Saturday, January 28, 2012

É triste constatar que o que ocorreu no Pinheirinho não foi um fato isolado. Trata-se de expressão de uma política, conduzida pela especulação imobiliária e seus amigos no Estado

Pinheirinho.
Quem ganhou com o massacre do Pinheirinho?

Por Guilherme Boulos e Valdir Martins (Marrom)*

Há poucos meses atrás, em setembro, as manchetes dos jornais de São José dos Campos estampavam a notícia de um acordo para regularizar o bairro do Pinheirinho. Após sete anos, as 1.600 famílias dessa comunidade teriam sua situação de moradia resolvida. O secretário estadual de habitação e representantes do Ministério das Cidades vistoriaram pessoalmente a área para fechar o acordo. Houve muita festa entre os moradores.

Quatro meses depois, em 22 de janeiro, a polícia militar de São Paulo – a mando do governador e legitimada pelo Tribunal de Justiça – inicia uma operação de guerra, que terminou com o despejo da comunidade, dezenas de presos e feridos e 7 desaparecidos. Um massacre do Estado contra trabalhadores que queriam apenas o elementar direito de permanecer em suas casas. Quanto à dimensão e covardia das agressões nem é preciso insistir, pois as imagens que circularam nos jornais e na internet falam por si. A questão é: como se deu esta reviravolta?

A movimentação que levou o Pinheirinho da regularização ao despejo teve três atores principais: o Judiciário paulista, a prefeitura do município e o Governador Geraldo Alckmin. A sintonia desta orquestra macabra varreu todas as tentativas de acordo e solução negociada ao problema dos moradores.

E contou ainda com a silenciosa e discreta omissão do Governo Federal. “Em nome do pacto federativo”... Que pacto? Aquele que os tucanos e o TJ rasgaram ao desconsiderar a corajosa decisão da Justiça Federal, que impedia a desocupação? Pois é, porque havia uma decisão judicial do TRF a favor dos moradores do Pinheirinho. De fato, percebemos nossa ingenuidade em acreditar que decisões judiciais sejam cumpridas, quando favorecem os mais pobres e prejudicam gente como Naji Nahas, dono-grileiro do terreno do Pinheirinho.

Mas o que unia aqueles que trabalharam em favor do despejo? A juíza de São José, Marcia Loureiro, foi uma combatente incansável: validou e revalidou liminares, recusou-se a receber autoridades e representantes dos moradores, dentre outras proezas. Se houvesse um “Prêmio Naji Nahas” certamente seria ela a ganhadora deste ano. Tem lá os seus interesses, que infelizmente não temos provas suficientes para expô-los. Acusar sem provas? Pois é, o judiciário brasileiro é aquele em relação ao qual Paulo Maluf costuma orgulhar-se de não ter qualquer condenação. Bom bandido é aquele que não deixa rastro.

A juíza Marcia Loureiro contou com a aprovação irrestrita do presidente do TJ, desembargador Ivo Sartori, que autorizou a PM a “reprimir força policial federal que eventualmente se opusesse à ação”. Ambos pertencem ao Tribunal que está assolado de denúncias de corrupção, super-salários e sonegação fiscal por parte de vários de seus desembargadores. Que moral e legitimidade têm eles para definir o destino de famílias trabalhadoras brasileiras?

Encontraram, porém, ombro amigo no governador e no prefeito de São José, ambos do PSDB. Vale lembrar, o mesmo partido do então governador do Pará que, em 1996, ordenou o massacre de Eldorado dos Carajás. Articularam e autorizaram a operação de guerra que, na calada da noite, tomou de assalto o Pinheirinho. O que ganharam com isso? A resposta está na lista de seus financiadores de campanha, recheadas de empreiteiras, incorporadoras, especuladores imobiliários e das empresas de Naji Nahas – que, junto com Daniel Dantas, esteve na vanguarda das privatizações do governo tucano de FHC.

