (apoiados por Leibniz) queriam preservar na China o culto aos ancestrais, vestes chinesas e filosofia confuciana nos ritos cristãos . Os dominicanos exigiam abolir o culto aos antepassados, vestes romanas, proibição das doutrinas de Confúcio. Venceram os dominicanos e, com eles, o diálogo entre Europa e China foi obstruído até hoje. Apesar de toda a sua boa vontade, os missionários católicos e protestantes na China, no Oriente e na África, não se desvincularam dos poderes coloniais europeus. Se lembrarmos que na China os ingleses colocavam na porta de seus clubes um aviso que proibia a entrada de cães e de chineses, percebemos o abismo entre as ideias ecumênicas de Leibniz e jesuítas e a efetividade histórica.

O século XX consagra o padrão ocidental de vida, de valores, de técnicas e ciências. Leroi-Gourhan, nos seus últimos dias, se preocupava com a inusitada atenuação das diferenças culturais, em proveito dos parâmetros ocidentais. Hollywood era vista por ele como a indústria que, por meio do star system, impunha padrões aos demais continentes, corroendo os valores e as forças inventivas das suas culturas, obrigadas ao empréstimo pela propaganda maciça e pelas armas.


Ocidentalização

Deixemos a fábula e sigamos o adensamento populacional. As cidades, das pequenas às metrópoles, são inventos técnicos. Quanto menor um coletivo, menor número de instrumentos de comunicação, governo, cultura ele movimenta. E mais sólidos se mostram aqueles valores na mente coletiva. O campo ético, ali, é mais denso e compacto, não permite desvios substanciais. Quanto maior o coletivo, mais os valores recebem matizes complexos. Chegamos ao que diz Weber sobre o politeísmo dos valores. O passo não se dá sem quebras internas nos vários sistemas culturais. O imperialismo colonial efetivou tal tarefa em séculos de imposição pelas armas, astúcias diplomáticas, controle das comunicações. Com a última revolução técnica de alcance mundial, nas trocas entre culturas, a da informática (com a internet, a TV a cabo, etc.) os padrões ocidentais, inclusive o nivelamento por baixo dos valores, anunciavam uma vitória definitiva.

Para surpresa de teóricos e políticos, coletivos não ocidentais se mostram capazes de emprestar elementos da “nossa” cultura e também de inventar ou reinventar novas formas. E mais, dentro da própria cultura ocidental se cristalizam movimentos contrários ao politeísmo dos valores. Trata-se, entre outros, do fenômeno ainda não estudado em profundidade merecida, que se afirma sob o título de fundamentalismo. Católicos, protestantes, islamitas condensam seus laços com o passado e reagem contra a pulverização axiológica do Ocidente. As grandes matrizes éticas, com uso da tecnologia mais avançada, entram em campanha contra parte do Ocidente que se expandiu desde o século XV.

Aquelas matrizes (confucionismo e budismo na China, Índia e outros; o judaísmo e o cristianismo na Europa e nas colônias europeias, além dos países eslavos; o islamismo na Índia, no Paquistão, no Oriente Médio) definem até hoje um sistema interno de valores e atos. Mas na Europa e setores norte e sul-americanos, se firmou uma tênue camada social definida pelo que se convencionou chamar de “mundo secularizado”. Com a Renascença, as Luzes, os Estados independentes das igrejas, os valores mantidos pelas matrizes éticas mencionadas recebem corrosão virulenta. A parceria entre burgueses e líderes colonialistas, potenciada por intelectuais livres das amarras religiosas, gradativamente e com maior rapidez passou a corroer certezas coletivas que se ancoravam no Eterno ou na ordem natural.


