Thursday, September 24, 2015

Papa Francisco: “Perguntam-me se eu sou católico? Se quiserem, posso recitar o Credo...”

“Perguntam-me se eu sou católico? Se quiserem, posso recitar o Credo...” O Papa Francisco falou com os jornalistas durante a viagem de Santiago de Cuba a Washington, para responder às acusações de quem o chama de “comunista” ou, até mesmo de “antipapa”.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 22-09-2015. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
O que pensa sobre o embargo de Cuba? Falará sobre ele no Congresso?
O fim do embargo faz parte das negociações entre os Estados Unidos e Cuba. Os dois presidentes conversaram; espero que se chegue a um acordo que satisfaça a ambas as partes. Com respeito à postura da Santa Sé sobre os embargos, os Papas precedentes se manifestaram, e não apenas sobre este caso. Sobre isso fala a Doutrina Social da Igreja. No Congresso não farei alusão a isso de maneira específica, mas falarei em geral sobre os acordos como um sinal de progresso na convivência.
Fala-se de 50 dissidentes cubanos presos. Queria reunir-se com eles?
Não tive notícias sobre prisões. Eu gosto de me encontrar com todos, todos são filhos de Deus, cada encontro enriquece. Estava claro que eu não teria aceitado nenhuma audiência privada, não apenas com os dissidentes, mas também com os outros, inclusive alguns líderes de Estado que tinham pedido uma. Sei que da Nunciatura foram dados alguns telefonemas a alguns dissidentes para dizer-lhes que, na chegada à Catedral de Havana, eu os teria saudado com gosto. Saudei a todos, mas ninguém se identificou como dissidente.
A Igreja católica pode ter um papel para ajudá-los?
A Igreja cubana trabalhou para fazer listas de prisioneiros que seriam favorecidos com o indulto, que foi concedido a mais de 3.000. Há outros casos que estão sendo estudados. Alguém me disse: seria bonito eliminar a prisão perpétua! É quase uma pena de morte oculta, tu estás aí morrendo todos os dias sem a esperança de libertação. Outra hipótese é que se façam indultos gerais a cada ano ou a cada dois anos. A Igreja trabalhou e está trabalhando para pedir indultos, e vai continuar a fazê-lo.
Quando Fidel estava no poder, a Igreja sofreu muito. Pareceu-lhe arrependido?
O arrependimento é algo muito íntimo, de consciência. Durante o encontro falamos sobre os jesuítas que ele conheceu. Levei-lhe como presente um livro e um CD do padre Llorente, seguramente ele os apreciará. Em relação ao passado, falamos apenas sobre o colégio dos jesuítas e sobre como o colocavam para trabalhar. Depois falamos muito sobre a encíclica Laudato si’. Ele está muito interessado no tema da ecologia e está preocupado com o meio ambiente. Foi um encontro informal, espontâneo.
Em poucos anos houve três visitas papais a Cuba. É porque “sofre” de alguma “enfermidade”?
Não. A primeira viagem de João Paulo II foi histórica, mas normal: visitou muitos países agressivos com a Igreja. A segunda visita foi a de Bento XVI, e também essa era normal. A minha foi um pouco casual, porque primeiro tinha pensado em entrar nosEstados Unidos pela fronteira com o México, a primeira ideia, Ciudad Juárez, o limite, não? Mas ir ao México sem visitarNossa Senhora de Guadalupe teria sido uma bofetada. Depois veio o anúncio de 17 de dezembro (o “degelo” entre Cuba eEstados Unidos, ndr.), após um processo de quase um ano. E disse: vamos aos Estados Unidos passando por Cuba. Não porque tenha “males” especiais que outros países não têm. Não interpretaria dessa maneira as três visitas. Eu, por exemplo, visitei o BrasilJoão Paulo II foi três ou quatro vezes, mas não tinha uma “enfermidade” especial. Estou contente por ter visitadoCuba.
Suas denúncias sobre a desigualdade do sistema econômico mundial provocaram reações de todo tipo: setores da sociedade estadunidense chegaram a se perguntar se o papa é católico...
Um amigo cardeal me contou que recebeu a visita de uma senhora, muito preocupada, muito católica, um pouco rígida, mas boa. E ela lhe perguntou se era verdade que na Bíblia se falava de um Anticristo. Depois lhe perguntou se falava de um antipapa. E quando ele lhe perguntou por que lhe fazia estas perguntas, ela respondeu: “Tenho certeza de que Francisco é um antipapa, porque não usa os sapatos vermelhos”. Em relação ao fato de ser comunista: tenho certeza de não ter dito nada além do que ensina a Doutrina Social da Igreja. Eu sigo a Igreja, e sobre isto creio não estar errado. Talvez algo tenha dado uma impressão um pouco mais “à esquerda”, mas seria um erro de interpretação. E se quiserem que recite o Credo, estou disposto a fazê-lo...
Na última viagem à América Latina, você criticou fortemente o sistema capitalista; em Cuba foi mais “soft” com o sistema comunista. Por quê?
Nos discursos em Cuba sempre fiz alusões à Doutrina Social da Igreja. As coisas que é preciso corrigir disse-as claramente, não de maneira “perfumada”. Em relação ao capitalismo selvagem, não disse mais do que escrevi na Evangelii Gaudium e na encíclica Laudato si’. Aqui em Cuba, a viagem era pastoral, minhas intervenções foram homilias. Foi uma linguagem mais pastoral, ao passo que na encíclica era preciso tratar de coisas mais técnicas.

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