Assim, o que uniu os agentes que trabalharam pelo despejo do Pinheirinho foi a prestação de um valioso serviço ao capital imobiliário. Essa ocupação representava uma verdadeira pedra no sapato, não apenas de Nahas, mas dos “empreendedores” imobiliários de São José dos Campos. Está localizada numa região de expansão imobiliária, onde ainda restam muitas áreas vazias, sob um forte assédio de construtoras e incorporadoras. Ora, nem é preciso dizer que pobres morando no entorno desvalorizam os futuros empreendimentos, em especial os condomínios para alta renda.

Por isso, o despejo do Pinheirinho era uma reivindicação antiga do capital imobiliário daquela região. Permitiria não só liberar a própria área da ocupação, como também valorizar as áreas dos bairros vizinhos. E principalmente no atual momento, em que São José passa por um processo especulativo de valorização de terras inédito, por ter sido contemplado pelo “Pacote Copa-2014”, por meio do trem bala, que passará por esta cidade.

Convenhamos então que nem o governador Alckmin, nem o prefeito Cury, nem mesmo os honoráveis magistrados do TJ-SP poderiam negar um pedido tão importante de amigos tão valiosos. A presidenta Dilma, que também teve sua campanha eleitoral fartamente financiada por construtoras, nada fez para impedir. Poderia ter desapropriado o terreno, mas não o fez. As cartas estavam marcadas.

Os editoriais de grandes jornais se apressaram em condenar os invasores de terra alheia e atribuir o conflito a interesses de partidos radicais, que teriam contaminado os pobres moradores. É preciso recordar àqueles que concordam com estes argumentos que a imensa maioria das periferias urbanas brasileiras resultou de processos de ocupação. Pela inexistência de política pública para a moradia, parte expressiva dos trabalhadores brasileiros nunca tiveram outra alternativa. Pretendem então despejar dezenas de milhões de famílias que vivem em áreas ocupadas?

Além disso, não é demais lembrar que a idéia dos “maus elementos radicais manipulando uma massa ingênua” foi o argumento preferido da ditadura militar para desqualificar os movimentos de resistência. Parte da tese conservadora de que o povo brasileiro é naturalmente pacato e resignado, só se movendo por influência externa.

Suponhamos, porém, juntamente com a Secretária de Justiça de São Paulo, Heloísa Arruda, que declarou que “a legalidade está acima dos direitos humanos”, que os “invasores” tivessem mesmo que ser despejados. Mesmo neste cenário, a questão poderia ter sido conduzida de forma muito diferente.

Basta tomarmos um exemplo recente, que ocorreu em Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo. No início de 2011, foi determinado o despejo de uma área ocupada por 900 famílias organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Encarregado de fazer a desocupação, o Coronel Adilson Paes exigiu simplesmente que a lei fosse cumprida para os dois lados: exigiu do Poder Público a garantia de um local de alojamento para as famílias despejadas, bem como todos os meios necessários para o tratamento humano daquelas pessoas.

Logo após, por algum motivo obscuro, o Coronel Adilson foi afastado do comando do batalhão. Mesmo assim, sua postura foi suficiente para permitir que houvesse uma solução pacífica e negociada neste caso. Não estranharemos se o Coronel Messias, que comandou com mão de ferro e uma boa dose de sadismo, a operação de guerra do Pinheirinho receber – não um afastamento – mas alguma medalha ou promoção ao Comando Geral da polícia militar. É assim que as coisas funcionam.

É triste constatar que o que ocorreu no Pinheirinho não foi um fato isolado. Trata-se de expressão de uma política, conduzida pela especulação imobiliária e seus amigos no Estado, que coloca a valorização das terras e os lucros com os empreendimentos bem acima da vida humana. Este processo, aliás, tem se tornado cada vez mais cruel com as obras da Copa do Mundo 2014. Infelizmente, outros Pinheirinhos virão.

*Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, militante da Resistência Urbana – Frente Nacional de Movimentos e da CSP Conlutas; Valdir Martins (Marrom), liderança da comunidade do Pinheirinho (MUST), militante da Resistência Urbana – Frente Nacional de Movimentos e da CSP Conlutas.