Dissolução e estraçalhamento do indivíduo

A tarefa corrosiva conduzida pela burguesia e seus intelectuais foi descrita por Hegel e Marx . Para mencionar o mundo ético, Hegel usa com frequência inquietante o termo “dissolução” (Auflösung). Na “Filosofia Real” ele define o elemento químico quando unido ao calor: “a matéria calórica é existência, possibilidade de difundir-se perfeitamente; os elementos já estão perfeitamente dissolvidos, carecem entre si de massa, de existência (...). Trata-se da matéria, dissolvida por si mesma (...) que existe enquanto dissolução”. Da química, Hegel vai ao orgânico e guarda o termo “dissolução”. O sangue, no animal, “é a simples dissolução que não apenas contém tudo, mas que é calor, unidade de si e da figura, o devorar-se a si mesmo. Desse modo, o organismo está tenso como indivíduo inteiro perante o exterior, tem fome e sede. É um todo que devora a si mesmo”. No mundo espiritual, humano, a concepção hegeliana do elo entre indivíduos e todo social é de unidade e compenetração. O todo só é através do singular. E o singular só no universal encontra a base de sua existência. Caso o indivíduo se apoie apenas em si mesmo, negando o universal, faz surgir o ideal. Este, por sua vez, começa a dissolver o Todo existente. O mundo ético já se encontra elaborado para o indivíduo na aparência de necessidade externa. Mas a adesão à racionalidade objetiva do Estado pode ser uma submissão simples, ou nascer de um recolhimento livre e meditado.
Ao discutir O sobrinho de Rameau , Hegel descreve o indivíduo e seu estraçalhamento. Ali, os elementos sólidos se dissolvem numa perversão generalizada. Na vida contemporânea, diz o filósofo, “o Bem e o Mal, ou a consciência do bem e do mal, nobre e vil, são desprovidos de verdade; todos esses momentos se pervertem uns nos outros e cada um deles é o oposto de si mesmo”. No reino do “puro cultivo” o espelhamento rege indivíduos e grupos. Todos os partícipes da experiência social nela se integram de modo pervertido: “exercem um para o outro uma justiça universal; cada um tornou-se estranho a si mesmo, em si mesmo, enquanto se insinua em seu oposto, e o perverte do mesmo jeito”.

A “boa consciência” quer “moralizar” o mundo. Mas, se “lamenta a dissolução (Auflösung) de todo esse mundo perverso, ela não pode pedir ao indivíduo que o abandone, pois o próprio Diógenes em seu tonel é por ele condicionado...”. Quem possui consciência ética do mundo sofre. E faz sofrer. É como um turbilhão dissolvente. O mundo, na sua consciência, “tem, sobre si mesmo, o sentimento mais doloroso e o olhar mais verdadeiro - o sentimento de ser a dissolução (Auflösung) de tudo o que se consolida, de ser dilacerado através de todos os momentos de sua existência, fragmentado em todos os seus ossos. Ele é, também, a linguagem desse sentimento e do discurso espirituoso que julga todos os lados de sua condição...”.


Paradigmas corroídos

Vejamos, em diapasão similar, o Manifesto Comunista . Com a burguesia, “todas as relações sociais sólidas tornaram-se enferrujadas; com seu cortejo de concepções e intuições se dissolvem; as que subsistem envelhecem antes de esclerosar. Tudo o que era estabelecido e estável evapora; tudo o que era sagrado se profana. Os homens são, finalmente, constrangidos a considerar com um olho desiludido o lugar que ocupam na vida e nas suas mútuas relações”.

Espero ter sugerido uma via para pensar a questão posta. Não imagino que ela explique o abismo em que nos encontramos. Mas a partir daquele ângulo é possível seguir outros, tão ou mais relevantes para se entender a pergunta. Eu mesmo desenvolvi o problema em escritos, como, por exemplo, o artigo O sublime e o prosaico: Revolução contra reforma , ou também A crise dos paradigmas e a emergência da reflexão ética, hoje” .

Vivemos sob o signo das Luzes europeias e do etnocentrismo que ajudou a corroer paradigmas éticos milenares, no Ocidente e no Oriente. Tais paradigmas foram inventados ou emprestados. O niilismo reside sobremodo nas culturas secularizadas do Ocidente. Nas demais partes do mundo são mantidos os modelos axiológicos antigos, mesmo que revitalizados pelas técnicas e artes (pela internet e labor científico). Um país preso a matrizes rígidas, como o Irã, não por acaso tenta, de modo certo ou não, fabricar artefatos atômicos.


IHU On-Line - Há peculiaridades desse relativismo no caso da sociedade brasileira? Quais seriam elas?

