Papa recebe transexual espanhol em audiência privada em Roma
Homem perguntou “se havia lugar” para ele na casa de Deus e Francisco o abraçou
EL PAÍS / EP Madrid 27 ENE 2015 - 14:38 BRST
O papa Francisco recebeu no sábado, 24 de janeiro, um transexual espanhol, Diego Neria Lejárraga, de 48 anos, depois que este entrou em contato com o Sumo Pontífice para pedir-lhe apoio diante da rejeição e da incompreensão que sofre por conta de sua mudança de sexo, segundo publicação do jornal Hoy da Estremadura, confirmado por fontes da igreja.
O encontro, do qual não existem imagens por ter sido uma audiência privada na residência papal de Santa Marta, ocorreu depois de Neria Lejárraga, religioso desde criança e católico praticante, enviar uma carta ao Papa na qual lhe contou a rejeição que sofreu em sua localidade natal, Plasencia (Cáceres), de 40.000 habitantes, a qual regressou após submeter-se a uma operação de cirurgia para mudança de sexo.
Diego Neria Lejárraga nasceu mulher, mas sempre sentiu-se homem, segundo detalha o jornal. “Minha prisão era meu próprio corpo”, lembra. Quando criança, escrevia cartas aos Reis Magos _na Espanha uma tradição forte quanto escrever cartas ao Papai Noel_ nas quais pedia que o transformassem em homem. Sempre contou com o apoio de sua família, mas sua mãe lhe pediu que não operasse enquanto ela vivesse, de acordo com a agência italiana ANSA. Pouco depois da morte de sua mãe, quando Diego tinha 40 anos, decidiu realizar uma cirurgia plástica e, pouco a pouco, começou a mudar seu corpo, indo para Madri.
Quando voltou para Plasencia, seu aspecto físico havia mudado e recebeu a rejeição de parte de seus conhecidos. A atitude dos religiosos era o que mais lhe doía. “Como você se atreve a entrar aqui na sua condição? Não é digno”, ouviu de alguns católicos quando Diego quis voltar para sua igreja. “Você é a filha do diabo”, diz ter ouvido um dia em plena rua da boca de um padre.
Neria se trancava em casa chorando e decidiu escrever para o Papa, conforme relata o jornal. “Nunca me atrevi antes [a pedir ajuda a um Papa], mas com Francisco sim; depois de ouvi-lo muitas vezes, senti que ele me escutaria”, confessa.
Mandou a carta através do bispo de Plasencia, Amadeo Rodríguez Magro, em quem afirma ter encontrado consolo e apoio. Após receber sua carta, Francisco lhe telefonou no final do ano passado, especificamente no Dia da Imaculada. A ligação era de um número privado e, ainda que Diego não costume atender quando isso acontece, dessa vez o fez. “Sou o papa Francisco”, foi a primeira coisa que disse, para acrescentar que suas palavras haviam “tocado minha alma” e que gostaria de conhece-lo. Pouco antes do Natal, voltou a ligar para marcar a data de 24 de janeiro.
Lejárraga compareceu ao encontro com o Pontífice acompanhado de sua noiva em uma reunião privada que aconteceu no sábado, às 17 horas (14h de Brasília). Durante a conversa, perguntou ao Santo Padre “se havia lugar” para ele na casa de Deus. A resposta de Francisco foi abraçá-lo, de acordo com o jornal. “Se eu pudesse escolher, não teria escolhido minha vida”, se lamenta.
O Papa deixou clara sua postura para com os gays e a orientação sexual das pessoas no ano passado quando, ao ser questionado por um jornalista, respondeu: “Quem sou eu para julgá-los?”. “Os homossexuais devem ser respeitados, como é respeitada a dignidade de toda pessoa independentemente de sua tendência sexual”, acrescentou.
Não é a primeira vez que o Papa liga pessoalmente para a Espanha. Em janeiro do ano passado, o pontífice telefonou para dar Feliz Ano Novo para freiras argentinas que vivem em um convento de Lucena (Córdoba). Como ninguém atendeu, Francisco deixou uma mensagem na secretária eletrônica: “Sou o papa Francisco. Tentarei ligar mais tarde”. Em agosto, ligou para um jovem de Granada que relatou por carta os abusos que sofreu por parte de vários padres.“Boa tarde, filho, sou o padre Jorge”, disse antes de pedir-lhe perdão.
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