Fonte: http://silncioerudoasatiraemdenisdiderot.blogspot.com/

Tuesday, January 24, 2012

Governo de São Paulo age em nome dos bens privados: com sangue nas mãos

Governo de São Paulo age em nome dos bens privados (com a colaboração do judiciário e dos novos cinegrafista do terror da policia) e transforma a situação dos moradores do Pinheirinho em São José dos Campos num campo de batalha ou de guerra.
Abaixo a ditadura do governo de São Paulo com a sua policia com sangue nas mãos, ver abaixo:




Pinheirinho tem 2º 'dia de guerra' com novos conflitos e carros queimados
Bombas de gás, balas de borracha, veículos e imóveis incendiados foram o resultado do clima de guerra que se instalou ontem nos bairros vizinhos da comunidade do Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos, no interior paulista, um dia após a reintegração de posse determinada pela Justiça. A circulação de ônibus foi interrompida e o comércio fechou as portas, um feriado forçado e tenso para quem vive no local.

A reportagem é de William Cardoso e João Carlos de Faria e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 24-01-2012.

Desde o início da ação que tirou cerca de 1,5 mil famílias de uma área ocupada de 1,3 milhão de metros quadrados, 30 pessoas foram detidas. Dez pessoas foram presas depois de invadir a casa de um casal de idosos.

Segundo moradores e a própria PM, pessoas de fora da comunidade vêm promovendo atos de vandalismo. A pouco menos de 1 km do Pinheirinho, a Biblioteca Comunitária Jansen Filho foi incendiada três vezes. Na frente da biblioteca, foi queimado um caminhão da Fundação Hélio Augusto de Souza, o décimo veículo incendiado desde anteontem. Duas padarias também foram queimadas.

A polícia apreendeu três adolescentes responsáveis por um dos ataques. Com eles, foram encontrados cigarros e bebidas. Em outro caso, um rapaz com um coquetel molotov estava ao lado de um depósito de gás.

Muitos comerciantes não abriram suas lojas. "Deixei tudo fechado para ajudar as pessoas que não têm para onde ir", afirmou a comerciante Vera Lúcia Barbosa, de 56 anos, que transformou sua lanchonete em abrigo para moradores do Pinheirinho.

Na Avenida dos Evangélicos, dois protestos violentos foram reprimidos pelos PMs às 10h30 e às 19h. No local, o chão está forrado de cápsulas de balas de borracha. Para o coronel Manoel Messias Melo, a resposta é adequada. "A força empregada foi a necessária para conter os ânimos." A PM nega que a ação tenha deixado feridos graves. Anteontem, o secretário nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, foi atingido por uma bala de borracha.

Protestos

No centro, uma manifestação em favor dos sem-teto tomou conta da Praça Afonso Pena. Foi determinada uma restrição de acesso ao fórum, por medo de ataques.

Grupos em defesa dos sem-teto de Pinheirinho também protestaram na frente do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, e em Sumaré, no interior.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506043-pinheirinhotem2odia-deguerracom-novosconflitosecarrosqueimados

Noticias de um governo autoritário

Noticias de um governo autoritário - que usa e abusa do poder público e judiciário para legitimar o seu poder com a força física, ver abaixo:



Secretário da Presidência diz ter sido atingido por bala de borracha em SP
O secretário nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Roberto Martins Maldos, afirmou nesta segunda-feira que foi atingido por um disparo de bala de borracha na perna esquerda na manhã deste domingo, durante a operação policial para reintegração de posse da área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos (SP).

Segundo o secretário, que disse ter ido ao local em nome do governo federal para negociar uma solução pacífica para o conflito, não houve chance de conversar com os policiais antes de ser atingido.

A reportagem é de Iara Lemos e publicada por G1, 24-01-2012.

"Quando cheguei ao município, fui informado de que já estava ocupado e que era para eu tomar cuidado [...] Eu peguei meu cartão da Presidência, mas o que recebi foram armas apontadas para mim. Percebendo um perigo real, eu voltei e fui conversar com os moradores [...] De repente, começaram a voar voar bombas de gás", disse.

Ele diz que não houve reação. "Todos estavam perplexos. Todos sairam correndo e eu levei um tiro, que me atingiu na perna. Eu, como representante da Presidência da República, fui atingido por uma bala. Estou indignado", afirmou o secretário nesta tarde.

