A crise
política econômica brasileira é um embuste
A crise política, econômica, social e jurídica pela
qual passamos no Estado brasileiro é produto do sistema financeiro
internacional e das nossas debilidades de não saber pensar o Brasil para todos.
Tal crise se configura como uma fraude e um embuste de primeira grandeza ao
colocar todos os brasileiros num processo de simbiose, de letargia e da
repetição da mesma ladainha ou mantra sobre os problemas que vivemos. Vamos aos
fatos pelos pressupostos indicados:
O primeiro pressuposto é a política porque essa
crise produzida é política e não simplesmente econômica, ou seja, o plano
econômico ou de ajuste é um artifício projetado e criado por pessoas que fazem
determinadas escolhas em detrimentos de determinados grupos que defendem
determinadas construções de sociabilidade que visam o lucro para uma minoria
específica e a degradação e a miséria da grande maioria[1]. Sobre essa questão
especifica podemos verificar que os governos anteriores (de Collor a Lula) e o
atual renderam-se ao mercado financeiro ou ao “deus mercado” idolatrado por
todos como o novo processo de “religação” entre os homens e mulheres do sistema
mundo que se rende a hegemonia do Capital[2].
O Segundo é o econômico que é um projeto de “financeirização da vida”[3] em que as pessoas são
sacrificadas para salvar os bancos e os donos do Capital num sistema de crédito
e débito, derivativos podres e capital fictício. Sobre esse segundo
pressuposto, podemos vislumbrar o plano de ajuste fiscal no Brasil como um
embuste, pois tal plano é um artifício para promover o lucro do setor privado e
o endividamento da dívida pública[4] brasileira em nome das
atividades econômicas bancárias que lucraram mais 80 bilhões de reais em 2014[5] e no primeiro semestre
deste ano alguns bancos obtiveram lucro de 60,3 bilhões de reais com o país em crise[6]. Não é a toa que o
ministro da fazenda é o office-boy do
mercado financeiro, isto é Joaquim Levi representa os interesses privados dos
setores financeiros, tanto quanto a ministra Kátia Abreu representa os
interesses do agronegócio e não dos pequenos agricultores e de famílias que
trabalham e vivem no campo. Para lembrar o leitor podemos perguntar: - quem de
fato ganha com o aumento do dólar? Quem de fato dá as Cartas no mercado financeiro?
O Brasil virou a bola da vez no cassino financeiro internacional?[7]
Terceiro ponto é o social e aqui a sofística se
completa e complementa com a ladainha que se repete com o palavrório para os
nossos ouvidos e emoções a flor da pele, pois a ideia é falar, falar e falar
que os projetos sociais que beneficiaram os pobres, levou a economia do país à
falência, e que agora todos devem se sacrificar para tirar o país da crise e
aumentar a nossa credibilidade nas agências de classificação de risco e investimento.
Essa ladainha é uma mentira deslavada e podemos constar verificando o orçamento
da união que destina somente 3,08% para assistência social (aqui temos a famosa
bolsa família para os pobres e outros programas sociais), para saúde 3,98%,
para a educação 3,73%, para habitação 0,00% e 45,11 % é uma transferia brutal
do setor público para o setor privado com amortização de dívidas que beneficia
os grandes empresários, as construtoras, as empreiteiras e os bancos com um
repasse de 978 bilhões de reais para oligarquia financeira que comanda o país –
detalhe: o total executado do orçamento em 2014 foi de 2,169 trilhão[8].
Quarto e último ponto é o sistema judiciário
brasileiro que entrou na lógica da ladainha do holofote da impressa que defende
os interesses privados como uma retórica democrática e república dos senhores
do mundo[9] que criam e elaboram suas
leis para os seus próprios benefícios num “sistema de castas”, que mais se
parece com uma oligarquia financeira. Contudo, os senhores juízes que são
investidos da toga, os guardiões da constituição e dos direitos dos cidadãos,
deveriam defender os direitos sociais e civis dos cidadãos brasileiros e não do
sistema financeiro[10], com declarações
inflamadas e irresponsáveis que demarca o interesse do Capital em detrimento do
fosso social que coloca em descrédito as instituições políticas do país como um
sistema esgarçado das “tripas ao coração”, instaurando assim a “guerra de todos contra todos” em seu
processo de barbárie e violência do “homem
como lobo do próprio homem” (Thomas Hobbes).