Roberto Romano - No caso brasileiro, a franja da sociedade que se move pelos rescaldos das Luzes, da democracia liberal, do ceticismo enquanto via de pensamento, é ainda mais diminuta do que na Europa e nos EUA. Ocorre entre nós, na verdade, uma peculiar corrosão ética não alheia ao capitalismo, como nas práticas do favor que atravessam todas as relações sociais e políticas. Maria Sylvia Carvalho Franco , em Homens Livres na Ordem Escravocrata mostra que no Brasil as formas violentas e corrosivas do trato social têm origem capitalista e não em supostas heranças pré-capitalistas. No mercadejo ético em que nos inserimos, o caráter dos indivíduos e grupos é corroído de alto a baixo. Aliás, uma releitura urgente, para captar os nossos dilemas coletivos, é o livro atualíssimo de Emmanuel Mounier , O Tratado do Caráter, infelizmente até hoje não traduzido para o vernáculo.


IHU On-Line - Qual seria o solo comum para o entendimento dos seres humanos numa sociedade com essas características niilistas?

Roberto Romano - Eu diria, não em tom de blague, que a existência numa “sociedade” assim se resumiria no enunciado posto em peça teatral tremenda, Huis Clos : “Cada um de nós é o carrasco dos outros”. Donde... “l’enfer c’est les autres” (o inferno são os outros).


IHU On-Line - Que tipo de ética se faz necessária em nossos dias?

Roberto Romano - Claude Lefort , meu orientador de doutorado falecido recentemente, escreveu um belo texto intitulado A invenção democrática: os limites da dominação totalitária (São Paulo Brasiliense, 1983). Recordando o esquema acima, de Gourhan, penso que precisamos de imaginação e força intelectual suficientes para inventar novas sendas éticas, não deixando de emprestar formas e valores do nosso passado e do pretérito da humanidade. Para tal faina o primeiro passo, e não faço um paradoxo, é realizar uma “époche” do que vivemos no presente. O caminho da fenomenologia ainda é um instrumento seguro para sabermos o que fazemos e pensamos. A partir da base essencial que preside nossa consciência poderemos inventar elos novos entre indivíduos, grupos, povos.


IHU On-Line - Em outra entrevista à IHU On-Line, o senhor afirmou que o Brasil é um Estado “despótico e inimigo dos diretos humanos”. Como essa afirmação se relaciona com o niilismo ético e político que vivemos em nosso país?

Roberto Romano - Nosso Estado preza mais o mercado (inclusive eleitoral) do que as pessoas. Aqui, todos são meios e raros conseguem, pagando preço altíssimo, viver consigo mesmos o segredo da consciência moral. O mercado exerce uma corrosão previsível e impiedosa em todos os setores da vida, incluindo a universidade.


IHU On-Line - Em que medida o pós-humanismo é o passaporte que concretiza essa corrosão das instituições e dos valores, iniciada séculos atrás?

Roberto Romano - Eu diria que o próprio humanismo tem sua face desumana. Mesmo autores das Luzes como Montesquieu e Diderot , para não falar de Hume e de outros, mostram uma face etnocêntrica nada favorável aos direitos humanos. Um livro essencial para os nossos dias e reflexão, penso, é o de Laurent Estève (Montesquieu, Rousseau, Diderot: du genre humain ao bois d’Ébène, les silences du droit naturel. Editions Unesco, 2002). Ali, notamos o quanto alguns ícones das Luzes são bastante... tenebrosos. O que se chama de pós-humanismo, no meu entender, é o disfarce de um rosto enodoado de crimes, uma face de Dorian Gray .


IHU On-Line - Para Agamben , o campo de concentração é o paradigma político da modernidade. Como essa constatação nos ajuda a compreender a política praticada no Ocidente?

Roberto Romano - Eu relativizaria o enunciado. A prudência indica ser preciso buscar vários modelos para a intelecção da política ocidental.


IHU On-Line - Acredita que o projeto político da modernidade está esgotado? Por quê?

Roberto Romano - Não sabemos. E se arrisca muito quem disser algo em sentido positivo ou negativo. A “modernidade” está unida ao processo da cultura secularizada, como a indiquei acima. Trata-se de um complexo ideal e fenomênico recente na história humana. Se irá prosperar em detrimento das grandes matrizes éticas e religiosas, não sabemos.

Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3703&secao=354 02/02/2011.

Militares, ciências, Educação Popular.

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