O comandante da operação, coronel da PM Manoel Messias Mello, disse nesta segunda, em São José dos Campos, que não teve informações de pessoas feridas na ação. “Os fatos primeiro precisam vir ao nosso conhecimento para serem apurados. A partir daí, depois que esses fatos forem confirmados, serão investigados.”

Maldos afirmou que tentou, durante várias vezes, se identificar para os policiais responsáveis pela operação como representante do goveno federal, mas em nenhum momento foi ouvido. Segundo ele, depois de ter sido atingido pelo disparo, ele tentou mais uma vez entrar no local, desta vez acompanhando jornalistas, mas não foi permitido, mesmo mostrando suas credenciais da Presidência da República.

"Um oficial, que não sei o nome, chamou os jornalistas para entrar e eu fui junto. Ele não me deixou entrar e disse: 'Se você quiser, vai pedir para a sua presidente para falar comigo'", afirmou.

Apesar do conflito, o secretário disse que o governo federal segue aberto para o diálogo com o governo do estado de São paulo e a prefeitura em busca de uma solução pacífica para o conflito.

"A gente não pretende assumir o protagonismo nesse processo. Estamos a serviço e à disposição do governo governo e da prefeitura para o diálogo [...]. A gente só está manifestando nossa indignação e não queremos que este fato se repita nunca mais proque isto fere a nação brasileira", afirmou.

'Acordo'

Segundo o secretário, havia um "acordo selado" entre o governo federal, o governo do estado e prefeitura para que, em um período de 15 dias, houvesse negociação sobre o que seria feito com as famílias que ocupavam a área.

"Estou indignado. Foi uma ação imprópria com a comunidade de Pinheirinho", disse. Segundo ele, ao optar pela reintegrção de posse utilizando a ação policial, o governo do estado e a prefeitura optaram pela "violência e a exclusão".

Ainda de acordo com o secretário, a proposta de reintegração de posse é algo que "está sendo estudado porque houve uma mudança no plano diretor da cidade".



Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506046-secretariodapresidencia-diztersidoatingidoporbala-deborrachaemsp

Crack: uma questão de saúde pública

O governador de Estado de São Paulo deve ter ciência que a droga - crack é um problema de saúde pública, educação e condições melhores para a vida dos seus cidadãos e não simplesmente um caso de policia, ver a entrevista abaixo:

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Entrevistas

Terça, 24 de janeiro de 2012
Crack: uma questão de saúde pública. Entrevista especial com Marcelo Ribeiro de Araújo
“O crack já se interiorizou. Hoje, 98% das cidades convivem com esse problema”, informa o psiquiatra.

Confira a entrevista.

Os investimentos em políticas públicas de enfrentamento ao crack são recentes, iniciaram nos anos 2000, e esse é um dos motivos da desarticulação no tratamento dos dependentes químicos. "O preconceito em relação ao tratamento", segundo Marcelo Ribeiro de Araújo, também contribui para a desarticulação, " porque ainda existem pessoas que acham que ‘passar a borracha’ nos usuários é a melhor solução” para acabar com as drogas.

Para ele, o desafio em relação ao tratamento dos usuários de crack é tratar o caso como um problema de saúde pública. Nesse sentido, avalia, os Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD) representam um avanço, “mas os profissionais ainda não receberam toda a capacitação que poderiam ter recebido”. E dispara: “O grande problema é que as pessoas colocam a responsabilidade toda no Caps, mas ele não consegue resolver o problema da dependência química. Alguns pacientes se beneficiam com o Caps e outros não. Têm pacientes que precisam, por exemplo, de uma moradia assistida, que é um intermediário, e isso ainda não existe no Brasil”.

Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone, Araújo diz que o consumo do crack está associado a situações de violência e abuso. Nesse sentido, argumenta, “retirar os viciados da cracolândia não vai resolver o problema da dependência. É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas, como a de saneamento, por exemplo. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack”.

Marcelo Ribeiro de Araújo é mestre e doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Atualmente é diretor de ensino da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da mesma universidade e autor do livro O Tratamento do Usuário do Crack (editora Artmed).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Hoje as campanhas de combate as drogas focam muito no consumo de crack. Por quê? Essa é a droga mais utilizada e a que causa maior dependência?

