As mazelas das nossas contradições e o coronel
Na política brasileira visualizamos as contradições das nossas mazelas, por meio do pragmatismo dos partidos e dos coronéis mandatários da “República Velha” (o retorno, como recordou o cientista político Francisco Fonseca, professor da Fundação Getúlio Vargas no programa da rádio CBN Noite Total de Segunda-feira, 03/08/2009) que para se manterem no poder produz a degradação da vida pública em nome do aparelhamento do Estado pelo partido e pela política trágica do patrimonialismo em nome do Estado – “Eu sou o Estado” pode ser o legado de alguns políticos mandatários destas terras de Pindorama.
A forma pragmática se manifesta nos espaços teatrais das nossas ações políticas com José Dirceu na cooptação dos camaradas para a manutenção da política presidência do primeiro mandato e toda aquela velha história dos “mensaleiros quadrilheiros” que não foram punidos pelos pares.
Recentemente temos o Presidente Lula defendendo José Sarney como cidadão nada comum na vida pública brasileira e ao mesmo tempo dizendo que não votou no Senador e que não é responsável pelos crimes de corrupção e patrimonialismo contra a república brasileira, lavando as mãos, como bom sobrevivente no cenário político brasileiro.
O holofote aumenta quando ampliamos a defesa do “neo-convertido”, bom moço do Alagoas – Senador Fernando Collor de Mello na defesa do Senador José Sarney; podemos lembrar que Collor se elegeu presidente da República do Brasil criticando o Sarney presidente da República na época.
Exemplos de contradições e de ausência de coerência pessoal e partidária dos “nossos políticos” que não dão o mínimo de atenção ao que está acontecendo no cenário político-econômico no Brasil e no mundo são muitos e revelam o quanto o bem público e a população são maltratados pelos políticos que corrompem os juízes e proclamam a volta da República Velha.
Na República Velha os dizeres dos coronéis ditam o poder quando proclamam em voz alta “o juiz é nosso” ou “o delegado é nosso” (Cf. Francisco Fonseca, CBN Noite Total de Segunda-feira, 03/08/2009) – esse era o ditado usado pelos coronéis ao indicar que os juízes e os delegados eram cooptados pelos poderosos – será que isso aconteceu com o juiz – amigo íntimo de Sarney no caso do “cala boca” do Jornal “Estadão”?
Isso precisa ser investigado e o juiz deve ser punido, caso tenha responsabilidade no ato deliberado a favor do amigo. A conversa da família Sarney diz respeito ao espaço público e não era conversa íntima e familiar, mas favorecimento patrimonialista do namorado da neta na atividade de um cargo público.
Para usar uma linguagem apropriada, podemos recordar a análise de Raymundo Faoro em “Os Donos do Poder” na explicação sobre a regra do compadrio, isto é “em regra o compadrio une os aderentes ao chefe, chefe enquanto goza da confiança do grupo dirigente estadual e enquanto presta favores, com o domínio do mecanismo policial, muitas vezes do promotor público, não raro expresso na boa vontade do juiz de direito. As autoridades estaduais – inclusive o promotor público e o juiz de direito – são removidas, se em conflito com o coronel. Até a supressão da comarca, seu desmembramento, elevação de entrância são expedientes hábeis para arredar a autoridade incômoda” (FAORA, 2001, 712).
Na democracia precisamos realizar nossas atividades com transparência, fiscalização e controle das Instituições públicas e privadas no exercício do poder público prestando contas das nossas ações e palavras para o bom funcionamento da República contra os coronéis, os subcoronéis, os seus capangas, amigos e compadres que geram as mazelas das nossas contradições em nosso país.
Daner Hornich é Doutorando em Filosofia pela PUC-SP. Mestre em Filosofia pela PUC-SP.
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