Tuesday, August 29, 2006

Suspensão de hostilidade

Jornal de Piracicaba - SP
OPINIÃO » OPINIÃO PÚBLICA
26/07/2006 » 22h53
Reflexão: Suspensão de hostilidade
“A situação é de paz, mas apenas uma suspensão de hostilidade por medo uns dos outros” (Hobbes, 2003,153). A situação de tranqüilidade nas nossas ruas, praças, avenidas comerciais e palacianas é aparente, pois mais uma vez colocamos panos quentes para abafar a situação emergente e não resolvemos os nossos problemas. Fingimos com a nossa cara lavada de irresponsabilidade que as coisas estão em plena harmonia e normalidade.Diante das mentiras de soluções eminentes que aconteceram nos meses de maio e junho em torno dos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), alimentadas pelos nossos representantes sanguinários, corruptos e corruptores –– na sua grande maioria nos nossos palácios governamentais –– fingiram estar em trégua nesses dias de guerra para se passarem por bons homens públicos, feridos no orgulho pelas desgraças ocorridas ao povo brasileiro (paulistas e paulistanos). Bastou o cessar-fogo do PCC pra poeira baixar e as flechas começarem a ser atiradas de um lado para outro: a culpa é do governo do Estado de São Paulo, a culpa é do governo federal e assim por diante. Mas a culpa é de quem? Ou melhor, de quem são a ineficiência e a incapacidade de gerir o Estado Democrático de Direito, que deveria manter o mínimo possível à segurança física e à estabilidade dos seus cidadãos?Após os eventos de barbárie surgiram as discussões e os debates sobre os possíveis bloqueadores de celulares nos presídios e nas suas cercanias. Nós, cidadãos brasileiros, paulistas e paulistanos, sabemos que os problemas não são dos bloqueadores de celulares, mas que os nossos problemas são de ineficiência, incompetência, incapacidade e de corrupção dos sistemas judiciário (que não faz cumprir a Constituição), carcerário e governamental, fundados nas relações de favorecimento, influência pessoal e ambigüidade.Tudo é flexibilizado e a violência se manifesta sobre os nossos olhos, peles e mentes com olhares de medo e terror. Diante da instabilidade e da insegurança precisamos pensar, refletir e debater com mais eficácia sobre o futuro do Estado Democrático de Direito da nossa República, carcomida pela corrupção dos nossos representantes.Carecemos de um soberano, no nosso caso de um estadista competente e eficiente que respeite a Constituição Brasileira e o seu povo, fruto de um Estado que não se preocupa com a educação dos seus cidadãos, com a arte e a ciência, pois como argumenta Diderot no texto Plano de Uma Universidade: “Se uma nação não é instruída, talvez seja numerosa e possante, mas será bárbara; e ninguém me persuadirá jamais que a barbárie seja o estado mais feliz de uma nação, nem que um povo se encaminhe para a desventura à que se esclarece, ou se civilize, ou que os direitos da propriedade lhe sejam mais sagrados. A propriedade dos bens e das pessoas, ou a liberdade civil, supõem boas leis e trazem com o tempo a cultura das terras, a população, as indústrias de toda espécie, artes, ciências, o belo século de uma nação.” (Diderot, 2000, 377).Assim, termino com a seguinte reflexão e um lembrete: “É como se vivessem continuamente num prelúdio de batalha. Portanto, compete ao detentor do poder soberano ser o juiz, ou constituir todos os juízos de opiniões e doutrinas, como coisa necessária para a paz, evitando assim a discórdia e a guerra civil” (Hobbes, 2003, 153).

Daner Hornich é mestre em filosofia e professor.

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Militares, ciências, Educação Popular.

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