Marcelo Ribeiro de Araújo – Sim. O crack é uma droga que de fato desorganiza os usuários, porque eles ficam muito dependentes e desestruturados. Os usuários de crack também são os que mais buscam tratamento, ou são levados a buscar pela família ou por outras pessoas. O crack é uma droga que impacta, e é usada em grupos, em locais abandonados, e tudo isso atrai a atenção dos usuários.

IHU On-Line - Quais são os principais efeitos do crack sobre o psiquismo do sujeito?

Marcelo Ribeiro de Araújo - O crack é a cocaína na sua apresentação para ser fumada. Então, nesse sentido, farmacologicamente, ele é a cocaína. A cocaína é um estimulante do sistema nervoso que, quando utilizada, provoca um quadro de euforia e de bem estar, que é o que as pessoas buscam inicialmente, juntamente com um quadro de aumento da alerta, inquietação, aceleração psicomotora, aumento dos batimentos cardíacos. Isso tudo acompanha a intoxicação por essa substância.

A diferença entre ela e a cocaína cheirada é que a cocaína fumada (crack) atinge os pulmões, e uma grande quantidade de cocaína entra de uma vez só no corpo, atingindo rapidamente o cérebro. De cinco a oito segundos, a cocaína entra pelos pulmões, passa pelo coração e chega no cérebro. Então, o crack produz um efeito intenso e rápido, causando maior dependência.

IHU On-Line - Desde quando o Brasil investe em políticas públicas de enfrentamento ao crack e quais são as políticas existentes para tratar os dependentes?

Marcelo Ribeiro de Araújo - As políticas públicas são muito recentes e realizadas pelo governo federal, governos estaduais e municipais, de uma maneira que poderia ser melhor integrada. Para você ter uma ideia, até 2003 não havia serviços para tratamentos específicos ambulatoriais para dependência química. Havia apenas seis serviços: três em São Paulo, um na Bahia, um no Rio e um em Porto Alegre.

A partir dos anos 2000, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, foi introduzida a primeira política de drogas, entretanto, as políticas públicas passaram a se estruturar em 2003 e, desde então, estão aumentando, a partir da criação dos Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD).

IHU On-Line - Como é realizado o tratamento de dependentes químicos no Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD)?

Marcelo Ribeiro de Araújo - Quando um tratamento começa, avaliamos qual é a estrutura química, física e social do paciente. A partir daí, escolhemos as opções que melhor atenderão as necessidades dele. Esse é o conceito atual. Então, é feita uma avaliação das necessidades e a partir disso, tentamos começar o tratamento com uma proposta terapêutica, onde são considerados os ambientes que temos à disposição (podem ser os ambulatórios, podem ser as clínicas, as comunidades terapêuticas, os hospitais). É escolhido o melhor ambiente, pensado na equipe de profissionais disponível para ajudar esse paciente e nas estruturas de apoio sociais – se o dependente químico tem filhos, procuramos uma creche para a criança, por exemplo. Portanto, algumas decisões são clínicas e outras, sociais.

Os profissionais que atuam com os dependentes são o que chamamos de gerentes de caso, porque ficam junto com o paciente, próximo do dia a dia dele, e além do tratamento psicológico, ajudam e monitoram outras questões da vida social.

IHU On-Line – E como acontece isso na prática? O Brasil está preparado para esse modelo de tratamento?

Marcelo Ribeiro de Araújo - A partir dos anos 1980 e 1990, foram fechadas todas as clínicas de internação. Havia vários manicômios velhos, cheios de ratos, onde as pessoas ficavam completamente abandonadas. O problema é que após fecharmos os manicômios, não colocamos nenhum modelo de internação no lugar, e algumas pessoas precisam ser internadas. Algumas vezes, não sempre, é bom começar o tratamento por uma desintoxicação de um mês. Tem pessoas que ficam muito comprometidas socialmente porque desistem de uma internação em comunidade terapêutica.

Têm pacientes que se beneficiam do Caps, mas este é um tratamento que requer uma estrutura do dependente, pois ele precisa marcar a consulta, e ir às reconsultas. Esse é um tratamento para alguém que já está conseguindo se estruturar melhor. Atualmente, existem Caps nas capitais e nas cidades médias ou naquelas que possuem Universidades Federais, Estaduais. Ainda falta integrar melhor o Caps com o tratamento informal.

