Thursday, December 10, 2015

A crise política econômica brasileira é um embuste

A crise política econômica brasileira é um embuste

A crise política, econômica, social e jurídica pela qual passamos no Estado brasileiro é produto do sistema financeiro internacional e das nossas debilidades de não saber pensar o Brasil para todos. Tal crise se configura como uma fraude e um embuste de primeira grandeza ao colocar todos os brasileiros num processo de simbiose, de letargia e da repetição da mesma ladainha ou mantra sobre os problemas que vivemos. Vamos aos fatos pelos pressupostos indicados:
O primeiro pressuposto é a política porque essa crise produzida é política e não simplesmente econômica, ou seja, o plano econômico ou de ajuste é um artifício projetado e criado por pessoas que fazem determinadas escolhas em detrimentos de determinados grupos que defendem determinadas construções de sociabilidade que visam o lucro para uma minoria específica e a degradação e a miséria da grande maioria[1]. Sobre essa questão especifica podemos verificar que os governos anteriores (de Collor a Lula) e o atual renderam-se ao mercado financeiro ou ao “deus mercado” idolatrado por todos como o novo processo de “religação” entre os homens e mulheres do sistema mundo que se rende a hegemonia do Capital[2].
O Segundo é o econômico que é um projeto de “financeirização da vida[3] em que as pessoas são sacrificadas para salvar os bancos e os donos do Capital num sistema de crédito e débito, derivativos podres e capital fictício. Sobre esse segundo pressuposto, podemos vislumbrar o plano de ajuste fiscal no Brasil como um embuste, pois tal plano é um artifício para promover o lucro do setor privado e o endividamento da dívida pública[4] brasileira em nome das atividades econômicas bancárias que lucraram mais 80 bilhões de reais em 2014[5] e no primeiro semestre deste ano alguns bancos obtiveram lucro de 60,3  bilhões de reais com o país em crise[6]. Não é a toa que o ministro da fazenda é o office-boy do mercado financeiro, isto é Joaquim Levi representa os interesses privados dos setores financeiros, tanto quanto a ministra Kátia Abreu representa os interesses do agronegócio e não dos pequenos agricultores e de famílias que trabalham e vivem no campo. Para lembrar o leitor podemos perguntar: - quem de fato ganha com o aumento do dólar? Quem de fato dá as Cartas no mercado financeiro? O Brasil virou a bola da vez no cassino financeiro internacional?[7] 
Terceiro ponto é o social e aqui a sofística se completa e complementa com a ladainha que se repete com o palavrório para os nossos ouvidos e emoções a flor da pele, pois a ideia é falar, falar e falar que os projetos sociais que beneficiaram os pobres, levou a economia do país à falência, e que agora todos devem se sacrificar para tirar o país da crise e aumentar a nossa credibilidade nas agências de classificação de risco e investimento. Essa ladainha é uma mentira deslavada e podemos constar verificando o orçamento da união que destina somente 3,08% para assistência social (aqui temos a famosa bolsa família para os pobres e outros programas sociais), para saúde 3,98%, para a educação 3,73%, para habitação 0,00% e 45,11 % é uma transferia brutal do setor público para o setor privado com amortização de dívidas que beneficia os grandes empresários, as construtoras, as empreiteiras e os bancos com um repasse de 978 bilhões de reais para oligarquia financeira que comanda o país – detalhe: o total executado do orçamento em 2014 foi de 2,169 trilhão[8].
Quarto e último ponto é o sistema judiciário brasileiro que entrou na lógica da ladainha do holofote da impressa que defende os interesses privados como uma retórica democrática e república dos senhores do mundo[9] que criam e elaboram suas leis para os seus próprios benefícios num “sistema de castas”, que mais se parece com uma oligarquia financeira. Contudo, os senhores juízes que são investidos da toga, os guardiões da constituição e dos direitos dos cidadãos, deveriam defender os direitos sociais e civis dos cidadãos brasileiros e não do sistema financeiro[10], com declarações inflamadas e irresponsáveis que demarca o interesse do Capital em detrimento do fosso social que coloca em descrédito as instituições políticas do país como um sistema esgarçado das “tripas ao coração”, instaurando assim a “guerra de todos contra todos” em seu processo de barbárie e violência do “homem como lobo do próprio homem” (Thomas Hobbes).       
O leitor poderá nos perguntar, depois de todas as argumentações desenvolvidas, se existe alguma saída para a crise (embusteira) econômica e política pela qual o Brasil está passado? Sim existe saída, mas a saída desta crise depende de todos nós, pois é uma tarefa coletiva da sociedade e do Estado encontrar caminhos que nos move para sair da crise. Primeira sugestão para sair da crise é realizar uma auditoria na dívida pública brasileira. Segundo é criar conselhos deliberativos nas ruas, bairros, cidades, nas regiões dos estados, nos estados e na federação para fiscalizar os gastos públicos, taxas de juros, orçamento da união e projetos de viabilidade pública, como educação, saúde e saneamento básico – além de propor novas modalidades de participação popular, já que o sistema no qual estamos inseridos está falido e carente de participação popular. Terceiro é mudar o sistema de arrecadação dos municípios que vai para federação que é de 70%, para 30% (podemos ser uma federação de fato descentralizando o poder – só aqui podemos evitar vários mecanismos de corrupção). Quarto as universidades, centros universitários e faculdades devem preparar estudos, fóruns e debates sobre a vida política, econômica, social e cultural dos municípios, dos estados e da federação (privando-se dos conflitos de interesse os professores que estão em cargos públicos e de assessoria governamental, para não privilegiar professor x ou y em cargos públicos ou empresariais que possam comprometer as análises e os estudos). Quinto derrubar os lucros dos bancos com altas taxas de juros como mecanismos financeiros que destrói a vida dos cidadãos brasileiros e da suposta economia real que já produziu a financeirização das nossas vidas. Em síntese, precisamos de mais democracia (podemos nos inspirar nos estudantes da rede pública do Estado Paulo) e menos oligarquia financeira no poder com seu ar petulante e de supostos sábios especialistas e técnicos[11] na falaciosa gestão pública do Estado fraco para os pobres e fortes para os mais ricos.
Daner Hornich,
Professor Universitário com doutorado em Filosofia
Piracicaba, 10 de novembro de 2015.



[2] “Em anos recentes, os líderes brasileiros falaram com prazer sobre sua independência ou seu desligamento da economia global, mas na verdade, mesmo com Lula e agora com Dilma no poder, eles se tornaram ainda mais dependentes do capital internacional ao aceitarem a dominância do neoliberalismo. Quaisquer que sejam as realizações progressistas alcançadas, elas foram severamente limitadas e agora, talvez, até revertida – pela submissão da economia brasileira às pressões do capital internacional, o que explica bem as condições que acabaram por levar à agitação atual”. (WOOD, Ellen Meiksin. O império do capital. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 10).
[3]Mas, como a vida social é cada vez mais regrada pelas leis da economia, seus requisitos modelam todos os aspectos da vida, não somente a produção e circulação de bens e serviços, mas também a distribuição de recursos, a disposição do trabalho e a própria organização do tempo”.  (WOOD, Ellen Meiksin. O império do capital. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 22)
[11] É falacioso o argumento que tenta demonstrar que a observação dos dados, das variáveis e dos fenômenos são elementos puramente técnicos e instrumentais do ponto de vista da sua objetividade analítica, pois os dados técnicos, são manipuláveis nos tabuleiros das analises, basta movê-los para demonstrar a relação de x e y na suposta mobilidade dos dados meticulosamente objetivados pelos jogos de dados e cálculos, como se fossem neutros.  

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