Wednesday, May 18, 2016

Kasper: Desta vez o Pontífice surpreendeu também a mim. É correto discutir, mas já sei que será difícil sair do impasse

Kasper: Desta vez o Pontífice surpreendeu também a mim. É correto discutir, mas já sei que será difícil sair do impasse

Será uma batalha feroz; desde sempre sobre este tema a Igreja está dividida em duas.
“Creio que agora se abrirá um confronto feroz. Sobre este tema a Igreja está dividida em duas. Há quem defende que o diaconato permanente feminino seja um retorno ao que já estava em vigor na Igreja primitiva, e seja, portanto coisa legítima. E há, ao contrário, quem pensa que seja o primeiro passo para um futuro sacerdócio feminino e, por este motivo, não seja coisa percorrível”, afirmou Walter Kasper, cardeal alemão, em entrevista concedida a Paolo Rodari e publicada por Repubblica, 13-05-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
E o senhor, cardeal Kasper, de que lado está?
Não tenho uma posição minha que seja clara. Em todo o caso, estou sempre aberto e disponível para as novidades.
Walter Kasper, presidente emérito do dicastério que se ocupa das relações com os hebreus e as outras Igrejas cristãs, teólogo muito próximo a Francisco, comenta o anúncio do Papa de querer instituir uma comissão que estude a hipótese do diaconato permanente feminino na Igreja católica.
As duas posições se evidenciaram também no recente Sínodo sobre a família?
Houve quem convidou a Igreja a avaliar seriamente a possibilidade de dar o diaconato permanente às mulheres, porque este, como sustenta a tradição eclesial, não é orientado ao sacerdócio e sim ao ministério. Foi também solicitado nomear mulheres às cúpulas da Cúria romana. Mas não recordo particulares debates no mérito. O verdadeiro confronto, de resto, se houve tempos antrás, se concluiu depois sem nada de concreto.
O que aconteceu?
Em 2003, quando o cardeal Joseph Ratzinger era prefeito da Doutrina da fé, ocupou-se disso a Comissão Teológica Internacional. Chegou-se a dizer que verdadeiramente existiu um ministério de mulheres diáconas que se desenvolveu de maneira desigual nas diversas partes da Igreja. E que tal ministério não era entendido como o simples equivalente do diaconato masculino. Tratava-se de uma função eclesial, exercida precisamente por mulheres. A comissão, no entanto, não avançou para além disso, em particular sobre a pergunta se tal ministério era conferido com uma imposição das mãos. E deixou assim toda decisão nas mãos da autoridade da Igreja.
Francisco, a seu ver, que ideia tem?
Isto eu não posso saber. Em todo caso, ele quer um confronto, um estudo. E isto já é um passo importante. Também porque, de qualquer modo, dá voz àquelas mulheres que já desenvolvem, substancialmente, um trabalho de serviço no interior da nossa Igreja. Algumas delas solicitam explicitamente o diaconato. Portanto, por que não discuti-lo?
Crê que este novo estudo chegará a uma solução?
É muito difícil responder. Se olharmos oque sucedeu no passado, se tende a dizer que não. Mas tudo é possível. No fundo, foi o Concílio que solicitou um maior protagonismo das mulheres na Igreja. E por qualquer parte é preciso iniciar.
Sobre o que se focalizará o trabalho da comissão, uma vez instituída?
Creio que ainda haja diversas questões exegéticas a resolver. E que ocorrerá retornar aos Padres da Igreja, para ver realmente como era na origem e tentar partir dali. O risco, todavia, é que as posições diferentes levem a um impasse. Como, de fato, aconteceu no passado.
A seu ver, quem é contrário teme exatamente o que?
O diaconato é um grau da sagrada ordem, junto ao presbiterado e ao episcopado. Assim, é evidente que conceder este grau às mulheres poder ser visto como um grande risco da parte de quem não quer o sacerdócio feminino. Em suma, o risco do mal-entendido, do confundir depois efetivamente as mulheres diácono com os padres, existe. Aqui reside a grande diatribe, podemos chamá-la assim.
A abertura de Francisco o surpreendeu?
Papa Bergoglio surpreende sempre. Ele quer abrir na Igreja percursos de discernimento, processos de estudo também sobre os temas mais delicados e controversos. O cristianismo é um  acontecimento sempre novo que necessita de surpresas, de novas reflexões. Neste sentido, o Papa surpreende muito porque não se fixa no já conhecido, nos preconceitos, em argumentos que parecem ser já conhecidos aprioristicamente. Mas pede que se olhe além, para que seja o Espírito de Deus a guiar a sua Igreja de modo cada vez novo.

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