IHU On-Line - Como o senhor avalia o desempenho dos Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD)?

Marcelo Ribeiro de Araújo - A adaptação, às vezes, fica prejudicada porque como poucas pessoas trabalham com o tema no Brasil e não há muitos locais para se capacitar. Os profissionais ainda não receberam toda a capacitação que poderiam ter recebido. O grande problema é que as pessoas colocam a responsabilidade toda no Caps, mas ele não consegue resolver o problema da dependência química. Alguns pacientes se beneficiam com o Caps e outros não. Têm pacientes que precisam, por exemplo, de uma moradia assistida, que é um intermediário, e isso ainda não existe no Brasil.

Antes dos anos 1990, não tinha política nenhuma, o que surgiu no governo Fernando Henrique Cardoso foi uma grande carta de intenções, que se preocupava mais com a repressão do que em estruturar uma rede de tratamento para os dependentes químicos. Mas esse era o momento histórico. Foi desenvolvido um trabalho de colocar no papel tudo o que entendíamos por dependência, doença, mas a política de enfrentamento para o crack veio aparecer agora. Depois que a Dilma assumiu, ela fez o plano de enfrentamento e as propostas são válidas. Ela está pensando em diversificar a rede, e capacitar os profissionais. A ideia que está no papel é boa.

IHU On-Line - Alguns especialistas alegam que a desarticulação entre as políticas de segurança, saúde e assistência social tem prejudicado o tratamento de dependentes em crack. O senhor concorda? Quais são as razões desta desarticulação entre as políticas públicas?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O motivo desta desarticulação é porque o país investe em política pública nessa área há pouquíssimo tempo. Então, as pessoas ainda estão “batendo a cabeça”. A falta de articulação também esbarra no preconceito em relação ao tratamento, porque ainda existem pessoas que acham que “passar a borracha” nos usuários de droga é a melhor solução. Essa é uma mentalidade da cultura dos indivíduos. Está no imaginário das pessoas essa concepção de que o dependente químico é um drogado e que não há problema em tratá-lo com violência. As pessoas, às vezes, acabam agindo de uma maneira equivocada.

IHU On-Line - Quais os desafios de tratar a dependência química como um problema de saúde pública e não como uma questão de segurança?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O grande desafio é possuirmos ambientes e capacitação, além de ter a oportunidade de influir nos momentos em que se definem as políticas públicas. É uma questão de encarar o crack como uma questão de saúde pública. Retirar os viciados da cracolândia não vai resolver o problema da dependência. É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas, como a de saneamento, por exemplo. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack.

IHU On-Line - Considerando as pesquisas que o senhor realiza na universidade e o contato que tem com dependentes, diria que houve uma evolução no tratamento com dependentes químicos nos últimos anos?

Marcelo Ribeiro de Araújo – Com certeza. Evoluímos bastante. Fiz um mapa sob como o crac foi evoluindo no Brasil nesses 23 anos e percebi que quando o tema entrou em pauta, nós, pesquisadores, se quer publicávamos sobre o tema – ficávamos fazendo revisão de artigos. Hoje, pelo contrário, temos muitos profissionais pesquisando sobre o assunto, vários serviços de assistência aos dependentes químicos. Nós avançamos muito em pesquisa e nos tratamentos, só que infelizmente ainda estamos no começo. Essa é a principal questão.

IHU On-Line - Como o uso de crack evoluiu nesses 23 anos? O perfil dos consumidores também mudou?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O crack ainda continua sendo uma droga de pessoas de classe baixa e que têm baixa escolaridade. A classe média também consome, mas está longe de ser o grande consumidor. Os usuários são pobres, com histórico de violência e abuso. Nesse período, houve de fato uma disseminação do crack pelas grandes cidades: São Paulo, Porto Alegre, o restante do Sul, Belo Horizonte e depois a droga foi sendo espalhada para o Rio de Janeiro e Nordeste. O crack já se interiorizou. Hoje, 98% das cidades convivem com esse problema. Em municípios de 10 mil habitantes, até os bóias-frias fumam a droga.

