Tuesday, September 12, 2006

Qual justiça? Qual racionalidade?

OPINIÃO » OPINIÃO PÚBLICA
01/06/2006 » 21h37
ReflexãoQual justiça? Qual racionalidade?
Qual justiça? Qual racionalidade? –– destruíram a cidade –– “uma explosão comercial, pragmática, calculada, do gosto pelo horror, ou melhor, do mau gosto pelo horror, o mundo sem gosto” (Matos, Olgária. “Vestígios”, 1998, 62). Destruíram pilares –– “uma ordem destruidora e desagregadora do homem, um atentado ao futuro do homem, um sinal de cansaço, um caminho sinuoso para o nada” (Nietzsche, Friedrich. “Genealogia da Moral”, 1998, 65).Qual justiça? Qual racionalidade? Eliminaram nossas ações pelo terrorismo e pela ideologia; destruíram nossas individualidades. “O perigo das fábricas de cadáveres e dos grandes poços do esquecimento é que hoje, com o aumento universal das populações e dos desterrados, grandes massas de pessoas constantemente se tornam supérfluas se continuamos a pensar em nosso mundo em termos utilitários.Os acontecimentos políticos, sociais e econômicos de toda parte conspiram silenciosamente com os instrumentos totalitários inventados para tornar os homens supérfluos” (Arendt, Hannah. “Origens do Totalitarismo”, 1989, 510). Deixamos de falar, de rir, de olhar, de sentir e de pensar, e de querer e de julgar.O cenário tem novos contornos de barbárie, tempos sombrios. Qual justiça? Qual racionalidade? “Espera-se que finjamos para nós mesmos que as classes e contradições de classes já não existem mais ou não mais importam” (Meszáros, István. “Para Além do Capital”, 2002, 39).Memória, bendita memória, quero encontrar-me com Atenas, olhe o nosso retrato, escute o nosso relato sobre a banalidade do mal. Quem são nossas crianças? Quem são os nossos garotos? Quem são? Quem são? Serão propagandas de refrigerantes?Qual justiça? Qual racionalidade? Destruíram nossas praças. Homens e crianças têm armas nas mãos, armas que simbolizam o prazer de matar. Por que tanta intolerância? Sua manifestação é visível, seu vestido é guerra, sua face esta suja de sangue da violência, seu cálice é a destruição. Você usa da força –– vontade de poder e dominar ––, mas que poder é esse? O que elimina as pessoas com bombas? Perdemos a medida e o parâmetro, o caos povoa o nosso imaginário e a ditadura, os nossos olhares.Qual justiça? Qual racionalidade? “O preço que os homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder” (Horkheimer, Max. “Dialética do Esclarecimento”, 1985, 24). A democracia esvazia-se e a nova ordem se estabelece: totalitarismo, sistema de destruição, campo de concentração, propaganda de massa, câmara de gás, poder paralelo, tráfico de drogas, guerra civil, corrupção. Somos a marca de um tempo. “A cegueira alcança tudo, porque nada compreende” (Horkheimer, Max. “Dialética do Esclarecimento”, 1985, 24).Qual justiça? Qual racionalidade? A ignorância ronda nossos olhos, penetra nossa alma; a irracionalidade se apodera das mentes corrompendo e banalizando a razão, que não é instrumento de poder, de dominação de mercado e de cálculo empresarial, mas é possibilidade emancipadora, que trava uma guerra contra o fanatismo, o fundamentalismo, a impunidade, a ausência de transparência, a corrupção e a ordem estabelecida pelos ditadores econômicos –– que seduzem a grande massa com o encanto e a feitiçaria, magos e gnomos, sofistas e “tecnocratas palpiteiros”––, que enfeitam esse “cenário emburrecedor” (Romano, Roberto. “O Caldeirão de Medeia”, 2001, 214) da nossa sociedade brasileira. Qual justiça? Qual racionalidade?Um lembrete aos universitários, professores e pesquisadores conformados com as atrocidades humanas e seus significados políticos: “O direito da intolerância é, pois, absurdo e bárbaro; é o direito dos tigres, e bem mais horrível, pois os tigres só atacam para comer, enquanto nós exterminamo-nos por parágrafos” (Voltaire “Tratado sobre a Violência”, 2000, 34)Daner Hornich é mestre em filosofia (PUC-SP) e professor

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