Wednesday, November 22, 2006

Isso parece o Brasil!

É sempre bom lembrar de boas companhias paras as nossas reflexões em tempos de esquecimento, ausência de honestidade e de escuridão intelectual. Por isso, recordo-me das reflexões de Diderot: “Parece-me que eu estava fechado no lugar que se chama o antro desse filósofo. Era uma longa caverna, obscura. Eu estava aí sentado em meio a uma multidão de homens, de mulheres e de crianças. Tínhamos todos os pés e as mãos encadeadas e a cabeça tão bem presa entre talas de madeira que nos era impossível volvê-las. Mas o que me espanta é que as pessoas, na maior parte, bebiam, riam, cantavam, sem que parecessem estorvadas com seus grilhões e que vós tivésseis dito, ao vê-las, que este era o seu estado natural; parecia-me mesmo que eram encarados com maus olhos aqueles que envidavam algum esforço para recobrar a liberdade de seus pés, de suas mãos e de sua cabeças, que eram designados por nomes odiosos, que os outros se afastavam deles como se tivessem sido infectados de um mal contagioso, e que quando sobrevinha algum desastre na caverna, não se deixava jamais de acusa-los por isso. Equipados como acabo de vos dizer, tínhamos todos o dorso voltados para a entrada dessa morada, e só podíamos olhar o fundo, atapetado com uma tela imensa” (Diderot, 2000, 216). Boas lembranças das reflexões de Platão – ou podemos argumentar – isso parece o Brasil! Imagino muitas coisas nesse momento de irracionalidade, conformismo generalizado, burrice ideológica, servilismos voluntários e intimidação robusta de terror e medo.
Comentários para uma segunda reflexão:
Sem citar as universidades e os intelectuais desse “Shopping Center” e as suas subserviência ao mercado, com suas leis de intimidação no cerceamento da autonomia, da livre expressão, da individualidade, da crítica e da universalidade. Poderíamos perguntar se somos acorrentados como na caverna de Platão ou na caverna imaginada pelo Diderot? Ou, se somos um mal contagioso quando não abaixamos o corpo feito porcos “rosnando” no chão sem um pingo de vergonha na cara? É hora de mudança, vamos parar de passar a mão na cabeça daqueles que nos intimida com o terror da sobrevivência mercadológica e lutar com inteligência contra todo tipo de servilismo voluntário e besta que assolam nossas relações sociais, políticas, educacionais, religiosas e culturais.
Daner Hornich. Mestre em Filosofia (PUC-SP) e professor

No comments:

Militares, ciências, Educação Popular.

A pandemia atual expõe a falácia de alguns dogmas sobre a pós modernidade, ela mesma integra a lista dos enunciados falsos de evidências lóg...