Monday, January 23, 2012

Retirada de famílias deixa rastro de destruição em São José dos Campos

O governo do Estado de São Paulo com a força física (policia) a todo o vapor em nome dos bens privados, com o apoio do judiciário. Confira abaixo a reportagem:




Segunda, 23 de janeiro de 2012
Retirada de famílias deixa rastro de destruição em São José dos Campos
A reintegração de posse de uma área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, deixou um rastro de destruição nas ruas da cidade do interior paulista ontem.

A reportagem é de Felipe Luchete e Rogério Pagnan e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-01-2012.

Um homem levou um tiro nas costas e está hospitalizado. Outras nove pessoas ficaram feridas - entre elas um assessor da Presidência da República, um PM e um guarda civil - numa série de confrontos que se espalharam pelos bairros vizinhos, na região periférica do município.

Segundo a PM, prédios públicos - uma escola e uma biblioteca -, além de uma casa lotérica, foram incendiados.

Grupos também atearam fogo em oito carros, dois deles de órgãos de imprensa. Até a conclusão desta edição, o clima continuava tenso.

OPERAÇÃO

Atendendo a uma determinação da Justiça estadual, a Polícia Militar iniciou a operação por volta das 6 horas.

A área, pertencente à massa falida de uma empresa do megainvestidor Naji Nahas, foi ocupada em 2004. Cerca de 6.000 pessoas moravam no terreno. Ontem, 3.000 estavam no local - metade já havia deixado as casas com medo de um possível conflito.

Parte dos moradores chamou a atenção ao formar um exército improvisado para resistir à polícia. Com escudos de latão, porretes e capacetes de motociclistas, passaram as últimas semanas à espera. Ontem, poucos usaram a indumentária. Isso porque disseram ter sido pegos de surpresa, pois uma outra decisão da Justiça, esta da esfera federal, havia barrado a reintegração.

À medida que deixavam suas casas, os moradores eram encaminhados para um centro poliesportivo onde a prefeitura oferecia vagas em abrigos municipais. Perto do local houve vários confrontos.

Foi ali que, durante um embate com guardas civis municipais, um homem foi atingido nas costas por uma bala de um revólver calibre 38.

Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil para identificar o responsável pelo disparo. O comando da PM diz que o tiro não partiu de seus homens, já que o 38 foi "aposentado" pela corporação. A guarda civil de São José dos Campos utiliza esse revólver.

No desenrolar do dia, postagens em redes sociais na internet falavam em "mortes", aumentando o pânico. Movimentos sociais ligados a grupos sem-teto divulgaram nota classificando a ação policial como um "massacre".

A Folha presenciou um espancamento de um homem por um grupo de guardas civis. Os motivos não foram explicados. "É uma praça de guerra. São maloqueiros que querem depredar tudo", disse o comandante da guarda, Jorge de Assis Pinheiro.

A PM usava balas de borracha e bombas de efeito moral.

Dezesseis pessoas foram detidas durante o dia sob a suspeita de vandalismo. Segundo a PM, parte dos detidos não era morador da invasão.

ESTRADA FECHADA

A via Dutra chegou a ser interditada por manifestantes por cerca de uma hora e meia.

Advogado dos moradores, Antonio Ferreira disse ter sido baleado na virilha, no joelho e nas costas com balas de borracha. Paulo Maldos, secretário de Articulação Social da Presidência da República, foi atingido nas costas.

O comando da PM disse que, na área desocupação, houve resistência mínima.

Segundo a corporação, foram utilizados cerca de 2.000 policiais e bombeiros.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506005-retiradade-familiasdeixarastrodedestruicaoemsaojosedoscampos

Saturday, January 14, 2012

A Polícia Militar ocupou a cracolândia

A falta de competência do Governo do Estado de São Paulo em relação aos usuários de crack e outros desviantes, demonstra o quanto o atual governo (médico e não policial) não é hábil o suficiente para tratar as questões públicas (complexas em sua dinâmica social, politica, econômica e cultural): como saúde, moradia, educação, transporte e segurança - que são as questões fundamentais para a vida digna dos cidadãos. Sobre esse assunto conferir o artigo abaixo que saiu no site da IHU (Instituto Humanitas Unisinos - www.ihu.unisinos.br):