O leitor poderá nos perguntar, depois de todas as
argumentações desenvolvidas, se existe alguma saída para a crise (embusteira)
econômica e política pela qual o Brasil está passado? Sim existe saída, mas a
saída desta crise depende de todos nós, pois é uma tarefa coletiva da sociedade
e do Estado encontrar caminhos que nos move para sair da crise. Primeira
sugestão para sair da crise é realizar uma auditoria na dívida pública
brasileira. Segundo é criar conselhos deliberativos nas ruas, bairros, cidades,
nas regiões dos estados, nos estados e na federação para fiscalizar os gastos
públicos, taxas de juros, orçamento da união e projetos de viabilidade pública,
como educação, saúde e saneamento básico – além de propor novas modalidades de
participação popular, já que o sistema no qual estamos inseridos está falido e
carente de participação popular. Terceiro é mudar o sistema de arrecadação dos
municípios que vai para federação que é de 70%, para 30% (podemos ser uma
federação de fato descentralizando o poder – só aqui podemos evitar vários
mecanismos de corrupção). Quarto as universidades, centros universitários e
faculdades devem preparar estudos, fóruns e debates sobre a vida política,
econômica, social e cultural dos municípios, dos estados e da federação
(privando-se dos conflitos de interesse os professores que estão em cargos
públicos e de assessoria governamental, para não privilegiar professor x ou y
em cargos públicos ou empresariais que possam comprometer as análises e os
estudos). Quinto derrubar os lucros dos bancos com altas taxas de juros como
mecanismos financeiros que destrói a vida dos cidadãos brasileiros e da suposta
economia real que já produziu a financeirização das nossas vidas. Em síntese,
precisamos de mais democracia (podemos nos inspirar nos estudantes da rede
pública do Estado Paulo) e menos oligarquia financeira no poder com seu ar
petulante e de supostos sábios especialistas e técnicos[11] na falaciosa gestão
pública do Estado fraco para os pobres e fortes para os mais ricos.
Daner Hornich,
Professor Universitário com
doutorado em Filosofia
Piracicaba, 10 de novembro de 2015.
[1] Cf. http://outraspalavras.net/posts/os-28-bancos-que-controlam-o-dinheiro-do-mundo/
acesso em 18 de outubro de 2015
[2] “Em anos recentes, os líderes brasileiros
falaram com prazer sobre sua independência ou seu desligamento da economia
global, mas na verdade, mesmo com Lula e agora com Dilma no poder, eles se
tornaram ainda mais dependentes do capital internacional ao aceitarem a
dominância do neoliberalismo. Quaisquer que sejam as realizações progressistas
alcançadas, elas foram severamente limitadas e agora, talvez, até revertida –
pela submissão da economia brasileira às pressões do capital internacional, o que
explica bem as condições que acabaram por levar à agitação atual”. (WOOD,
Ellen Meiksin. O império do capital.
Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 10).
[3] “Mas, como a vida social é cada vez mais
regrada pelas leis da economia, seus requisitos modelam todos os aspectos da
vida, não somente a produção e circulação de bens e serviços, mas também a
distribuição de recursos, a disposição do trabalho e a própria organização do
tempo”. (WOOD, Ellen Meiksin. O império do capital. Tradução de Paulo
Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2014, p. 22)
[4] http://www.ihu.unisinos.br/noticias/543334-a-divida-publica-e-um-mega-esquema-de-corrupcao-institucionalizado. Acesso em 18 de agosto de 2015.
[5] Cf. http://www.auditoriacidada.org.br/correio-da-cidadania-o-brasil-esta-parado-mas-os-bancos-continuam-lucrando/. Acesso em 17 de agosto de 2015.
[6] Cf. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/541906-bancos-tem-ano-de-lucros-recordes-diz-dieese.
Acesso
em 17 de agosto de 2015.
[7] Cf. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/18362-a-economia-financeira-e-a-logica-do-cassino.
acesso em 18 de outubro de 2015.
[8] http://www.auditoriacidada.org.br/e-por-direitos-auditoria-da-divida-ja-confira-o-grafico-do-orcamento-de-2012/.
acesso em 18 de outubro de 2015.
[9] Cf. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/516943-os-mais-ricos-do-mundo-global-moldam-as-leis-e-a-sociedade-a-sua-propria-imagem-.
acesso em 18 de outubro de 2015.
[10]Cf.http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6146&secao=473
. acesso em 18 de outubro de 2015.
[11] É falacioso
o argumento que tenta demonstrar que a observação dos dados, das variáveis e
dos fenômenos são elementos puramente técnicos e instrumentais do ponto de
vista da sua objetividade analítica, pois os dados técnicos, são manipuláveis
nos tabuleiros das analises, basta movê-los para demonstrar a relação de x e y
na suposta mobilidade dos dados meticulosamente objetivados pelos jogos de
dados e cálculos, como se fossem neutros.
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