Cracolândia. Nada a ver com as UPPs
"No caso da cracolândia, em São Paulo, o problema não é de segurança pública. É um problema de saúde pública, agravado pela profunda exclusão social dos usuários de crack. Utilizar a polícia para tratar uma questão que não é de segurança pública tem poucas chances de sucesso. Em todas as experiências internacionais bem-sucedidas de promoção da saúde para usuários de drogas, o afastamento da polícia permitiu uma abordagem mais profunda por parte de profissionais da saúde e de assistência social", afirma Pedro Abramovay, professor da Escola de Direito da FGV do Rio de Janeiro, ex- secretário nacional de Justiça (2010) , em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 14-01-2012.

Eis o artigo.

A Polícia Militar ocupou a cracolândia. Ocupou? Por que o uso desse termo militar? Há dois possíveis motivos para isso.

Políticos raramente fogem à tentação de utilizar metáforas bélicas quando estão se referindo às drogas. Sempre pode sobrar algum dividendo político de se dizer parte de uma "guerra às drogas".

Vários líderes mundiais se reuniram recentemente para apontar que a lógica de guerra fracassou. É hora de produzir políticas mais inteligentes, que causem menos danos à sociedade. Infelizmente, muitos insistem em não perceber isso.

O segundo motivo, que me parece o principal neste caso, é uma tentativa de aproveitar o impacto positivo das ocupações em favelas cariocas e tentar colar nessa imagem.

Mas é preciso perceber que a lógica por trás das UPPs é diametralmente oposta à lógica da ocupação da cracolândia. Os problemas são radicalmente diferentes e merecem soluções distintas.

As UPPs vêm para enfrentar um problema de segurança pública: uma ocupação militarizada dos morros cariocas por organizações criminosas. Essa ocupação produzia violência e atingia frontalmente a liberdade dos moradores. O êxito dessa iniciativa veio quando o secretário de Segurança disse claramente que aquela não era uma operação para erradicar as drogas. O objetivo era diminuir a violência e recuperar o espaço das favelas para a cidade.

Esse foco preciso produziu uma política que tem combinado ações policiais com ações sociais. Com os percalços naturais de uma política pública tão complexa, ela está atingido o seu objetivo.

Mas, no caso da cracolândia, em São Paulo, o problema não é de segurança pública.

É um problema de saúde pública, agravado pela profunda exclusão social dos usuários de crack. Utilizar a polícia para tratar uma questão que não é de segurança pública tem poucas chances de sucesso. Em todas as experiências internacionais bem-sucedidas de promoção da saúde para usuários de drogas, o afastamento da polícia permitiu uma abordagem mais profunda por parte de profissionais da saúde e de assistência social.

O exemplo mais proeminente foi o de Portugal. Dez anos após a descriminalização do porte de pequenas quantidades, o país conseguiu, sem aumentar o consumo, aumentar de forma expressiva o acesso à saúde dos usuários.

No caso da cracolândia, é evidente que a presença da polícia reduz as chances de uma política de acesso à saúde.

Mesmo a ideia inicialmente apresentada, de que a polícia pode acabar com o tráfico na região, foi já desmentida pelo comandante da Polícia Militar na região central. Ele afirmou ser "utopia" dizer que é possível atingir tal feito.

Até porque essa separação tão clara entre o traficante e o usuário não é real. Uma parte significativa dos usuários de crack, em algum momento, já venderam a droga para sustentar o seu vício. Mas, mesmo nesses casos, a abordagem policial não resolve o problema. Apenas esconde.

A solução para a cracolândia não passa por viaturas e revólveres. Ela passa por consultórios móveis, com profissionais bem capacitados para dar atendimento aos usuários. Passa também por uma política consistente de assistência social para os moradores de rua.

Querer exportar o modelo carioca para a cracolândia é usar uma estratégia de segurança pública para lidar com um problema de saúde. É tão eficiente quanto utilizar metralhadoras para acabar com mosquitos da dengue.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505719-cracolandianadaavercomasupps - acesso em 14 de janeiro de 2012.

Militares, ciências, Educação Popular.

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